MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
16)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Marita tentou adquirir veneno uma farmácia, com o propósito
claro de se matar. O
farmacêutico
forneceu-lhe a droga?
Não. Sob a influência do instrutor Félix, ele percebeu qual era o
real objetivo da jovem e
forneceu-lhe somente
comprimidos calmantes,
de potencialidade suave,
que, se ingeridos por
ela, funcionariam
beneficamente,
proporcionando-lhe sono
reparador. (Sexo e Destino, capítulo XIV, pp. 165 a 167.)
B. Por que Marita despertou de repente e começou a andar,
cambaleante, pela via
pública, sob risco real
de ser atropelada?
Ela ingeriu os
comprimidos e dormiu.
Além disso, recebeu
passes reconfortantes
ministrados por Félix.
Bem cedo, quando
despontava o dia, um
gari asselvajado largou
a rua e caminhou na
direção dela,
sacudindo-a e dizendo:
"acorda, vagabunda",
"acorda, vagabunda", o
que fez com a jovem
despertasse e saísse,
sem rumo, a caminhar
pela via pública.
(Obra citada, capítulo XIV, pp. 167 a 169.)
C. Ao ser atropelada, Marita faleceu no mesmo ato?
Não. O irmão Félix, que
assistiu a toda a cena,
sentou-se no asfalto e,
aplicando vigorosos
estímulos magnéticos
sobre a cabeça da jovem
acidentada, fê-la cobrar
energias para ganhar,
mecanicamente, o
decúbito dorsal, a fim
de que respirasse indene
de maiores dificuldades.
Marita aquietou-se,
embora André tivesse a
nítida impressão de que
a base do crânio da
infeliz criatura tinha
sido fraturada. O
falecimento ocorreria
dias depois.
(Obra citada, capítulo XIV, pp. 169 a 170.)
Texto para leitura
76. O desprezo de
Gilberto abala a jovem
- Nesse ponto da
conversa, Marita
baqueou e debruçou-se na
cantoneira, inabilitada
a retomar o fone, à
vista dos soluços que
lhe rebentavam no peito.
Diz André que era
possível escutar,
nitidamente, a voz de
Gilberto, a distância,
gritando: "Marina,
Marina! diga o que há,
diga, diga!..." Com a
mão encharcada de
lágrimas, Marita repôs o
fone no gancho, com a
tristeza de quem
cerrava, em definitivo,
as portas do coração.
Com esforço,
reconstituiu, quanto
possível, a
tranquilidade
fisionômica e tornou à
sala, onde dona Cora lhe
serviu um café, que
aceitou, constrangida.
Conversa vai, conversa
vem, a amiga
estranhou-lhe o
abatimento, a palidez,
os olhos que não
cessavam de chorar.
Marita explicou-se,
ensaiando um sorriso
que não chegou a
debuxar-se. Alegou-se
gripada. Tinha coriza
renitente, coriza brava,
e precisava mesmo passar
na farmácia próxima,
onde, na sequência, o
senhor Salomão a atendeu
paternalmente. O velho
farmacêutico
examinou-lhe a língua e
aplicou o termômetro,
sem encontrar nenhuma
febre. Aconselhou-a,
então, a ir para casa,
descansar. Não deveria
aceitar serviço extra,
até aquela hora da noite
– comentou, bonachão –,
e acrescentou que ela
facilmente encontraria
remédios para comprar,
mas não a saúde. A jovem
recolheu a aspirina que
ele receitou para
nevralgia e fez o gesto
típico de quem se
prepara para retirar-se,
voltando, porém, à
carga, aparentando
recordar uma
providência esquecida.
"Salomão – disse-lhe a
moça –, não sei se você
está lembrado de Joia, a
minha velha cadelinha,
que os meninos algumas
vezes abraçaram na
praia..." O boticário
disse lembrar-se de
Joia, perfeitamente.
"Pois é – prosseguiu
Marita, afetando pena –
nossa pequena Joia está
no fim..." E informou ao
farmacêutico que a
cadela contraíra uma
doença incurável, que a
fazia gritar sem pausa,
num verdadeiro martírio.
Segundo o veterinário,
Joia estava condenada.
(Cap. XIV, pp. 163 a
165)
77. Marita prepara
o suicídio -
Prosseguindo, Marita
disse que o bichinho se
tornara problema no
apartamento. O síndico
reclamara. Os vizinhos
andavam contrafeitos. Os
pais aguardavam que o
veterinário amigo
voltasse de São Paulo, a
fim de que se aplicasse
a eutanásia; entretanto,
haviam autorizado tanto
a ela, quanto à irmã, o
emprego de algum remédio
que pudesse trazer-lhe o
descanso final. Não
teria o farmacêutico
algumas pílulas
adequadas? Ouvira dizer
de comprimidos que,
administrados em dose
alta, propiciavam a
morte, absolutamente sem
dor; no entanto não lhes
conhecia o nome. O
senhor Salomão, sem
qualquer prevenção,
confirmou. Sim, era
provável que tivesse no
estoque alguns desses
anestésicos de elevada
potência e salientou
que, se a cadelinha fora
condenada pelo
veterinário, não deveria
ser conservada.
Convencido, pois, pelas
informações da moça,
dirigiu-se a pequeno
depósito, a procurar
ditas pílulas. Félix e
André aproximaram-se,
então, do boticário e o
abordaram mentalmente. O
benfeitor rogou-lhe
examinasse a situação.
Fitasse aquela menina,
fatigada e só, além das
dez da noite, longe de
casa. Despenteada,
olheiras fundas, sem
bolsa, sem agasalho.
Ele, Salomão, era pai e
avô sensível. Não desse,
pois, orientação em
torno de venenos.
Tivesse cuidado.
Sossegasse aquela
criança abatida com
algum soporífero,
iludindo-a. Mentisse por
piedade, mostrasse
compaixão, adiando
entendimento mais claro
para depois. Salomão
assimilou com facilidade
os apelos e se
enterneceu. Mirando a
jovem, sem que esta o
visse, pela porta
semicerrada, espantou-se
ao vê-la mais
atentamente, porque
Marita se lhe afigurava
uma peça do museu de
cera, amarrotada,
inerte. "Oh! meu Deus –
refletiu ele,
desconsolado – , isso
não é coriza, isso é dor
moral, dor
terrível!..." O
farmacêutico parou a
pesquisa iniciada e
sacou de largo
recipiente de vidro
alguns sedativos comuns
e, tornando à presença
da moça, asseverou: "São
estes. Para a
cachorrinha, no estado
de que você fala, basta
um". "Tão violento
assim?", perguntou a
jovem. "Isso é uma bomba
de aplicação muito
rara", afirmou o
boticário, alegando,
porém, que só poderia
fornecer o produto ante
a receita médica. A
responsabilidade
pesava-lhe, muito
grande. Marita,
evidentemente, insistiu.
Que o farmacêutico não
duvidasse. O veterinário
assinaria o papel. O
boticário refletiu,
refletiu... E, voltando
ao depósito, escolheu
dez comprimidos
calmantes, de
potencialidade suave,
que, se ingeridos por
ela, funcionariam
beneficamente,
prodigalizando-lhe sono
reparador. (Cap. XIV,
pp. 165 a 167)
78. Félix vale-se
de acupuntura magnética
- Marita agradeceu e
despediu-se de Salomão,
que lhe recomendou
repouso, juízo.
Vagarosa, a moça
atravessou dois
quarteirões pela frente,
ganhou a Avenida
Atlântica e acolheu-se
num bar, onde solicitou
um copo de água simples,
sem gás, em recipiente
de plástico. Prontamente
atendida, transpôs o
asfalto e dirigiu-se à
praia, acomodando-se no
lugar que lhe pareceu
mais escuro. Aspirava a
morrer ao pé do mar,
daquele mar sereno e bom
que nunca a enjeitara.
Antes do gesto que
considerava supremo,
recordou a mãezinha que
não conhecera. Rememorou
as manhãs felizes em que
desfrutara, ali mesmo,
tantas vezes, o ar puro
que vinha das águas e o
agasalho do Sol.
Classificava-se por lixo
da terra e supunha
desafogar a todos,
renunciando à
existência. Lamentou-se
e chorou, longo tempo,
enquanto Félix e André
esperavam que dormisse
para cuidarem dos
problemas que
eventualmente surgissem.
Marita despejou os dez
comprimidos na boca e
engoliu-os de um sorvo
com água pura. Brando
torpor anestesiou-a. O
relógio assinalava
cinquenta e cinco
minutos depois da
meia-noite. Félix orou
por instantes e dois
rondantes desencarnados
apareceram, ofertando
serviço. Félix aceitou,
reconhecido, e, enquanto
os recém-chegados
passaram a velar pela
jovem, ele e André
empreenderam a tarefa
restaurativa, para que a
jovem não se afastasse,
em espírito, do corpo
desgovernado. Foram-lhe
aplicados, então, passes
reconfortantes nos
centros de força,
estímulos variados em
diversas seções do campo
cerebral e insuflações
nos vasos sanguíneos. As
operações se
desenvolveram minuciosa
e demoradamente, e Félix
utilizou até mesmo
acupuntura magnética do
plano espiritual, em que
patenteava notável
mestria. Quase quatro
horas foram despendidas,
ao fim das quais Marita
repousava,
tranquilamente. Dava
para ver nos olhos do
benfeitor a esperança
luzindo, quando, de
repente, um gari
asselvajado largou a rua
e caminhou na direção de
Marita, sacudindo-a e
dizendo: "acorda,
vagabunda", "acorda,
vagabunda". (Cap. XIV,
pp. 167 a 169)
79. Marita é
atropelada - As
palmadas do gari
estalaram no rosto de
Marita, que abriu os
olhos, estarrecida.
Atordoada, perguntava a
si mesma se teria
morrido, se estaria no
inferno renteando com um
demônio... Intentou
gritar, mas a garganta
esmorecera. Mesmo assim,
ergueu-se, aterrada, e
aligeirou o passo,
cambaleante. Superando
embaraços, ganhou a
calçada em que um banco
orvalhado convidava ao
repouso, mas não
dispunha de serenidade
para assimilar as
sugestões de Félix e
André. Atarantada,
seguiu caminhando,
indiferente aos sinais
do trânsito. Os
automóveis, as lambretas
e os pedestres que
passavam, em correria,
indicavam o início de um
novo dia. André e o
benfeitor seguiram a
pobre menina,
contundidos, porém, por
amargos presságios. O
irmão Félix, educador
venerando, de repente
descia aos saracoteios
da via pública, para
salvar uma criança
querida. André, com
simpatia e respeito,
acompanhava, penalizado,
o grande instrutor que
se apequenava e se
afligia por ajudar...
Rapazes semiembriagados
numa esquina próxima, ao
verem Marita vacilante,
gargalharam, supondo-a
alcoolizada. Motoristas
apressados gritavam-lhe
injúrias e, sem que
aparecesse alguém que a
sustentasse no
atordoamento que lhe
impunha reiterados
tropeções, Marita foi
colhida e projetada a
pequena distância, por
um veículo em alta
velocidade, qual trapo
de carne que se
arremessasse,
violentamente, no chão.
O carro chispou,
transeuntes acorreram. A
cabeça da jovem batera
contra uma pedra e, em
seguida a curta
reviravolta, caíra de
bruços. André, atônito,
não sabia como proceder.
Todavia, entre os
clamores de quantos
apelavam para o socorro
policial, irmão Félix
sentou-se no asfalto e,
aplicando vigorosos
estímulos magnéticos
sobre a cabeça da menina
acidentada, fê-la cobrar
energias para ganhar,
mecanicamente, o
decúbito dorsal, a fim
de que respirasse indene
de maiores dificuldades.
Marita aquietou-se, mas
André teve a nítida
impressão de que a base
do crânio da infeliz
criatura tinha sido
fraturada. (Cap. XIV,
pp. 169 e 170)
80. Félix roga a
Deus pela moribunda
- O irmão Félix, na
atitude dos pais
profundamente humanos e
sofredores, acomodou-se
de tal modo que a cabeça
da jovem se lhe estendia
no regaço. Erguendo as
mãos sobre as narinas
em sangue, levantou os
olhos e orou em voz
alta: "Deus de Infinito
Amor, não permitas que
tua filha seja expulsa
da casa dos homens,
assim, sem nenhuma
preparação!... Dá-nos,
Pai, o benefício do
sofrimento que nos
consinta meditar! O'
Deus de amor, mais uns
dias para ela, no corpo
dolorido, algumas horas
só que sejam!..." Dito
isto, o instrutor
calou-se, como qualquer
criatura terrestre
machucada de angústia, e
pediu a André fosse até
o apartamento dos
Nogueiras, para ver o
que seria razoável
obter, no tocante a
medidas de auxílio. Que
procurasse Cláudio ou
Márcia e lhes suplicasse
apoio, compaixão. Ele,
Félix, inspiraria alguém
a telefonar. Ao vê-lo
assim humilhado na
abnegação de que dava
testemunho, André
retirou-se à pressa, não
só para atender à
incumbência, mas também
para desabafar-se. Às
vezes – diz André –, é
preciso que as lágrimas
nos sirvam de
confidentes, quando não
haja alguém que nos
ouça... Antes de sair,
ouviu muitas vozes que
se elevavam, exclamando:
"morta!... morta!...".
Incapaz de sopitar as
lágrimas, voltou-se para
contemplar no rosto do
irmão Félix o efeito de
semelhante notícia,
concluindo que tudo
estava acabado. Mas
vigoroso impacto de
esperança lhe banhou o
coração!... E lhe veio a
ideia de que fontes
imponderáveis de energia
jorravam do firmamento
claro e estrelado sobre
aquele recanto de
Copacabana, que o mar
acariciava de perto,
como a rogar-lhe
confiança em Deus, na
linguagem ciciante das
ondas!... Não!... A
batalha não arrefecera!
Eles tinham consigo o
suprimento do amor e a
luz da oração e, por
isso, nem tudo estava
perdido... (Cap. XIV,
pp. 171 e 172)
(Continua no próximo
número.)