E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
15)
Continuamos nesta edição
o estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. O destino é a soma de
nossos próprios atos?
Essa frase foi dita pelo
Instrutor Ribas, que
pretendeu, ao emiti-la,
dizer que devemos a nós
mesmos as situações em
que se nos enquadra a
existência, uma vez que
recolhemos da vida
exatamente o que lhe
damos de nós.
(E a Vida Continua, cap.
15, pp. 120 a 122.)
B. Por que, havendo
transcorrido um bom
tempo desde a sua
desencarnação, não
haviam Evelina e Ernesto
visitado seus familiares
encarnados?
O motivo eles sabiam. A
visita à família terrena
era considerada muito
prematura pelos mentores
espirituais. Em vista
disso, ela e Ernesto
reconfortavam-se com
estudo e trabalho e, de
vez em vez, tinham um
tête-à-tête, ocasião
em que faziam suas
confidências. Eles já
tinham visto, até então,
inúmeros Espíritos que
procediam da Terra,
desacoroçoados e
tristes, ante a
impossibilidade de serem
vistos, ouvidos e
tocados pelos parentes.
Muitos regressavam
consolados e
esperançosos, como que
libertos de laços e
algemas, mas outros
voltavam desencantados e
sorumbáticos,
evidenciando pouca
disposição para
conversar.
(Obra citada, cap. 16,
pp. 125 e 126.)
C. Os diálogos
terapêuticos entre
Evelina e Túlio
produziram algum
resultado?
Não. Passados seis meses
de atenção e
doutrinação, o
Instrutor Ribas foi
examinar Túlio em
pessoa. Mas o rapaz
apresentava escasso
proveito com as lições
recebidas e, apático,
denunciava na mente uma
ideia central: Evelina.
E com Evelina no miolo
das mais profundas
cogitações, vinham as
ideias-satélites: o
anseio de transformá-la
em objeto de posse
única, o tiro de Caio, o
desejo de vingança e as
escuras alusões da
autopiedade. Ribas não
via, pois, a mais
ligeira fresta naquele
coração pesado de
angústia para filtrar um
só raio de otimismo e
esperança.
(Obra citada, cap. 16,
pp. 127 e 128.)
Texto para leitura
57. O destino é a
soma de nossos atos
- O Instrutor mostrara,
assim, com clareza, que
Evelina não pagara em
Túlio o débito em que se
viu incursa, mas
resgatara essa conta
junto ao suicida
anônimo, redimindo-se no
foro íntimo, segundo a
lei que rege a
tranquilidade da
consciência. E o irmão
desconhecido, ao mesmo
tempo que amargou a
provação do berço
prematuramente
inutilizado, começou a
ressarcir a dívida que
assumira para consigo
mesmo, aprendendo quanto
custa e como custa o
tesouro de um corpo
físico, utensílio de
aperfeiçoamento e
progresso. "Cumpre-se a
Eterna justiça no mundo
de cada um de nós –
rematou o professor. –
Deus não nos condena nem
nos absolve. O Amor
Universal está sempre
pronto a soerguer-nos,
instruir-nos,
burilar-nos, elevar-nos,
santificar-nos. O
destino é a soma de
nossos próprios atos,
com resultados certos.
Devemos sempre a nós
mesmos as situações em
que se nos enquadra a
existência, porquanto
recolhemos da vida
exatamente o que lhe
damos de nós." Na
sequência, o Instrutor
disse à jovem senhora
Serpa que, se ela estava
realmente disposta a
renovar o caminho,
chegara-lhe o momento de
ajudar Túlio Mancini a
desvencilhar-se das
ideias enfermiças que
sua conduta de moça
menos responsável lhe
instalou na cabeça,
tornando-se para ele
devotada preceptora, a
reformular-lhe a visão
da vida, no plano
espiritual. "Não posso
desempenhar, junto dele,
o papel de
companheira...",
respondeu Evelina. E
Ribas, com ternura de um
pai, asseverou: "Se os
erros da mulher não
foram perpetrados, na
categoria de parceira da
vida sexual de um
homem, ela não tem a
obrigação de ser-lhe a
esposa, tão-só porque
lhe deva essa ou aquela
indenização no reino do
Espírito, sucedendo o
mesmo ao homem,
referentemente à mulher.
Não obstante esse
princípio, a lei de amor
deve efetivar-se,
independentemente das
formas em que o amor se
expresse". "Aqui mesmo
– ajuntou o mentor –,
você pode regenerar o
campo emotivo de Túlio e
sublimar os seus
próprios sentimentos em
relação a ele,
amparando-o e
instruindo-o no grau de
mentora maternal. Quase
sempre, a recuperação
de alguém é uma planta
sublime da alma que
somente vinga porque a
abnegação de outro
alguém se dispõe a
adubá-la com a proteção
da ternura e com o
orvalho das lágrimas..."
(Cap. 15, pp. 120 a
122)
58. Os diálogos
terapêuticos -
Começou, assim, para
Evelina Serpa e Ernesto
Fantini, uma nova vida.
Era indispensável
auxiliar Túlio,
abençoá-lo, renová-lo,
e, para isso, os dois
amigos se matricularam
em colégio de estudos
preparatórios de mais
altas ciências do
espírito. Radiantes de
esperança e entusiasmo,
adquiriam conhecimentos
em torno de
evangelização, reforma
íntima, sintonia mental,
afeição, agressividade,
autocontrole, obsessão,
reencarnação. A fim de
conversar
construtivamente com
aquele que se lhe
extraviara à conta
pessoal, Evelina
munia-se de instruções
com que lhe pudesse
ganhar o raciocínio,
pois lhe competia o
esforço mais grave:
desfazer-lhe na mente o
quisto de ilusões que
ela mesma criara no
ambiente terrestre. No
dia marcado para início
da tarefa, a
subdividir-se em visitas
de esclarecimento e
enfermagem três vezes
por semana, Ribas seguiu
pessoalmente os dois
obreiros até à casa de
saúde. Integrando
diminuta comunidade de
enfermos da alma, o
rapaz se achava recluso
em solitária dependência
que o Instrutor informou
estar erguida à base de
material isolante contra
o impacto de vibrações
suscetíveis de
agravar-lhe a sede de
companhias menos
recomendáveis. Túlio
acolheu, encantado, a
presença da jovem e, de
começo, reafirmava-lhe
os protestos de devoção
afetiva em ditirambos de
lealdade e ternura.
Evelina, porém,
redobrou cautelas
emolduradas de carinho,
suplicando a inspiração
da Vida Maior, para não
falhar na missão
abraçada. Os diálogos
terapêuticos
prosseguiam,
pontualmente. Apesar
disso, Túlio não se
desfixava da paixão que
o absorvia, lembrando um
barco chumbado ao solo,
incapaz de afastar-se do
cais. Assim que Evelina
começava a preparar o
clima adequado às
lições, ele
choramingava, à maneira
de criança doente.
Declarava-se indisposto
para o estudo. Dizia-se
desconsiderado, ofendido
nos brios próprios,
infenso a qualquer
ponderação filosófica.
Alegava, por fim, não
sentir inclinação para
assuntos de fé, insistia
em reconhecer-se
unicamente um
homem-homem, na
definição dele mesmo, e,
nessa condição, não
queria uma enfermeira ou
preceptora, mas uma
companheira, a mulher
dos seus sonhos. Evelina
ouvia-o com paciência,
aparando-lhe os golpes e
podando-lhe as
impressões destrutivas,
assistida por Ernesto,
que lhe supervisionava
os esforços com generosa
atenção. Imbuída das
responsabilidades que
lhe assinalavam agora a
vida, Evelina
concentrava-se, de modo
constante, no esposo,
nele investindo toda a
carga de seus potenciais
afetivos. Para
sentir-se na posição de
tutora maternal de
Túlio, experimentava a
necessidade de ser mais
entranhadamente a mulher
de Caio e, por essa
razão, mentalizava-lhe
a imagem, a cada passo,
endereçando-lhe em
silêncio os seus mais
belos pensamentos de
amor. (Cap. 16, pp. 123
a 125)
59. Saudades da
família - Na
verdade, Caio não lhe
havia sido o consorte
ideal e, além disso, era
um homicida, que se
valeu de recursos
refinados para ocultar
seu crime. Evelina
entendia, porém, que ele
se fizera criminoso por
amá-la e sonhava, então,
revê-lo em pessoa,
haurir o calor de sua
presença, a fim de
revigorar-se para os
embates morais a que se
confiava. A visita à
família terrena era,
porém, considerada muito
prematura pelos mentores
espirituais. Em vista
disso, ela e Ernesto
reconfortavam-se com
estudo e trabalho e, de
vez em vez, tinham um
tête-à-tête, ocasião
em que faziam suas
confidências. Ernesto
falava então,
enternecidamente, da
esposa Elisa e da filha
Celina. Os dois
perdiam-se em
conjeturas, a imaginar
como os familiares
estavam vivendo na
Terra, prelibando as
alegrias de um futuro
reencontro. Estavam,
evidentemente,
informados de que entre
eles e os amados do
mundo se levantava agora
o muro das vibrações
diferentes. Em vista
disso, não lhes seria
possível retomar-lhes a
atenção como quem volta
de uma viagem,
competindo-lhes a
obrigação da
conformidade, perante
quaisquer transformações
a que se lançassem.
Tinham visto, até então,
inúmeros Espíritos que
procediam da Terra,
desacoroçoados e
tristes, ante a
impossibilidade de serem
vistos, ouvidos e
tocados pelos parentes.
Muitos regressavam
consolados e
esperançosos, como que
libertos de laços e
algemas, mas outros
voltavam desencantados e
sorumbáticos,
evidenciando pouca
disposição para
conversar. Mencionavam
mudanças radicais na
vida caseira, desastres
e falências na ordem
afetiva de almas
inolvidáveis. Eles dois,
contudo, estavam
otimistas e confiantes,
especialmente Evelina
que, ao recordar o
carinho e os cuidados de
Caio, nos últimos dias
de sua existência,
entendia que o rapaz se
modificara e recuperara
a condição de noivo,
amoroso e terno. (Cap.
16, pp. 125 e 126)
60. Felicidade é
obra do tempo -
Diante do entusiasmo de
Evelina ao reportar-se
ao esposo distante,
Ernesto volvia a
biografar-se, contando
histórias do lar. Amava
a esposa,
entranhadamente, e
confessava haver
praticado muitos
disparates, quando moço,
para preservar a
tranquilidade doméstica.
Celina, a filha, era uma
bênção que lhe
acalentara o coração na
madureza. Sonhara para
ela um marido bom,
amigo; no entanto,
deixara-a aos vinte e
dois anos de idade sem
casamento à vista. Ele
depunha na filha a maior
confiança e não lhe
temia o futuro, porque,
além de provida com
mesada apreciável,
lecionava Inglês com
mestria. Os dois amigos
mantinham, assim,
conversações sucessivas,
sentimentais,
saudosistas. Passados
seis meses de atenção e
doutrinação, a benefício
de Túlio, o Instrutor
Ribas foi examiná-lo em
pessoa. O rapaz
apresentava, porém,
escasso proveito com as
lições recebidas.
Apático, denunciava na
mente uma ideia central:
Evelina. E com Evelina
no miolo das mais
profundas cogitações,
vinham as
ideias-satélites: o
anseio de transformá-la
em objeto de posse
única, o tiro de Caio, o
desejo de vingança e as
escuras alusões da
autopiedade. Ribas não
via a mais ligeira
fresta naquele coração
pesado de angústia para
filtrar um só raio de
otimismo e esperança. Às
primeiras perguntas do
Instrutor, ele
respondeu, com a
tristeza de um doente
que se imagina sem cura:
"Qual, doutor, sem
Evelina comigo, nada
consigo entender. Se
ouço Evangelho, penso
que ela – ela só – é o
anjo capaz de salvar-me;
se anoto ensinamentos,
acerca de autocontrole,
vejo-a no pensamento,
como sendo a única
alavanca, bastante forte
para governar-me; se
escuto exortações à fé,
acabo querendo-a para
meu reconforto
exclusivo; se recebo
esclarecimentos em torno
de obsessão, termino a
aula confessando a mim
mesmo que, se pudesse,
largaria este hospital a
fim de persegui-la e
tomá-la em meus braços,
ainda que para isso
devesse caminhar até os
derradeiros confins do
mundo!..." O mentor
sorriu, paternal, e
aconselhou calma,
equilíbrio: "Reflitamos,
meu filho, que somos
espíritos eternos. Urge
conservar serenidade,
paciência... Felicidade
é obra do tempo com a
bênção de Deus". (Cap.
16, pp. 127 e 128)
(Continua na próxima
semana.)