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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 194 - 30 de Janeiro de 2011

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br

Matão, São Paulo (Brasil) 

 

Uso da Escala Espírita


Sabemos todos, pelo estudo da Escala Espírita, apresentada por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (questão 100 e seguintes), que os Espíritos pertencem a diferentes estágios de moralidade e intelecto, estágios esses alcançados pelo próprio esforço e pela força do progresso, que é lei para todos. O entendimento prévio da importante classificação apresentada pelo Codificador evita possíveis decepções quanto às manifestações, fenômenos e pseudo-orientações apresentadas no intercâmbio com os encarnados. Uma vez sabedores dessas diferenças, estaremos prevenidos contra tentativas de mistificação e fraude por eles arquitetadas. E igualmente estaremos demonstrando um bom nível de discernimento na recepção de orientações que surjam através de médiuns.

Na Revista Espírita1, de julho de 1859, no Pronunciamento do Encerramento do ano social 1858-1859, feito por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, dentre os vários assuntos focados, destacamos trecho de máxima importância para nossas reflexões: “(...) saibam, pois, que tomamos toda opinião manifestada por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de tê-la submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência Espírita nos fornece, meios que todos vós conheceis. (...)”.

Observemos a curiosa observação de Kardec: “controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência Espírita nos fornece”. A lógica sugere e solicita que tudo que venhamos a receber dos Espíritos, por via mediúnica, seja submetido à avaliação do raciocínio, do bom senso. Se escapar deles, que seja rejeitado.

Como orienta Erasto: “(...) Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. (...)” (capítulo XX, item 230 de O Livro dos Médiuns.)

Sob o ponto de vista da investigação, eis aí um critério que qualquer estudioso espírita pode usar com tranquilidade: basta observar atentamente o que ocorre à nossa volta ou que venha dos Espíritos. A investigação, sugerida pela Ciência Espírita, é exatamente submeter todos os fenômenos e ocorrências mediúnicas (e até mesmo anímicas2, acrescentamos) ao critério dos fundamentos e princípios apresentados pelo Espiritismo. Estão coerentes? Ferem os fundamentos doutrinários?  Sem esquecer que, simultaneamente, podemos também efetuar pesquisa, através de anotações, acompanhamentos e métodos de experimentação.

São, pois, controles bem seguros: uso da  lógica e investigação dos fatos. Estes são a comprovação daquilo que se pesquisa ou se busca. A lógica, por sua vez, coloca frente a frente o fato com a referência que o raciocínio oferece, sempre como fruto da observação, da experiência e da própria história e fundamentação dos reais fenômenos das manifestações dos Espíritos.    

Apoiados nestes dois critérios, não há o que temer, desde que nos desarmemos da negação simplesmente por negação, das implicâncias e preferências de ordem pessoal e nos coloquemos no neutro terreno de quem quer conhecer e aprender, descobrir e investigar pelo prazer de aprimorar o conhecimento.

É oportuno recordar que Cairbar Schutel – fundador do jornal O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo –, no livro Médiuns e Mediunidades3, justamente estudando a questão mediúnica e com embasamento em O Livro dos Médiuns, traz importante esclarecimento.

Na Exposição Preliminar, Cairbar declara: “(...) em vez de ser uma explanação, com larga dissertação de O Livro dos Médiuns, esta obra é dele um resumo. (...) O Espiritismo, exposto aos leitores em síntese, tal como o fazemos, proporciona duas vantagens bem nítidas: primeira, a de dar àqueles que nos leem a expressão nítida, clara, racional da sua doutrina, que abrange as esferas religiosa, filosófica e científica; segunda, a de guiá-los a mais altos empreendimentos, infundindo-lhes nas almas o desejo de aprofundar a Revelação nova, que veio iniciar uma nova era no progresso dos povos. Tal é nosso intuito ao lançar à publicidade este livrinho, em cujas páginas, estamos certos, os leitores encontrarão alguma coisa de proveito (...)”.

É o que nos ensina também a atenta observação nos estudos com a Escala Espírita, indicando os diferentes estágios de progresso dos Espíritos, progresso esse que pode ser estimulado de forma abrangente com a difusão do Espiritismo.

 

 

Notas:

1.  2ª edição (1995) do IDE-Araras, tradução de Salvador Gentile. O destaque em negrito é do autor da presente abordagem.

2. Vide capítulo VI da segunda parte, na citada obra.

3. Edição da Casa Editora O Clarim, de Matão (SP).



 


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