EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Gaiola dos
belos: um culto
à rigidez das
máscaras
Há um culto
narcisista de
uma beleza
exclusivamente
exterior que
permeia a
sociedade
contemporânea,
infligindo danos
e sofrimentos.
Não é de hoje
que somos
submetidos a
padrões
estéticos
predefinidos e,
sem trégua,
proliferam
clínicas de
estética e
tratamentos “antiestria”,
“anticelulite”,
“anti-idade”,
como se
envelhecer não
fosse
simplesmente
“passar”...
Sem dúvida, a
vaidade e o
cuidado com a
saúde são temas
importantes da
vida, mas isso
se torna um
problema quando
há uma
supervalorização
desses aspectos.
Não é raro que
esse excesso de
zelo com a
beleza esteja a
serviço de
determinada
evitação da
realidade ou de
sentimentos de
frustração,
dificuldades,
inseguranças,
feridas
profundas e
dores
reprimidas,
ignoradas.
Basta notarmos a
incidência cada
vez maior e mais
precoce do
número de casos
de transtornos
alimentares e
depressões.
Sabemos, por
exemplo, que a
aneroxia é algo
muito presente,
atingindo
mulheres e
homens,
sobretudo
adolescentes, e
isso para
estarem de
acordo com um
padrão estético
propagado e que
não respeita a
individualidade
e a pluralidade.
É nítido que se
essas patologias
têm como causa
dificuldades
internas muito
profundas e
fortemente
nutridas pela
normose da
estética, que,
aqui, chamarei “gaiola
dos belos”.
Fico pensando o
quanto a
padronização (e
a valorização)
desses atributos
externos está
enraizada em
nossa cultura e,
por derivação,
em nossos
comportamentos
cotidianos.
Desse modo, nos
privamos de
olhar para o que
realmente
importa: a
beleza original
e que
transparece na
nossa aparência,
revelando a
singularidade da
presença do Ser
que habita cada
um de nós!
Afinal, o que é
a beleza? Sob o
ponto de vista
dos helenos
não havia beleza
cindida da
verdade e da
bondade.
Ora, somente a
partir de uma
estética pautada
na ética
poderemos
ressignificar
nossas (vazias)
concepções sobre
a beleza,
inflexivelmente
orientada, em
nossa época,
para ritos e
cultos
narcisistas. Em
consequência,
nos permitiremos
experimentar a
sadia
possibilidade de
se conviver
harmoniosamente
consigo mesmo e
com as
diferenças sem o
peso dos padrões
estéticos – uma
alternativa à
consciência de
alteridade e
à beleza
original,
que faz de cada
ser humano um
“modelo” único.