Último instante
Manuel
da Silva Lobato
Tudo parece agora o
termo do caminho...
O velho carrilhão bate
as horas na sala:
É a palavra do tempo ao
coração que estala,
Afirmando, cruel, que
partirei sozinho.
Lá fora, ruge o vento
ululante e escarninho.
Fito, além da janela. O
céu de cinza e opala...
“Adeus! Adeus!
Adeus!...” – geme o
peito sem fala,
Algemado à aflição de
estranho pelourinho.
Desce, torva, no olhar,
a noite em que me
espanto,
Resume-se a existência
às gotas de meu pranto.
Silêncio, sombra,
nada... A morte a
despedida...
Mas subido clarão rasga
as trevas do quarto.
Ai! o corpo é grilhão de
que enfim, me descarto,
Para exaltar, cantando,
o esplendor de outra
vida!
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