O dia? O de um
primeiro domingo
de um mês de
dezembro. Manhã
de sol, clara,
luminosa.
Minhas cordiais
amigas, alunas
de educação
musical de
renomadas
professoras
desta Capital,
integravam o
coral que se
apresentou no
Solar Colombino
de Bastos.
A Instituição, à
época, abrigava
quarenta e dois
idosos de ambos
os sexos – ali
chamados alunos
– e é uma das
muitas obras
assistenciais
administradas
pela Irradiação
Espírita Cristã.
O nome Solar
evita a
conotação
pejorativa que
os “abrigos”
acabam assumindo
ao longo do
tempo. O
Dicionário
Caldas Aulete
indica: “Solar.
s.m.
Qualquer palácio
ou casa nobre”.
A conservação e
aparência do
edifício, a
ordem e o asseio
impecáveis do
prédio e dos
internos; a
horta; os
jardins, tudo
fala do carinho
com que são
tratados os
inquilinos
daquela Casa
onde Amor e Fé
caminham juntos.
Tem realmente a
nobreza de um
solar.
As duas
professoras têm
o salutar hábito
de levar o coral
formado por seus
alunos e alunas,
especialmente a
abrigos de
idosos, ao final
de cada ano.
Muitos, creio,
vão pela
primeira vez a
uma casa que
ampara a
velhice.
As boas
professoras,
acompanhadas de
familiares e
colaboradores,
educam também,
intencionalmente
ou não, o
sentimento de
muitos, pelas
emoções que
então vivenciam.
Não cuidam,
pois, apenas da
impostação da
voz, da postura
e de outras
técnicas
musicais. Tangem
também as cordas
do coração e da
alma de cantores
e de ouvintes!
Doam e recebem
alegrias
indescritíveis.
Observamos
atitudes e
reações: a
participação, ao
cantar
acompanhando o
coral, e
aplausos e
sorrisos, ao
final. Uma delas
gritava, de puro
entusiasmo. Em
todos, a alegria
estampada nas
faces!
No repertório,
as músicas:
Esperando na
Janela, de
Gilberto Gil;
Seresta,
valsa de Newton
Teixeira e
Alvarenga e
Ranchinho;
ABC do Sertão,
de Luiz Gonzaga
e Zé Dantas;
Romaria, de
Renato Teixeira;
Menino de
Braçanã, de
Luiz Vieira e
Arnaldo Passos;
De Papo Pro
Ar, toada de
Joubert de
Carvalho e
Olegário
Mariano; Luar
do Sertão,
toada de Catullo
da Paixão
Cearense;
Chamego,
samba de Luiz
Gonzaga e Miguel
Lama; Eu
sonhei que tu
estavas tão
linda, de
Lamartine Babo e
F. Matoso;
algumas canções
natalinas:
Sino de Natal,
É meia-noite
e Noite Feliz.
E, por último, o
samba-canção
Como é grande o
meu amor por
você, de
Roberto Carlos.
Instrumentos?
Teclado,
atabaque,
chocalho e
campainhas, a
simular sons de
sinos.
Muitos deles
trabalharam,
constituíram
famílias,
sonharam e muito
lutaram. Ao
final da vida, o
abandono dos
seus, a solidão.
Ali remoem
lembranças doces
ou amargas, no
dia a dia. Têm
quase tudo, pois
lhes falta o
carinho dos
entes que amam,
por ingratidão
ou
impossibilidade
de mantê-los em
suas companhias.
Que Deus abençoe
as mãos que os
acolhem,
carinhosas,
ternas!
Naqueles
momentos em que
a música envolve
seus corações e
mentes, as
tristezas e
amarguras ficam
esquecidas.
Sonham e cantam.
Recordam o lado
bom das próprias
vidas.
Na música ABC
do sertão,
uma das senhoras
batia vigorosa e
ritmadamente
suas mãos.
Está aí uma
nordestina,
pensamos.
Confirmou-nos
ela que é
pernambucana. E,
ao final,
revelou-se
verdadeira
pé-de-valsa, a
bailar pelo
salão.
Nossas almas
enternecidas
receberam belos
presentes,
ouvindo o coral
e vendo as
reações nas
faces dos
internos, muitos
com limitações
físicas ou
mentais que os
impediam de
aplaudir com as
mãos. Mas
aplaudiam com o
rosto iluminado
pelos olhares
que recuperaram
naquela manhã a
vivacidade, a
alegria, o
brilho, a
reviver suas
histórias e
passagens de
suas vidas!