Boneca
Narcisa Amália de Campos
Boneca!... Era uma vez a
bonequinha humana,
Borboleta a voejar, sob
véus de neblina,
Primavera de sonho e
graça matutina,
Transfundidas na carne
em rósea filigrana...
Bela e ardente, dançou,
qual brejeira cigana,
Nos laços da ilusão que
se adensa e esborcina;
Mulher, envelheceu
disfarçada em menina,
Alegre bibelô na ribalta
mundana.
Nem renúncia no amor,
nem lar de que se
importe.
Mas, bailando febril,
encontra, um dia, a
morte,
Na dor que lhe crepeia o
coração e a estrada...
A libélula cai sobre o
charco profundo
E, no visco de lama,
ouve apenas do mundo :
– “Boneca!... Era uma
vez a boneca doirada!”
Poetisa de grande
formosura, cronista e
tradutora, Narcisa
Amália de Campos nasceu
em S. João da Barra,
Estado do Rio, em 3 de
abril de 1852 e
desencarnou na cidade do
Rio de Janeiro em 24 de
junho de 1924. Depois de
residir em Resende,
passou para o Rio de
Janeiro, onde se
consagrou ao magistério,
até que veio a
desencarnar, cega e
paralítica, com 72 anos
de idade. O soneto
acima integra o livro
Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.