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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 330 - 22 de Setembro de 2013

ANDRÉ LUIZ ALVES JR.
locutorandreluiz@hotmail.com
Curitiba, PR (Brasil)

 
 



Ressurreição ou reencarnação?

"Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo." (Jo, 3,1-8)


 
Os termos são distintos e fundamentam filosofias religiosas divergentes. Os que acreditam no primeiro ignoram o segundo e vice-versa. Antes de mais nada, é necessário explicar o significado de cada um deles:

Ressurreição

A palavra ressurreição deriva do latim resurrectio, que é uma variação de resurgere e significa levantar-se, erguer-se novamente, ressurgir. Na linguagem bíblica, a ressurreição indica o retorno do espírito a um corpo considerado morto, ou seja, aquele que se foi volta a viver.

O caso de ressurreição de maior visibilidade é o que diz respeito a Jesus, o qual, segundo a tradição, ressurgiu dos mortos após o terceiro dia de sua crucificação, entretanto, este não é o único episódio de ressurreição descrito na bíblia.

Reencarnação

Já a definição de reencarnação, do latim incarnare, é o mesmo que retornar à carne, reassumir a forma humana. Para as doutrinas intituladas reencarnacionistas, o termo é utilizado para definir o retorno do espírito a um novo corpo, desta forma, um mesmo espírito submete-se a sucessivas reencarnações em corpos físicos diferentes.

Confrontando os Termos

Historicamente, comprova-se que os judeus acreditavam na reencarnação sem conhecer o mecanismo exato de como ela acontecia. Entendia-se, na época, que a alma poderia, de alguma forma, retornar à vida. Assim sendo, chamavam-na de ressurreição. Somente os saduceus não acreditavam na imortalidade da alma, defendendo a teoria de que tudo terminava com a morte.

Verificamos aí que, em algum momento da história, o significado dos termos colocados em estudo se confundem entre si.

Ressurreição e Reencarnação para o Espiritismo

O tema é amplamente discutido pela Doutrina Espírita, afinal, a pluralidade das existências (reencarnação) é um dos grandes pilares do Espiritismo. Encontramos a explicação dos Espíritos para este assunto em diversas obras, dentre elas, em "O Livro dos Espíritos" e "O Evangelho segundo o Espiritismo".

Como sempre frisamos, a doutrina codificada por Allan Kardec defende a análise de todos os assuntos estudados de forma racional, evitando cair naquilo que chamamos de "fé cega". Levando em consideração este aspecto doutrinário do Espiritismo, a ressurreição interpretada no sentido correto da palavra é cientificamente impossível de se verificar. Um corpo físico, após a paralisação definitiva de suas funções (devida à constatação de morte), não é capaz de recuperar suas atividades fisiológicas, desta forma, não há uma possibilidade lógica de ressurreição.

Acerca da reencarnação, o Espiritismo entende que, para concluir o progresso moral e intelectual, o Espírito necessita de variados estágios no plano físico, fato que acontece através da pluralidade das existências. É pela lei da reencarnação que o homem se aproxima de Deus: ao “nascer de novo”, criam-se as condições de igualdade e de oportunidades para todos os Espíritos, desta forma, é possível compreender com clareza a citação de Jesus:

“[...] Em verdade vos digo que ninguém verá a luz dos céus, se não nascer de novo”.

Vejamos a elucidação dos Espíritos acerca do assunto em "O Livro dos Espíritos":

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?

“Sofrendo a prova de uma nova existência.”

a) — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?

“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

b) — A alma passa então por muitas existências corporais?

“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”

Há, entretanto, aqueles que se posicionam de forma contrária à reencarnação, alegando que seria uma grande injustiça resgatar em uma nova vida os débitos de existências pretéritas. Estes ainda estão convictos de que Deus reserva-nos um lugar para que aguardemos o dia do "Juízo Final", onde acontecerá o julgamento definitivo, estando as almas absolvidas destinadas ao céu, se assim o merecerem, ou fadadas ao sofrimento eterno.

Outros, porém, creem que Deus é capaz de perdoar todos os nossos pecados e absolver-nos mediante nosso arrependimento. Para isso é necessário apenas pedir perdão, ou confessar a um sacerdote os pecados por nós praticados; e então, essa figura humana, também pecadora, haverá de impor uma penitência que fará com que nossos débitos sejam liquidados.

A resposta a essas considerações está contida na questão 171, ainda em "O Livro dos Espíritos":

171. Em que se funda o dogma da reencarnação?

“Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Não obraria Deus com equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa [...].

[...] Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele.

Podemos encontrar diversos apontamentos relacionados à reencarnação na própria bíblia. Uma das citações mais significativas diz respeito à narrativa de Jesus a seus discípulos, o qual afirma que Elias retorna como João Batista:

[...] Seus discípulos então o interrogaram desta forma: “Por que dizem os escribas ser preciso que antes volte Elias?” Jesus lhes respondeu: “É verdade que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas. Mas eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram e o trataram como lhes aprouve. É assim que farão sofrer o Filho do Homem”. Então, seus discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara. (Mt, 17,10-13;  Mc. 9, 11-13.).  

A Ressurreição de Jesus segundo o Espiritismo

Como já citado anteriormente, a ressurreição, mediante os aspectos científicos, é improvável. Uma vez rompido os laços que unem a matéria ao espírito, não há mais a possibilidade de animação daquele corpo físico por qualquer espírito. Ainda assim, os mais religiosos alegariam: "Para Deus, nada é impossível". E de fato não é mesmo, todavia, Deus jamais derrogou sua própria Lei, por isso Jesus teve que passar por nove meses de gestação.

Para o Espiritismo, o aparecimento de Jesus a Maria e seus discípulos é justificado pela materialização do Espírito, fato que pode ocorrer com todo e qualquer Espírito desencarnado que queira e tenha condições de se tornar visível aos olhos físicos. Sobre esta questão, o apóstolo Pedro comenta: 

 "... Sofreu a morte em seu corpo, mas recebeu vida pelo Espírito" (Pe, 3,18).

Jesus se mostrou em espírito e não em matéria como defendem as teorias ressurreicionistas. Algumas passagens bíblicas dão conta de que Jesus, após a "ressurreição", aparecia e desaparecia subitamente; alguns discípulos o viam e outros não; e ainda adentrou em uma casa a portas trancadas. Todos esses fatos são alheios ao Espírito encarnado, entretanto, são perfeitamente normais aos Espíritos desencarnados.

Mas, então, onde foi parar o corpo de Jesus?

Existem várias teorias a respeito do desaparecimento do corpo de Jesus, algumas delas um tanto quanto absurdas. A hipótese mais lógica e apresentada por alguns historiadores foi a de que o Sinédrio furtou o corpo de Jesus Cristo para evitar que a sepultura do Nazareno tornasse um local de peregrinação entre os cristãos. Outra teoria aceita pelo Espiritismo é de que houve uma desmaterialização do corpo físico, fato provocado pela espiritualidade superior, a fim de que não houvesse um culto desnecessário ao corpo de Jesus, deixando de lado o espírito. A prova dessa desmaterialização estaria presente no Santo Sudário (véu que envolveu o corpo de Jesus após sua morte).

Curiosamente, nenhum dos evangelhos considerados canônicos pela Igreja está de acordo no que diz respeito à ressurreição do Carpinteiro de Nazaré. Não se sabe ao certo o que havia dentro do túmulo de Jesus, tampouco quem foram as pessoas que possivelmente testemunharam o ocorrido. Mateus, Lucas, Marcos e João apresentam versões diferentes sobre o assunto.

O fato é que Jesus ressuscitou em espírito, como acontece com todos nós após o desencarne. Deixamos o invólucro material que é transitório, para renascer na vida espiritual. Jesus se mostrou para aqueles que ficaram, a fim de reafirmar aquilo que pregou durante sua passagem no plano físico: "Existe vida após a vida, pois a carne é perecível, mas o espírito é imortal".


Referências:

1. O Livro dos Espíritos

2. O Evangelho segundo o Espiritismo

3. Bíblia - Novo Testamento.

 
 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita