LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Vida e morte
- Você tem medo de
morrer?
- Nem penso nisso.
- Como não pensa nisso?
- É. Não penso.
- Não pensa na morte?
- Não.
- Por quê? Eu penso
tanto...
- Por algumas razões bem
simples: a primeira,
porque a hora é certa –
nada vai mudar isso; a
segunda, porque o dia já
está previsto – e nada
vai alterar isso,
também; e a terceira,
porque o gênero, ou
seja, a forma como vou
morrer, é determinado
pelas leis divinas,
segundo a maneira como
houver vivido nesta e em
outras vidas. Então, se
não conheço nenhum
desses fatos, vou me
preocupar com o quê?
Além do mais, quem fica
pensando na morte não
pensa na Vida e quem não
pensa na Vida esquece-se
de experimentar momentos
incríveis de beleza, de
descobertas, de
constantes aprendizados.
Quem não pensa na Vida
esquece-se de viver, e,
quando a morte chegar,
vai perceber quanto
tempo perdeu sem ter
conseguido saber quando
e como isso aconteceria,
sem ter aprendido nada
ou conseguido aprender
muito pouco.
Preste atenção: quem
pensa na morte não se
lembra de realizar as
tarefas que são de sua
responsabilidade e com
as quais se comprometeu
antes de voltar à
“vida”, e permanece
aguardando a morte para
de novo retornar à
“vida”, e continuar
esperando a morte, até
que aprenda,
definitivamente, que não
há morte, mas somente
Vida. Aprende que é nos
intervalos entre esse
contínuo ir e vir, viver
e morrer, que tudo
acontece. São esses
intervalos da vida de lá
e da vida de cá, de cá e
de lá, que nos
proporcionam o
crescimento, o
amadurecimento, o
aprimoramento dos nossos
sentimentos, o
desenvolvimento
intelectual, a
descoberta das nossas
potencialidades, a
conquista – pelo
despertar e desenvolver
– das virtudes que nos
transformam em anjos.
Diante desse leque de
possibilidades, como
posso pensar em morte ou
ter medo dela? Não tenho
tempo, não. Tem muito
trabalho a ser feito e
ele começa com o que
tenho dentro de mim:
meus sentimentos –
raízes das minhas
imperfeições e viciações
– e com tudo o mais que
esteja ao meu redor.
Pensar no que não
existe? Tô fora!
- O que faço, então,
para não pensar mais
nisso?
- Ocupação.
- Como?
- É. Ocupação. Quando o
corpo está trabalhando
em coisas úteis para si
e para os outros, a
mente mantém-se ligada
na tarefa. É processo
natural. E mente
ocupada, meu amigo, você
sabe, não pensa no que
não deve. No final do
dia, os dois estão tão
cansados que só querem
repousar, dormir para,
no dia seguinte,
começarem tudo de novo.
- E se o trabalho for só
mental?
- É a mesma coisa. Mesmo
quando o trabalho é
apenas mental, aí, nesse
caso, é o corpo que se
liga à mente. Mente
ocupada não tem espaço
para medos ou angústias,
desde que voltada para o
que for edificante e
nobre.
- Você acha que isso dá
certo?
- Você é quem dirá. Só
você. Mas, se não
tentar...