Que
dizer aos que, baseando-se na Bíblia, contestam
a veracidade dos fatos espíritas?
Podemos dizer a essas pessoas, em primeiro
lugar, que duvidamos de que elas tenham algum
dia estudado ou pelo menos lido os livros que
compõem a Bíblia. Dizemos isso porque o
profetismo em Israel, desde Moisés até o advento
do Cristianismo, foi um dos fenômenos
transcendentais mais notáveis da História.
Moisés era, como ninguém ignora, médium vidente
e auditivo, e foi graças a essas faculdades que
ele pôde ver e ouvir Jeová na sarça do Horeb e
no monte Sinai.
Os fenômenos mediúnicos em sua vida foram, por
isso, numerosos e expressivos. O condutor dos
hebreus ouvia vozes quando se inclinava diante
do propiciatório da arca da aliança e foi ele
quem recebeu no Sinai, escritos na lápide, os
Dez Mandamentos da Lei de Deus.
Médium inspirado, entoou um maravilhoso cântico
logo após a derrota de Faraó e, dotado da
faculdade de efeitos físicos, apresentou um
gênero especial de mediunidade – a
transfiguração luminosa – quando, ao descer do
Sinai, trazia na fronte uma auréola de luz.
Esdras reconstituiu integralmente a Bíblia que
se havia perdido, com o auxílio de um Espírito.
Todo o livro de Jó é recheado de elucidações e
inspirações mediúnicas e sua própria vida,
atormentada por Espíritos infelizes, é um
assunto que merece estudos acurados.
Samuel, outro profeta judeu, quando dormia no
templo foi muitas vezes despertado por vozes que
o chamavam, falavam-lhe no silêncio da noite e
anunciavam-lhe as coisas futuras. E foi ele
quem, depois de sua morte corpórea, foi
lembrado e evocado pelo rei Saul, que passava na
ocasião por um momento de grande aflição.
Assim está registrado na Bíblia:
Ao ver o acampamento dos filisteus, Saul
inquietou-se e teve grande medo. E consultou o
Senhor, o qual não lhe respondeu nem por sonhos,
nem pelo urim, nem pelos profetas.
O rei disse aos seus servos: Procurai-me uma
necromante para que eu a consulte. Há uma em
Endor, responderam-lhe.
Saul disfarçou-se, tomou outras vestes e pôs-se
a caminho com dois homens. Chegaram à noite à
casa da mulher.
Saul disse-lhe: Predize-me o futuro, evocando um
morto; faze-me vir aquele que eu te designar.
Respondeu-lhe a mulher: Tu bem sabes o que fez
Saul, como expulsou da terra os necromantes e os
adivinhos. Por que me armas ciladas para
matar-me?
Saul, porém, jurou-lhe pelo Senhor: Por Deus,
disse ele, não te acontecerá mal algum por causa
disso.
Disse-lhe então a mulher: A quem evocarei?
Evoca-me Samuel.
E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande
grito: Por que me enganaste?, disse ela ao rei.
Tu és Saul!
E o rei: Não temas! Que vês?
A mulher: Vejo um deus que sobe da terra.
Qual é o seu aspecto?
É um ancião, envolto num manto.
Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se
com o rosto por terra.
Samuel disse ao rei: Por que me incomodaste,
fazendo-me subir aqui?
Estou em grande angústia, disse o rei. Os
filisteus atacam-me e Deus se retirou de mim,
não me respondendo mais, nem por profetas, nem
por sonhos. Chamei-te para que me indiques o que
devo fazer. (1
Samuel 28:5-15)
A história da mediunidade dos antigos profetas
atingiu, contudo, a culminância com a vinda de
Jesus.
A passagem do Mestre pela Terra revela, em
inúmeras ocasiões, seu intercâmbio constante com
o Plano Superior, seja em colóquios com os
emissários de alta estirpe, seja dirigindo-se
aos aflitos desencarnados, no socorro aos
obsidiados do caminho, como também na equipe de
companheiros, aos quais se apresentou em pessoa,
depois da morte.
Depois, os próprios discípulos conviveriam com o
fenômeno mediúnico, especialmente a partir dos
extraordinários acontecimentos registrados no
dia de Pentecostes que se comemorou poucas
semanas depois da Páscoa da ressurreição. Como
lemos no livro de Atos dos Apóstolos (cap. 2,
versículos 1 a 13), os apóstolos que se
mantiveram leais ao Senhor converteram-se em
médiuns notáveis, ocasião em que, associadas as
suas forças, os emissários espirituais de Jesus
produziram, por meio deles, fenômenos físicos em
grande quantidade, como sinais luminosos e vozes
diretas, além de fatos de psicofonia e
xenoglossia, em que os ensinamentos do Evangelho
foram ditados em várias línguas,
simultaneamente, para os israelitas de
procedências diversas.
Por fim, não podemos esquecer que, momentos
antes da prisão de Jesus, que o levou à
crucificação, o Mestre e três discípulos
receberam a visita de Moisés e Elias, como o
evangelista Marcos registrou da seguinte forma:
Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro,
Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto
monte. E transfigurou-se diante deles. Suas
vestes tornaram-se resplandecentes e de uma
brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra
as pode fazer assim tão brancas.
Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com
Jesus.
Pedro tomou a palavra: Mestre, é bom para nós
estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti,
outra para Moisés e outra para Elias. (Marcos
9:2-5)
Os fatos aqui lembrados são uma pequena mostra
do que a Bíblia nos apresenta, mas que julgamos
suficiente para lembrar aos que nos leem que as
escrituras podem ser consideradas uma obra
mediúnica, em que notícias do intercâmbio com os
chamados mortos são mais comuns do que se pensa.