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Eu sou
Olhamos para o corpo
como algo nosso.
Afirmamos: “é o meu
corpo”, “meu coração”,
“minhas mãos” e muitas
outras frases
semelhantes. Percebemos
claramente que não somos
o corpo, mas alguém que
vive a experiência
através do corpo.
Idêntico à relação entre
nós e o carro. Vamos lá
dentro a conduzir,
quando necessário, mas
não somos o carro,
embora a vontade de lhe
dar direção tenha origem
em nós, o que faz com
que o comandemos.
Se não somos o corpo,
pelo menos à primeira
vista e de forma clara,
sobra a mente ou o ser
psíquico.
Aqui é que nós nos
confundimos e criamos
uma confusão enorme.
O corpo é subjugado pela
mente, cumprindo as
vontades desta, por isso
nos parece que a mente é
o ser.
O problema é que, quando
nos dedicamos a perceber
o que é a mente, nos
chocamos logo com a
ideia desta em relação
aos atributos que
conhecemos do Espírito,
que são muito poucos,
nascendo a enorme
confusão que temos sobre
nós.
Como respondem em O
Livro dos Espíritos,
o Espírito para nós nada
é, ou seja, não tem
atributos materiais e
emocionais que nos
possam ser explicados,
logo não entenderíamos.
O que sabemos do
Espírito?
Sabemos que foi criado
por Deus, mas não tem
fim, ou seja, é imortal.
O que é a mortalidade?
O corpo é mortal, terá o
seu fim. E o ser
psíquico?
Em certo sentido,
também. As pessoas são
ou recordam-se do ser
psíquico de uma outra
vida?
Da personalidade de uma
outra vida?
Não é o ser psíquico,
criado na vida atual,
com as medidas certas
para a necessidade do
aprendizado?
Numa próxima existência
posso falar outra
língua, estar inserido
em outra cultura, terei
outra educação, o que me
levará a uma vida muito
diferente.
O que entendemos como o
ser psíquico?
É a formação psicológica
que utilizamos para
viver. Nosso caráter,
nossa cultura, nosso
aprendizado e
experiências. Está em
constante mudança na
vida. Não somos hoje o
que éramos há uns anos,
por exemplo, na
juventude. Vejam a
diferença que existe
entre antes de conhecer
a Doutrina Espírita e
depois.
O que nasce em nosso
pensamento. Será que só
existe o pensamento?
Claro que não, embora o
estado de pensamento
seja quase a totalidade
de nosso tempo e, para
muitos, agindo de forma
aparentemente
inconsciente. É ele que
nos dirige, é ele que
nos forma.
Não quer dizer que tenha
de ser, mas é a forma a
que estamos habituados
há milhares de anos.
Não nos apercebemos dos
perigos disso; pensamos
que é indispensável à
vida, portanto não
colocamos esta forma de
funcionamento em causa e
até achamos que é fruto
apenas de nossa criação.
Deixou de ser uma
ferramenta nossa para
passar a ser nosso
senhor.
Sei que esta afirmação é
complicada para a
maioria, mas não é esta
doutrina uma ciência de
estudo? Não é só de
palavras, o mais
importante do estudo não
está nas palavras.
Só existe parte psíquica
quando existe movimento
psíquico, ou seja,
pensamento. Se
estivermos em silêncio,
sem pensamento, a olhar
o mar, nem lembramos
quem somos. No silêncio
mental nós existimos
mais intensamente, mas
não a parte psíquica.
Para a maioria parece o
mesmo, pois por raros
segundos estão em
silêncio e a seguir logo
vem o pensamento e
lembra: tenho de fazer
isto ou aquilo, ou já
estive em silêncio e
chega, e parece o mesmo
ser.
Veja esta enorme
diferença. Tente ser
orgulhoso sem usar o
pensamento. Tente ser
egoísta sem pensamento.
Mesmo os pequenos
impulsos mentais são
pensamentos.
Tente ser mal dissente,
sem pensamento, tente
sentir ódio, sem
pensamento.
No entanto não deixa de
existir. O que sobra
quando não tem
pensamento?
Será paz, amor e
felicidade em
determinado grau. Não
está agitado, não está
agressivo nem infeliz,
isso pertence tudo ao
pensamento. O que sobra?
Podemos afirmar que da
parte psíquica nascem os
problemas, as más
tendências, os
conflitos, nasce a
identidade terrena, o
caráter, toda a
estrutura psíquica, que
vai sendo armazenada na
memória.
Podemos afirmar que
somos muito mais do que
esta, existimos em
silêncio e se este for
mais do que alguns
segundos percebemos uma
vibração diferente.
Quando tentamos existir
em silêncio, percebemos
que o pensamento não é
uma ferramenta nossa,
mas aparece sem a nossa
vontade e que nós temos
seguido por este sem ter
força de o comandar. Ou
seja, quando agi, porque
a ação nasce depois do
pensamento, não sei se
foi por mim ou no
seguimento de um
pensamento automatizado,
e isto explica a enorme
confusão com que a
humanidade se depara.
Quando passamos a
existir em silêncio,
após o hábito permanente
e persistente do Vigiai
e Orai, passamos a usar
o pensamento como
instrumento, tornamo-nos
reis de nosso Reinado, e
o pensamento tem de ter
autorização para se
movimentar.
Esta conquista vem do
hábito da Vigia e não do
esforço de querer estar
sem pensar, pois isso é
impossível.
Só quando reconhecemos o
perigo que o pensamento
é e o que ele tem
causado à humanidade é
que entramos em
silêncio. É por não
querermos trazer mais
maldade ao meio humano.
“Conhecerás a verdade e
esta vos libertará”,
disse o mestre Jesus.
Algumas pessoas acham
que o pensamento também
traz amor, mas não é
verdade.
Atrás puderam ver que o
pensamento cria o ódio,
o orgulho e todas estas
emoções negativas, que
sem pensamento não
existem.
Reparem que este tem
muitos níveis psíquicos.
Se estiverem zangados ou
frustrados, embora possa
parecer que já não
pensam no que lhes causa
isso, perguntem-se se
estariam assim se não
tivesse acontecido. Isso
é sinal de que há um
pensamento materializado
em nós, que está
armazenado na memória,
mas que ainda está ativo
e nos mantém nesse
estado.
Se não existir qualquer
pensamento, como, por
exemplo, quando estão a
ouvir música, ou em
frente ao mar, o que
existe na consciência?
Pois estamos
verdadeiramente
conscientes.
Paz, amor e felicidade,
por isso, os sábios
afirmarem que é a nossa
natureza, o que existe
quando tudo para e nos
reencontramos em nós.
Depois o pensamento
tenta descrever esses
sentimentos, dando a
ideia de que também os
cria. Como é que aquele
que cria o ódio, o
orgulho, o egoísmo,
poderá criar também o
Amor? Não pode.
Não podemos agradar a
dois senhores…
Bruno Abreu reside em
Lisboa, Portugal.
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