Vigilância: direção defensiva do espírito
Carro sem freio — desastre à vista
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação.” - Jesus (Mt., 26:41).
No Sermão do Monte, a canção máxima do Cristianismo, Jesus chama de bem-aventurados os pacíficos, que, por essa condição, verão a Deus.
Lázaro ensina: “a benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por detrás”.
O ser pacífico oferece campo sadio e propício à vigilância que proporciona, por sua vez, incontáveis benefícios e evita superlativos aborrecimentos a quem a acoroçoa, visto que a intemperança e a invigilância são as grandes fomentadoras dos desastres e desacertos na vida de relação.
Onde quer que estejamos seremos sempre confrontados por surpresas de vária ordem, em grande cópia desagradáveis, que se respaldam e se alimentam na falta de educação, no desamor, na invigilância e, em especial, no espírito de beligerância, que é um atavismo ínsito nas criaturas, remanescente dos tempos da barbárie... Basta submeter-nos a uma fila, onde muitas pessoas aguardam atendimento para – não raro – verificarmos como facilmente surgem as confusões e desentendimentos. É evidente que se soma a isso a influência dos Espíritos obsessores, inimigos da paz e da luz. Assim, urge resguardarmo-nos sob o pálio da vigilância atenta e onipresente, que se constitui excelente escudo protetor.
Joanna de Ângelis, que conhece bem as criaturas e suas fraquezas, com sua verve psicológica, ensina: “Ninguém desconsidere o impositivo da vigilância nas tarefas de enobrecimento abraçado. Ela funciona como atitude de respeito e de consideração ao empreendimento assumido.
A vigilância dirá das necessidades imperiosas do equilíbrio diante das circunstâncias e dos fatores animosos que impedem um processo natural de evolução.
O egoísmo trabalha para o desespero. A maledicência responde pelo tumulto. A intriga promove inimizades desnecessárias. O orgulho engendra tormentos íntimos. A paz, todavia, decorre de uma consciência que se iliba na ação superior da vida.
A sensualidade conclama as paixões morbíficas; o ódio grita na direção da loucura; a caridade asserena o espírito; a paciência confia e resolve dificuldades.
O amor é a vida mesma que estua em nome da vigilância do Celeste Pai a benefício da criatura humana. Ninguém descuide o seu programa de vigilância: vigilância ao pensar; vigilância no dizer; vigilância no agir...
Atuando de maneira enobrecida e vigiando as nascentes do coração, donde procedem as boas como as coisas más, o candidato à redenção espiritual atinge a cumeada da ascensão e se liberta por fim em plenitude de paz”.
- KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio: FEB, 2009, cap. IX, item, 6.