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Estudando a série André Luiz
Ano 7 - N° 330 - 22 de Setembro de 2013
MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


E a Vida Continua...

André Luiz

(Parte 15)

Continuamos nesta edição o estudo da obra E a Vida Continua, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1968 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares 

A. O destino é a soma de nossos próprios atos?

Essa frase foi dita pelo Instrutor Ribas, que pretendeu, ao emiti-la, dizer que devemos a nós mesmos as situações em que se nos enquadra a existência, uma vez que recolhemos da vida exatamente o que lhe damos de nós. (E a Vida Continua, cap. 15, pp. 120 a 122.) 

B. Por que, havendo transcorrido um bom tempo desde a sua desencarnação, não haviam Evelina e Ernesto visitado seus familiares encarnados?

O motivo eles sabiam. A visita à família terrena era considerada muito prematura pelos mentores espirituais. Em vista disso, ela e Ernesto re­confortavam-se com estudo e trabalho e, de vez em vez, tinham um tête-à-tête, ocasião em que faziam suas confidências. Eles já tinham visto, até então, inúmeros Espíritos que procediam da Terra, desacoroçoados e tristes, ante a impossibilidade de serem vistos, ouvidos e tocados pelos parentes. Muitos regressavam consolados e esperançosos, como que libertos de laços e algemas, mas outros voltavam desencantados e sorumbáticos, evidenciando pouca disposição para conversar. (Obra citada, cap. 16, pp. 125 e 126.) 

C. Os diálogos terapêuticos entre Evelina e Túlio produziram algum resultado?

Não. Passados seis meses de atenção e doutrinação, o Ins­trutor Ribas foi examinar Túlio em pessoa. Mas o rapaz apresentava es­casso proveito com as lições recebidas e, apático, denunciava na mente uma ideia central: Evelina. E com Evelina no miolo das mais profundas cogi­tações, vinham as ideias-satélites: o anseio de transformá-la em objeto de posse única, o tiro de Caio, o desejo de vingança e as escuras alusões da autopiedade. Ribas não via, pois, a mais ligeira fresta naquele coração pesado de angústia para filtrar um só raio de otimismo e esperança. (Obra citada, cap. 16, pp. 127 e 128.) 

Texto para leitura 

57. O destino é a soma de nossos atos - O Instrutor mostrara, assim, com clareza, que Evelina não pagara em Túlio o débito em que se viu in­cursa, mas resgatara essa conta junto ao suicida anônimo, redimindo-se no foro íntimo, segundo a lei que rege a tranquilidade da consciência. E o irmão desconhecido, ao mesmo tempo que amargou a provação do berço prema­turamente inutilizado, começou a ressarcir a dívida que assumira para consigo mesmo, aprendendo quanto custa e como custa o tesouro de um corpo físico, utensílio de aperfeiçoamento e progresso. "Cumpre-se a Eterna justiça no mundo de cada um de nós – rematou o professor. – Deus não nos condena nem nos absolve. O Amor Universal está sempre pronto a soer­guer-nos, instruir-nos, burilar-nos, elevar-nos, santificar-nos. O des­tino é a soma de nossos próprios atos, com resultados certos. Devemos sempre a nós mesmos as situações em que se nos enquadra a existência, porquanto recolhemos da vida exatamente o que lhe damos de nós." Na se­quência, o Instrutor disse à jovem senhora Serpa que, se ela estava real­mente disposta a renovar o caminho, chegara-lhe o momento de ajudar Túlio Mancini a desvencilhar-se das ideias enfermiças que sua conduta de moça menos responsável lhe instalou na cabeça, tornando-se para ele devotada preceptora, a reformular-lhe a visão da vida, no plano espiritual. "Não posso desempenhar, junto dele, o papel de companheira...", respondeu Eve­lina. E Ribas, com ternura de um pai, asseverou: "Se os erros da mulher não foram perpetrados, na categoria de parceira da vida sexual de um ho­mem, ela não tem a obrigação de ser-lhe a esposa, tão-só porque lhe deva essa ou aquela indenização no reino do Espírito, sucedendo o mesmo ao homem, referentemente à mulher. Não obstante esse princípio, a lei de amor deve efetivar-se, independentemente das formas em que o amor se ex­presse". "Aqui mesmo – ajuntou o mentor –, você pode regenerar o campo emotivo de Túlio e sublimar os seus próprios sentimentos em relação a ele, amparando-o e instruindo-o no grau de mentora maternal. Quase sem­pre, a recuperação de alguém é uma planta sublime da alma que somente vinga porque a abnegação de outro alguém se dispõe a adubá-la com a pro­teção da ternura e com o orvalho das lágrimas..." (Cap. 15, pp. 120 a 122) 

58. Os diálogos terapêuticos - Começou, assim, para Evelina Serpa e Ernesto Fantini, uma nova vida. Era indispensável auxiliar Túlio, aben­çoá-lo, renová-lo, e, para isso, os dois amigos se matricularam em colé­gio de estudos preparatórios de mais altas ciências do espírito. Radian­tes de esperança e entusiasmo, adquiriam conhecimentos em torno de evan­gelização, reforma íntima, sintonia mental, afeição, agressividade, auto­controle, obsessão, reencarnação. A fim de conversar construtivamente com aquele que se lhe extraviara à conta pessoal, Evelina munia-se de ins­truções com que lhe pudesse ganhar o raciocínio, pois lhe competia o es­forço mais grave: desfazer-lhe na mente o quisto de ilusões que ela mesma criara no ambiente terrestre. No dia marcado para início da tarefa, a subdividir-se em visitas de esclarecimento e enfermagem três vezes por semana, Ribas seguiu pessoalmente os dois obreiros até à casa de saúde. Integrando diminuta comunidade de enfermos da alma, o rapaz se achava re­cluso em solitária dependência que o Instrutor informou estar erguida à base de material isolante contra o impacto de vibrações suscetíveis de agravar-lhe a sede de companhias menos recomendáveis. Túlio acolheu, en­cantado, a presença da jovem e, de começo, reafirmava-lhe os protestos de devoção afetiva em ditirambos de lealdade e ternura. Evelina, porém, re­dobrou cautelas emolduradas de carinho, suplicando a inspiração da Vida Maior, para não falhar na missão abraçada. Os diálogos terapêuticos pros­seguiam, pontualmente. Apesar disso, Túlio não se desfixava da paixão que o absorvia, lembrando um barco chumbado ao solo, incapaz de afastar-se do cais. Assim que Evelina começava a preparar o clima adequado às lições, ele choramingava, à maneira de criança doente. Declarava-se indisposto para o estudo. Dizia-se desconsiderado, ofendido nos brios próprios, in­fenso a qualquer ponderação filosófica. Alegava, por fim, não sentir in­clinação para assuntos de fé, insistia em reconhecer-se unicamente um homem-homem, na definição dele mesmo, e, nessa condição, não queria uma enfermeira ou preceptora, mas uma companheira, a mulher dos seus sonhos. Evelina ouvia-o com paciência, aparando-lhe os golpes e podando-lhe as impressões destrutivas, assistida por Ernesto, que lhe supervisionava os esforços com generosa atenção. Imbuída das responsabilidades que lhe as­sinalavam agora a vida, Evelina concentrava-se, de modo constante, no es­poso, nele investindo toda a carga de seus potenciais afetivos. Para sen­tir-se na posição de tutora maternal de Túlio, experimentava a necessi­dade de ser mais entranhadamente a mulher de Caio e, por essa razão, men­talizava-lhe a imagem, a cada passo, endereçando-lhe em silêncio os seus mais belos pensamentos de amor. (Cap. 16, pp. 123 a 125) 

59. Saudades da família - Na verdade, Caio não lhe havia sido o con­sorte ideal e, além disso, era um homicida, que se valeu de recursos re­finados para ocultar seu crime. Evelina entendia, porém, que ele se fi­zera criminoso por amá-la e sonhava, então, revê-lo em pessoa, haurir o calor de sua presença, a fim de revigorar-se para os embates morais a que se confiava. A visita à família terrena era, porém, considerada muito prematura pelos mentores espirituais. Em vista disso, ela e Ernesto re­confortavam-se com estudo e trabalho e, de vez em vez, tinham um tête-à-tête, ocasião em que faziam suas confidências. Ernesto falava então, en­ternecidamente, da esposa Elisa e da filha Celina. Os dois perdiam-se em conjeturas, a imaginar como os familiares estavam vivendo na Terra, pre­libando as alegrias de um futuro reencontro. Estavam, evidentemente, in­formados de que entre eles e os amados do mundo se levantava agora o muro das vibrações diferentes. Em vista disso, não lhes seria possível reto­mar-lhes a atenção como quem volta de uma viagem, competindo-lhes a obri­gação da conformidade, perante quaisquer transformações a que se lanças­sem. Tinham visto, até então, inúmeros Espíritos que procediam da Terra, desacoroçoados e tristes, ante a impossibilidade de serem vistos, ouvidos e tocados pelos parentes. Muitos regressavam consolados e esperançosos, como que libertos de laços e algemas, mas outros voltavam desencantados e sorumbáticos, evidenciando pouca disposição para conversar. Mencionavam mudanças radicais na vida caseira, desastres e falências na ordem afetiva de almas inolvidáveis. Eles dois, contudo, estavam otimistas e confian­tes, especialmente Evelina que, ao recordar o carinho e os cuidados de Caio, nos últimos dias de sua existência, entendia que o rapaz se modifi­cara e recuperara a condição de noivo, amoroso e terno. (Cap. 16, pp. 125 e 126) 

60. Felicidade é obra do tempo - Diante do entusiasmo de Evelina ao reportar-se ao esposo distante, Ernesto volvia a biografar-se, contando histórias do lar. Amava a esposa, entranhadamente, e confessava haver praticado muitos disparates, quando moço, para preservar a tranquilidade doméstica. Celina, a filha, era uma bênção que lhe acalentara o coração na madureza. Sonhara para ela um marido bom, amigo; no entanto, deixara-a aos vinte e dois anos de idade sem casamento à vista. Ele depunha na filha a maior confiança e não lhe temia o futuro, porque, além de provida com mesada apreciável, lecionava Inglês com mestria. Os dois amigos man­tinham, assim, conversações sucessivas, sentimentais, saudosistas. Pas­sados seis meses de atenção e doutrinação, a benefício de Túlio, o Ins­trutor Ribas foi examiná-lo em pessoa. O rapaz apresentava, porém, es­casso proveito com as lições recebidas. Apático, denunciava na mente uma ideia central: Evelina. E com Evelina no miolo das mais profundas cogi­tações, vinham as ideias-satélites: o anseio de transformá-la em objeto de posse única, o tiro de Caio, o desejo de vingança e as escuras alusões da autopiedade. Ribas não via a mais ligeira fresta naquele coração pesado de angústia para filtrar um só raio de otimismo e esperança. Às primeiras perguntas do Instrutor, ele respondeu, com a tristeza de um doente que se imagina sem cura: "Qual, doutor, sem Evelina comigo, nada consigo entender. Se ouço Evangelho, penso que ela – ela só – é o anjo capaz de salvar-me; se anoto ensinamentos, acerca de autocontrole, vejo-a no pensamento, como sendo a única alavanca, bastante forte para governar-me; se escuto exortações à fé, acabo querendo-a para meu reconforto exclusivo; se recebo esclarecimentos em torno de obsessão, termino a aula confes­sando a mim mesmo que, se pudesse, largaria este hospital a fim de perse­gui-la e tomá-la em meus braços, ainda que para isso devesse caminhar até os derradeiros confins do mundo!..." O mentor sorriu, paternal, e acon­selhou calma, equilíbrio: "Reflitamos, meu filho, que somos espíritos eternos. Urge conservar serenidade, paciência... Felicidade é obra do tempo com a bênção de Deus". (Cap. 16, pp. 127 e 128) (Continua na próxima semana.)



 


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