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por Rogério Coelho

 

Esclarecimentos oportunos


A mediunidade não pode ser objeto de comércio, especulação ou meio de vida.


“O charlatanismo, e só ele, pode pretender a possibilidade de ter aberto um escritório de comércio com os Espíritos.”- 
Allan Kardec [1]


Quando nos entregarem um panfleto na via pública propagando serviços de um “médium-espírita” a tanto por cabeça, propondo revelar o passado, o futuro e resolver este ou aquele problema financeiro, emocional, sentimental, etc..., não deve existir a menor dúvida que se trata de charlatanice, que o Espiritismo absolutamente não abona.

Na verdade, tal pessoa não é médium-espírita, vez que o Espiritismo não é o proprietário particular da mediunidade e não se responsabiliza pelo seu mau uso. Mas, sem dúvida alguma, os Espíritos que porventura se manifestam através de médium-não-espírita-remunerado, são Espíritos e médiuns levianos. Nenhum Espírito Superior se prestaria a coadjuvar um médium-comerciante. A mediunidade seriamente praticada não se presta a esse tipo de coisa.

Francisco Cândido Xavier foi o modelo de médium-sério, visto que nunca cobrou nada de ninguém e através de sua abendiçoada mediunidade chegaram até nós mais de quatro centenas de livros ditados pelos Espíritos amigos; isso sem falar nas milhares de cartas de desencarnados que vêm, através dos canais mediúnicos consolar os que ainda estamos do lado de cá.

Jesus traçou os serviços, a serem prestados gratuitamente pelos médiuns ao proclamar[2]:  “(...) restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido".

Entende Allan Kardec[3] que o significado desta última frase é que “ninguém deve cobrar por aquilo que nada pagou. O dom da mediunidade que Deus dá gratuitamente para alívio dos que sofrem e como meio de propagação da fé, não pode ser objeto de comércio nem de especulação, nem de meio de vida.

Jesus expulsou os mercadores do templo. Condenou assim o tráfico das coisas santas sob qualquer forma. Deus não vende a Sua bênção, nem o Seu perdão, nem a entrada no Reino do Céu.   Não tem, pois, o homem, o direito de lhes estipular preço".

E complementa, ainda, o Mestre Lionês[4]“os médiuns atuais — pois que também os apóstolos tinham mediunidade — igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são frutos de  suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão pela qual a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte.  Fazê-la pagar seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo.

(...) O simples bom senso repele semelhante procedimento. Não seria também uma profanação evocarmos, por dinheiro, os seres que respeitamos, ou que nos são caros?!  É fora de dúvida que se podem assim obter manifestações; mas, quem lhes poderia garantir a sinceridade?

Os Espíritos levianos, mentirosos, brincalhões e toda a caterva dos Espíritos inferiores, nada escrupulosos, sempre acorrem, prontos a responder ao que se lhes pergunte, sem se preocuparem com a verdade. Ora, a primeira condição para se granjear a benevolência dos bons Espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material”.

O Espiritismo é ao mesmo tempo: ciência, filosofia e religião.  Existem muitas meias verdades e muitos interesses subalternos movimentados no sentido de vulgarizar e desmoralizar o Espiritismo, confundindo-o com outros tipos de crenças, principalmente com as originárias da mãe África.

É bom sempre lembrar e realçar que o Espiritismo, como corpo de doutrina, nasceu no ano de 1857, dia 18 de abril, na França, quando veio a lume a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”.

A Doutrina Espírita é o “Consolador” prometido por Jesus, que viria relembrar tudo que Ele ensinara e explicar as coisas que Ele não teve condições de revelar àquele tempo. Ela tem por precípua finalidade a melhoria das criaturas, ensejando-lhes as condições para alcançar a alforria espiritual por méritos próprios, realizando, assim, na prática, a profecia de Jesus, que postula:  “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".


 


[1] - KARDEC, Allan. Revue spirite. junho de 1868. Araras: IDE, 2000.

[2] - Mt., 10:8.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio: FEB, 2009, cap. XXV, I, item 2.

[4] - Idem, ibidem,  cap. XXVI, itens 7 e 8.

 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita