A. Em que sentido o
intercâmbio com os
Espíritos pode ser-lhes
benéfico?
A experiência todos os
dias o demonstra: graças
aos conselhos dos
humanos, muitas almas
obscurecidas e atrasadas
têm podido reconhecer-se
e orientar-se em sua
nova existência. Na
maior parte, os
materialistas passam
pelo fenômeno da morte
sem o perceber.
Acreditam ainda
participar da vida
terrestre, muito tempo
depois de haverem
falecido. Os Espíritos
elevados não têm ação
sobre eles, em virtude
das diferenças de
densidade fluídica, ao
passo que as evocações,
as advertências, as
explicações que eles
recebem nos grupos
espíritas os arrancam de
seu torpor e de seu
estado de inconsciência.
Para nós, como para os
desencarnados, a
comunhão das duas
humanidades é salutar,
quando se efetua em
condições sérias.
(No Invisível, 3ª Parte.
XXIII - Hipóteses e
objeções.)
B. Se, conforme o
Espiritismo, não existem
demônios, quem são esses
seres malfazejos que
tanto mal causam aos
encarnados?
Aqueles a quem se deu o
nome de demônios são, em
verdade, Espíritos
inferiores, ainda
propensos ao mal,
submetidos, porém, como
todas as almas, à lei do
progresso, porque não há
diversas categorias de
almas, destinadas umas à
felicidade e outras à
desgraça eterna. Todas
elas se elevam pelo
trabalho, pelo estudo e
pelo sofrimento.
(Obra citada, 3ª Parte.
XXIII - Hipóteses e
objeções.)
C. No tocante aos abusos
da mediunidade, que
fatos Léon Denis
assinala em primeiro
lugar?
Ele menciona, em
primeiro lugar, as
fraudes, as simulações,
que podem ser
conscientes e volitivas,
ou inconscientes. Neste
último caso são elas
provocadas quer pela
ação de Espíritos
malfazejos, quer por
sugestões sobre os
médiuns exercidas pelos
experimentadores e
assistentes. Já as
fraudes conscientes
provêm ora de falsos
médiuns, ora de médiuns
verdadeiros, mas
pérfidos, que têm feito
de sua faculdade uma
fonte de proventos
materiais. Desconhecendo
a nobreza e a
importância de sua
missão, por natureza
preciosa, eles a
transformam num meio de
exploração e não
trepidam, quando falha o
fenômeno, em o simular
com artifícios.
(Obra citada, 3ª Parte.
XXIV - Abusos da
mediunidade.)
Texto para leitura
1130. Quanto à segunda
objeção, não tem maior
consistência. Como
poderiam ser condenáveis
essas comunhões do Céu
com a Terra, da qual sai
a alma humana
esclarecida, confortada,
enlevada por todas as
exortações, por todas as
inspirações que lhe vêm
do Alto? As práticas
espíritas têm consolado
e reanimado muitas
criaturas combalidas sob
a prova da separação;
têm restituído a paz aos
aflitos, provando-lhes
que aqueles que julgavam
perdidos estão apenas
ocultos por algum tempo
a suas vistas. E que
influência moral exerce
em toda a nossa vida o
pensamento de que seres
caros, seres invisíveis
nos acompanham e
observam, examinam e
apreciam os nossos atos,
e que os nossos
bem-amados estão muitas
vezes perto de nós,
associando-se aos nossos
esforços para o bem,
regozijando-se com as
nossas alegrias, com os
nossos progressos, e
entristecendo-se com os
nossos desfalecimentos,
como nos amparando nas
situações difíceis! Quem
haverá que, tendo
perdido um ente caro,
possa permanecer
indiferente a esse
pensamento?
1131. Longe de estorvar
a evolução das almas
desencarnadas, sabemos,
ao contrário, que os
nossos chamados a
favorecem em muitos
casos. Não se trata de
evocações imperiosas,
como o pretenderiam
insinuar. Os Espíritos
são livres e vêm a nós
se isso lhes agrada. Ao
demais, que é em si
mesma a evocação? É a
frágil palavra humana
ensaiando-se em
articular a linguagem
sublime do pensamento; é
o balbuciar da alma que
entra na comunhão divina
e universal!
1132. A experiência
todos os dias o
demonstra: graças aos
conselhos dos humanos,
muitas almas
obscurecidas e atrasadas
têm podido reconhecer-se
e orientar-se em sua
nova existência. Na
maior parte, os
materialistas passam
pelo fenômeno da morte
sem o perceber.
Acreditam ainda
participar da vida
terrestre, muito tempo
depois de haverem
falecido. Os Espíritos
elevados não têm ação
sobre eles, em virtude
das diferenças de
densidade fluídica, ao
passo que as evocações,
as advertências, as
explicações que eles
recebem nos grupos
espíritas os arrancam de
seu torpor, de seu
estado de inconsciência,
e lhes facilitam o
surto, em vez de o
estorvar. Para nós, como
para os desencarnados, a
comunhão das duas
humanidades é salutar,
quando se efetua em
condições sérias. É um
ensino mútuo ministrado
pelos Espíritos
adiantados de ambos os
planos, visando
esclarecer, consolar e
moralizar as almas
sofredoras ou atrasadas
dos dois mundos.
1133. As teorias dos
ocultistas e teósofos,
tão justas no que se
refere à lei do Carma,
ou das reencarnações,
claudicam por completo
no ponto de que nos
ocupamos. Apartando o
investigador do método
experimental, para o
encerrar no domínio da
metafísica pura, elas
suprimiram a única base
positiva de toda a
verdadeira filosofia.
Graças às provas
experimentais é que a
imortalidade, mero
conceito até agora, vaga
esperança do espírito
humano, se torna uma
realidade palpitante. E
com ela, muitas almas
cépticas e desiludidas
se sentem reviver em
face dos destinos que
lhes são patenteados.
Longe de as depreciar,
saibamos,
conseguintemente, fazer
justiça a essas práticas
espíritas que têm
enxugado tantas
lágrimas, acalmado
tantas dores e projetado
tão abundantes
claridades na noite das
inteligências.
1134. Voltemos à teoria
do demônio e
consideremos uma
questão: se o Espírito
maligno, como pretendem
os teólogos, têm a
facilidade de reproduzir
todas as formas, todas
as figuras, revelar as
coisas ocultas, proferir
as mais sublimes
alocuções; se nos ensina
o bem, a caridade, o
amor, pode-se igualmente
atribuir-lhe as
aparições mencionadas
nos livros santos,
acreditar que foi ele
quem falou a Moisés, aos
outros profetas e ao
próprio Cristo, e que
toda ação espiritual
oculta é obra sua.
1135. O diabo, tudo
sabendo e podendo, até
mesmo fazer sábio e
virtuoso o Espírito,
pode muito bem ter
assumido o papel de guia
religioso e, sob o pálio
da Igreja, nos conduzir
à perdição. A História,
com efeito, nos
demonstra com
irrefragável lógica que
nem sempre a Igreja foi
inspirada por Deus. Em
muitas circunstâncias,
os seus atos têm estado
em absoluta contradição
com os atributos de que
nos apraz revestir a
divindade. A Igreja é
uma árvore colossal,
cujos frutos nem sempre
foram os melhores, e o
diabo – pois que é tão
hábil – pode muito bem
se ter abrigado à sua
sombra.
1136. Se devemos
admitir, com os
teólogos, que em todos
os tempos e lugares
tenha Deus permitido as
mais odiosas fraudes, o
mundo se nos apresentará
como imensa impostura e
nenhuma segurança
teremos de não ser
enganados: tanto pela
Igreja como pelo
Espiritismo. A Igreja –
ela própria o reconhece
– apenas possui,
relativamente ao que
denomina “sobrenatural
diabólico ou divino”, um
critério de certeza
puramente moral. E daí,
com tão restritas bases
de apreciação, dado o
talento de imitação que
atribui ao inimigo do
gênero humano, que
crédito a ela própria
podemos conceder em
todas as matérias? É
assim que o argumento do
demônio, como arma de
dois gumes, se pode
voltar contra aqueles
que o forjaram.
1137. Cabe, entretanto,
perguntar se de fato
haveria tamanha
habilidade da parte do
diabo em proceder como
os nossos contraditores
o pretendem. Nas sessões
espíritas, vê-lo-íamos
convencer da
sobrevivência da alma e
da responsabilidade dos
atos a indivíduos
materialistas; libertar
da dúvida os cépticos, e
da negação e de todas as
suas consequências,
dizer às vezes duras
verdades a pessoas
desregradas e obrigá-las
a cair em si e
orientar-se no sentido
do bem. Onde estaria,
pois, em tudo isso a
vantagem para Satanás?
Não deveria, ao
contrário, o papel do
Espírito das trevas
consistir em acoroçoar
em suas tendências os
materialistas, os ateus,
os cépticos e os
indivíduos sensuais?
1138. É verdadeiramente
pueril atribuir ao
demônio o ensino moral
que nos prodigalizam os
Espíritos elevados.
Acreditar que Satanás se
esforce por desviar os
homens do mal, ao passo
que, deixando-os
resvalar pelo declive
das paixões,
tornar-se-iam fatalmente
presa sua; crer que pode
ensiná-los a amar, a
orar, a servir a Deus, a
ponto de lhes ditar
preces, é atribuir-lhe
um procedimento ridículo
extremamente inepto.
1139. Se o diabo é
hábil, podem imputar-lhe
as respostas ingênuas,
grosseiras,
ininteligentes, obtidas
nos círculos onde se
experimenta sem
critério? E as
manifestações obscenas!
Não são antes próprias a
nos afastar do que a nos
atrair para ele? Ao
passo que, admitindo a
intervenção de Espíritos
de todas as ordens,
desde a mais baixa à
mais elevada, tudo se
explica racionalmente.
Os Espíritos malfazejos
não são de natureza
diabólica, mas de
natureza simplesmente
humana.
1140. Não há na Terra,
encarnadas entre nós,
almas perversas, que se
poderiam considerar
demônios? Voltando ao
Espaço, essas almas
continuam a proceder do
mesmo modo, até que
venham a ser regeneradas
pelas provações,
subjugadas pelos
sofrimentos. Aos
investigadores prudentes
compete pôr-se em guarda
contra esses entes
funestos e reagir contra
sua influência.
1141. Na maior parte dos
círculos de
experimentação, em lugar
de proceder com cautela
e respeito, desprezam-se
os conselhos dos que nos
precederam no caminho
das investigações. Com
intempestivas exigências
e modos inconvenientes,
repelem-se as
influências harmônicas e
atraem-se
individualidades
perversas e Espíritos
atrasados. Daí tantas
decepções, incoerências,
obsessões, que têm feito
acreditar na existência
dos demônios e lançado
sobre certo
“espiritismo” de baixa
classe o ridículo e o
descrédito.
1142. A teoria do
demônio, em resumo, nem
é positiva nem
científica. É um
argumento cômodo, que se
presta às explorações,
permite rejeitar todas
as provas, todos os
casos de identidade, e
fazer tábua rasa dos
mais autorizados
testemunhos; pouco
concludente, porém, e
absolutamente em
contradição com a
natureza dos fatos.
1143. A crença no
demônio e no inferno tem
sido combatida com
argumentos de tal modo
peremptórios que causa
admiração ver
inteligências
esclarecidas ainda hoje
a adotarem. Deus, sendo
justo e bom, como o
declara o ensino
católico, não pode ter
criado um ser dotado de
toda a ciência do mal,
de toda sorte de
sedução, e lhe haver
concedido poder absoluto
sobre o homem inerme e
fraco. Ou Satanás é
eterno, ou não o é. Se o
é, Deus não é único; há
dois deuses – o do bem e
o do mal. Ou então
Satanás é uma criatura
de Deus, e logo a Deus
cabe a responsabilidade
de todo o mal por ele
praticado; porque, ao
criá-lo, conheceu, viu
todas as consequências
de sua obra. E o inferno
povoado da imensa
maioria das almas,
votadas por sua fraqueza
original ao pecado e à
condenação, é a obra de
Deus, produto de sua
vontade e por ele
prevista!
1144. Tais são as
consequências da teoria
de Satanás e do inferno.
É de admirar que tenha
produzido tantos
materialistas e ateus? E
é em nome do Cristo, de
seus ensinos de amor, de
caridade e de perdão que
se preconizam tais
doutrinas!
1145. Aqueles a quem se
chamam demônios são, em
verdade, simplesmente
Espíritos inferiores,
ainda propensos ao mal,
submetidos, porém, como
todas as almas, à lei do
progresso. Não há
diversas categorias de
almas, destinadas umas à
felicidade e outras à
desgraça eterna. Todas
se elevam pelo trabalho,
pelo estudo e pelo
sofrimento. A unidade
perfeita e a harmonia
reinam no Universo.
1146. Acenar com o
espectro de Satanás e
toda a fantasmagoria do
inferno, numa época em
que a Humanidade já não
crê nos mitos com que a
embalaram na infância, é
perpetrar um
anacronismo, é expor-se
a provocar o riso.
Satanás não assusta mais
ninguém. E os que mais
dele falam são, talvez,
os que nele menos creem.
Pode-se explorar o
esvaecimento de uma
quimera rendosa, de que
por muito tempo se
abusou, e soltar aos
quatro ventos os ecos de
sua queixa. Diante,
porém, de tais
recriminações, próprias
de uma outra idade, o
pensador desinteressado
sorri e passa adiante.
1147. Já não acreditamos
num Deus colérico e
vingativo, mas em um
Deus de justiça e de
infinita misericórdia. O
Jeová sanguinário e
terrível fez sua época.
O inferno implacável
fechou-se para sempre.
Do Céu à Terra desce
agora, com a nova
revelação, o lenitivo
para todas as dores, o
perdão para todas as
fraquezas, o resgate
para todos os crimes,
mediante o
arrependimento e a
expiação.
1148. XXIV - Abusos
da mediunidade – Na
primeira ordem dos
abusos que devemos
assinalar, cumpre
colocar as fraudes, as
simulações. As fraudes
ou são conscientes e
volitivas, ou
inconscientes. Neste
último caso são
provocadas quer pela
ação de Espíritos
malfazejos, quer por
sugestões sobre os
médiuns exercidas pelos
experimentadores e
assistentes.
1149. As fraudes
conscientes provêm ora
de falsos médiuns, ora
de médiuns verdadeiros,
mas pérfidos, que têm
feito de sua faculdade
uma fonte de proventos
materiais. Desconhecendo
a nobreza e a
importância de sua
missão, por natureza
preciosa, eles a
transformam num meio de
exploração e não
trepidam, quando falha o
fenômeno, em o simular
com artifícios.
1150. Os falsos médiuns
se encontram um pouco
por toda parte. Uns não
passam de péssimos
farsistas que se
divertem à custa do
vulgacho e a si mesmos
se traem cedo ou tarde.
Outros há, industriosos,
hábeis, para os quais o
Espiritismo é apenas uma
mercancia; esforçam-se
por imitar as
manifestações, tendo em
mira o lucro a auferir.
Muitos têm sido
desmascarados em plena
sessão; alguns já foram
colhidos nas malhas de
ruidosos processos.
1151. Nessa ordem de
fatos, têm sido
presenciadas as mais
audaciosas falcatruas.
Certos indivíduos,
abusando da boa-fé dos
que os consultam, não
têm hesitado em profanar
os mais sagrados
sentimentos e tornar
suspeitas uma ciência e
doutrinas que podem ser
um meio de regeneração.
Na maioria das vezes,
são destituídos do
sentimento de sua
responsabilidade; mas na
vida de além-túmulo bem
desagradáveis surpresas
lhes estão reservadas.
1152. É incalculável o
prejuízo por esses
espertalhões causado à
verdade. Com seus
artifícios têm afastado
muitos pensadores do
estudo sério do
Espiritismo. Por isso é
dever de todo homem de
bem desmascará-los,
expô-los à merecida
execração. O desprezo
neste mundo, o remorso e
a vergonha no outro –
eis o que os espera.
Porque, nós o sabemos,
tudo se paga: o mal
recai sempre sobre
aquele que o pratica.
1153. Não há coisa mais
vil, mais desprezível,
que bater moeda sobre as
dores alheias, simular,
a troco de dinheiro, os
amigos, os entes caros
que choramos, fazer da
própria morte uma
especulação desbriada,
um objeto de
falsificação. O
Espiritismo não pode ser
responsabilizado por
tais manejos. O abuso ou
imitação de uma coisa
nada pode fazer
prejulgar contra a
própria coisa.
1154. Tem-se dado o fato
de certos médiuns,
dotados de notáveis
faculdades, não terem
vacilado em misturar,
nas sessões que
realizam, as simulações
com os fatos reais,
visando aumentar os
proventos ou a fama que
desfrutam. Perguntarão
talvez por que anuem os
desencarnados a prestar
o seu concurso a
indivíduos de tal sorte
indignos. A resposta é
fácil. Esses Espíritos,
em seu vivo desejo de se
manifestarem aos que na
Terra amaram,
encontrando em tais
médiuns os elementos
necessários para se
materializarem,
tornando-se visíveis, e,
assim, demonstrarem a
própria sobrevivência,
não hesitam em utilizar
os meios que se lhes
oferecem, não obstante a
indignidade dos
intermediários. Foi o
que sucedeu em 1906,
1907 e 1908, no curso de
sessões efetuadas em
Paris por um médium
estrangeiro, de que já
falei no prefácio desta
obra.
(Continua no próximo
número.)
Carma
– [Do sânscr. karman,
'ação'.] S. m. Filos.
Nas filosofias da Índia,
o conjunto das ações dos
homens e suas
consequências. Liga-se o
carma às diversas
teorias de
transmigração, e por
meio dele se definem as
noções de destino, do
desejo como força
geradora do destino, e
do encadeamento
necessário, por força
desses dois fatores,
entre os diversos
momentos da vida dos
homens.
Mercancia
– (í). [Do it. mercanzia.]
S. f. Mercadoria (1 e
2). Ato de mercanciar ou
mercadejar; tráfico,
comércio, mercadejo.
Vulgacho
– S. m. V. ralé (1). A
camada mais baixa da
sociedade.