CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Está tudo bem...
Cá estamos.
Sentada diante
do laptop, lanço
uma vista d’olhos
para os últimos
dias de festas,
anteriores a
esta tarde
bucólica de
segunda-feira. E
vou me
recordando:
aconteceram
algumas
altercações com
meu filho mais
velho. Coisa
entre mãe e
filho
adolescente,
semelhante a
nuvens de
tempestade,
barulhentas e
passageiras.
Depois, as
nuvens vão se
dispersando.
Mudamos de
assunto. Rimos e
brincamos. Os
acontecimentos
mudam. Os céus
mudam. Os nossos
ânimos também...
Um cinema
anteontem; um
filme que,
comparado ao
inspirador
Avatar, me
provoca agora
arrependimentos
por tê-lo visto.
Não gosto de
filmes que me
deixam
deprimida, e
este Contatos
de 4º. Grau
só me atraiu e
foi justificado
pela minha
ligação,
ultimamente um
tanto
involuntária,
com a ufologia.
Todavia, ontem,
também, um
almoço no sítio
de meus tios.
Evento bom,
gostoso.
Alimento para o
espírito, num
dia ensolarado,
depois de todo o
aguaceiro do
final de ano...
O aguaceiro do
final de ano; o
assunto da hora!
De toda a
tristeza exibida
ainda à farta no
noticiário
ficou-me, até
agora, a imagem
da senhora
entrevistada,
morena e
risonha.
Indicando os
familiares
agrupados no
abrigo onde
muitos se reúnem
à espera dos
arremates da
tragédia e da
hora de enfim
seguirem em
frente, ela fala
para a repórter,
nada desanimada.
Resignada?
Reconfortada?!
Caros – ela nos
parece quase
feliz! –,
dizendo, o
sorriso
embelezando a
serenidade sábia
de seu rosto
talvez marcado,
quando muito,
por um tanto de
cansaço:
– Estamos
todos aqui,
reunidos! –
e vai
identificando um
por um: um bebê
adormecido num
leito
improvisado,
outros que a
rodeiam. –
Aquele é fulano,
este é cicrano.
Estamos todos
aqui, juntos!
Está tudo bem!
– confirma.
E ela é
convicta!
Convincente,
diante de nós,
cá do conforto
dos nossos sofás
assistindo tudo
aquilo,
estatelados.
– Está
tudo bem!
Estamos todos
aqui, juntos!...
Sim. Diante de
tantas perdas
dolorosas.
Famílias
inteiras
arrasadas,
desfeitas;
grupos de amigos
a passeio,
encontrando a
morte em meio ao
entretenimento,
àquilo que
deveria ser o
grande momento
de alegria e de
descontração, de
esperanças
renovadas e de
felicidade com
os festejos de
réveillon
em Angra dos
Reis!
Tantos sem casa,
sem arrimo. Sem
família. Sem
nada! Apenas a
roupa do
corpo!...
Mas aquela
senhora - é
visível! - se
sente a mais
rica, a mais
abençoada das
criaturas! Sinto
em mim mesma o
por quê. Todos
sentimos,
facilmente!
– Estamos
todos juntos
aqui! Graças a
Deus, está
tudo bem!...
E eu aqui,
sentada, me
lembrando do ano
que acabou;
cheguei a
comentar estes
dias que foi,
desta primeira
década do
milênio, o ano
mais difícil,
por razões
várias, de ordem
pessoal, e por
tantos, e por
tantas outras
causas, exibidas
na retrospectiva
televisiva:
gripe suína;
doenças
corriqueiras;
pequenos
acidentes de
percurso;
guerras;
violência; o
metrô
superlotado, a
canseira diária;
a preocupação de
toda mãe com
seus filhos...
Todavia, de
entremeio, todos
estes lances e
desafios
cotidianos
devidamente
superados!
Um novo livro
lançado; novos
amigos, novas
descobertas;
momentos de
descontração, em
família ou no
trabalho. Saúde
num minuto
perdida, noutro
recuperada, e
ainda sob a
égide infalível
dos amigos
incansáveis das
dimensões da
invisibilidade!
Renovação de
ânimo, renovação
dos dias!
Recuperação de
forças!...
Tudo na Vida é
sempre jovem –
andei observando
durante a viagem
de volta do
sítio, ontem! As
árvores antigas
com nova
roupagem verde;
os campos; as
flores que
reflorescem, as
células de nosso
corpo; o sol
que, no seu
rodopio
inexorável,
diariamente
retorna...
Tudo sempre e
sempre redivivo!
Desta ótica,
lembro-me de já
ter reencarnado,
ainda em vida,
pelo menos umas
trinta vezes! A
jovem que não
era mais a
criança
dependente. A
jovem ainda mais
à frente, que já
mudara de
gostos, e
aprendera um
pouco mais. A
mulher que se
formou e
trabalhou, e
continua
estudando e
trabalhando, e
descobrindo e
recriando tudo à
sua volta, e em
si mesma, a cada
dia, a cada
minuto...
sempre!...
E quem era mesmo
aquela, de mais
de trinta anos
atrás?!...
E então desfila
à retina
espiritual,
hipnoticamente,
tudo o que já se
foi: todas as
amarguras e
decepções e
surpresas
agradáveis e
desagradáveis.
Em relação a
tudo em volta, e
em mim mesma,
que veio e se
foi como as
ondas
ininterruptas
quebrando no
mar, e como as
nuvens que se
desfazem,
plácidas, nos
céus azuis dos
dias
ensolarados, ou
nas tardes de
tormentas
devastadoras,
deixando só
ruínas nos seus
rastros. Ruínas
do que fomos, do
que temos, e do
que fizemos...
Ruínas daquilo
que não somos -
que não seremos
nunca mais!...
E em meio aos
destroços de nós
mesmos, emerge à
tona de nossa
consciência,
quando
devidamente
desperta, e em
momentos de
grande bênção e
luz interior, a
constatação
fática - serena,
plena, liberta!
– como o jorrar
fresco das
fontes perenes
de refazimento,
a partir das
origens
límpidas,
ignotas, dos
nossos estados
mais gratos de
alma:
– Está
tudo bem!
Estamos aqui,
todos juntos!...
Que Deus abençoe
aquela senhora
de cujo nome não
me recordo, não
importa, por ser
a portadora de
tão grande lição
para todos,
justo em momento
de tanta
desolação –
renovando-lhe as
forças e a
disposição;
sustentando-lhe
o ânimo para os
próximos dias de
reconstrução e
de renascimento,
como tem feito
conosco, agora,
e a qualquer
tempo:
– Está
tudo bem!
–
Estamos todos
aqui, juntos...
para o que der e
vier!...
Um 2010
vitorioso para
todos nós!