Projeção lúcida
A vivência nos
antecipa, de
certo modo, a
experiência
definitiva da
morte, certa
para todos,
hóspedes
transitórios
deste mundo
material. Mas
sua validade
maior reside em
nos permitir
conservar,
enquanto ainda
aqui, as
sensações, o
aprendizado, e
determinadas
certezas que nos
favorecem
imensamente
durante o duro
repertório
existencial que
representa o
atualmente se
estar
reencarnado
neste mundo. E
é, neste
sentido,
autêntica
bênção!
Porque se
sobrepõe a tudo
o mais a
convicção da
desidentificação
completa para
com tudo aquilo
que, enquanto
revestidos do
corpo material,
se apresenta
dotado de
importância
desmesurada,
causando-nos
angústia e
sofrimento. Uma
vez "lá em
cima", portanto
- e este lá em
cima pode ser
nos descobrirmos
à parte do nosso
corpo físico, ou
avistando a
Terra de muito
longe, ou n'outros
contextos afins
às condições
espirituais nas
quais nos vemos
momentaneamente
situados - o
sentimento
predominante é
de consciência
desperta absoluta,
em si e em tudo
o mais em volta,
na Criação
imponente que
nos rodeia!
Vida, uníssona,
em nós, e em
igual qualidade
manifesta em
tudo em torno! E
em segundo
lugar, muito
pouca percepção
de que sequer se
possui, ainda,
veículos
corporais em
níveis astrais /
etéricos
circundantes. De
fato, nossa
noção de
identidade
permanece
intacta, dali,
daquele ponto
onde repousamos
observando com
encanto tudo ao
redor - mas a
sensação de
libertação de
quaisquer
invólucros e
limitações rudes
é absoluta e
vívida!
O corpo físico?
Sim, temos a
noção de que ele
está lá, n'algum
lugar à nossa
espera - mas do
mesmo modo como
uma das roupas
que existem nas
nossas gavetas!
Os apegos sobre
situações,
acontecimentos e
fatos? Guardamos
vaga noção de
sua realidade n'outro
nível, só que,
na posição
desafogada onde
então
permanecemos,
perdem, de forma
quase absoluta,
toda a
significação
relativa, a
importância, e o
que resta são
meros
sentimentos
tênues sobre
cada um deles.
Sentimentos, ou
de gratidão, ou
de admiração de
que, em certo
contexto, algo
se revista de
tanta e
desmesurada
importância para
nós, quando ali,
onde agora nos
demoramos, enfim
acordados na
dimensão mais
real da Vida, a
absoluta
relatividade de
tudo se revela
desconcertante,
e
inquestionável!
De fato,
episódios que
nos ocasionam
tanto desgaste
mental e
emocional,
agora, nos
comparecem com
clareza na sua
função relativa
de mero
aprendizado!
Assim, descanso!
Desafogo! O se
inspirar a
longos haustos,
como alguém que
deixa, enfim, a
atmosfera
atordoadora,
saturada de
fumaça tóxica,
de poluição
visual e
psíquica, para
então poder
respirar e
enxergar com
clareza, e
usufruir
ambiente
límpido,
cristalino,
livre de
pressões, de
miasmas
psíquicos, da
pressão
esmagadora dos
incontáveis
episódios
estressantes do
dia a dia!
Tal a
experiência, em
tudo
terapêutica, que
vivenciei por
mais de uma vez,
nas últimas
semanas!
Tudo, neste
estado liberto,
se resume ao
universo
exclusivo das
sensações
íntimas a
respeito de
tudo: conforme
as lembranças,
agora vagas,
desapegadas, dos
fatos mais
recentes,
desfilam nos
registros de
nossa memória,
sentimos, sobre
cada uma delas,
ora gratidão,
ora certa mágoa
de nós mesmos -
por qual razão
não
aproveitarmos
melhor as lições
de determinadas
circunstâncias,
sem tantas
ansiedades e tão
avolumados zelos
de nós mesmos?
De resultados e
de preocupações
improdutivas,
quando tudo se
prende a um
contexto
transitório, mas
é preciso que se
entenda que é
assim mesmo que
funciona, e que
outra não é a
razão de nos
demorarmos por
aqui, em meio à
atual balbúrdia
do mundo, senão
para exercitar
nossos melhores
valores,
perseverança e
força interior!
Para nos
conservarmos no
território das
boas escolhas, a
despeito de
tudo. E esse
resultado só é
obtido sob a
bagagem intensa
de pressão das
cobranças da
atual época, que
se despencam
sobre nós
diariamente, de
maneira a
ofuscar quase
por completo a
consciência de
que, em verdade,
o que somos, de
fato, não é
exatamente o
nosso personagem
da hora que
passa!
Somos pura
consciência,
revestidos do
acúmulo das
peculiaridades
adquiridas num
crescendo, ao
longo das eras,
que vamos
depurando, para
manifestar nossa
faceta divina do
melhor modo que
convém ao
Criador, visando
ao embelezamento
crescente da
Vida! E, esta
noção mais
clara, a temos
na duração da
bênção de uma
vivência de
projeção lúcida!
Durante a
projeção lúcida
do corpo físico,
deste modo, a
sensação de paz
é imperturbável!
E prevalece a
gratidão a tudo
- mesmo ao que
momentaneamente
nos incomoda,
porque, neste
estado, vem
fácil a noção de
desidentificação!
Não mais nos
identificamos
com os desafios
e problemas
transitórios,
diante da
vastidão da
eternidade que
compreendemos
que, em verdade,
somos nós, na
mais verdadeira
essência! Não
mais nos
identificamos
com o corpo
físico
temporário a
quem rendemos
profundo
reconhecimento
pelo serviço
perfeito que nos
presta, para a
nossa habitação
transitória na
face material do
planeta. Nem nos
identificamos
tanto com o que
possa
representar, na
duração de
alguns dias,
prazeres,
desprazeres, e
episódios
felizes, que
compreendemos
também pertencer
a alguns
momentos
passageiros,
pelo que somos
reconhecidos à
Vida por, no
modo de
interagir com o
que nos cerca,
os merecermos
como reconforto
precioso, em
meio às
agitações da
caminhada!
Lá longe,
hipnótica,
impressionante
na movimentação
mágica do
infinito
estrelado, a
Terra azulínea
rodopia,
imponente,
despojada de
ruídos
destoantes -
perfeitamente
entrosada na
execução musical
de seu próprio
solo na
orquestração dos
mundos! Em
torno, paz,
reverência
completa ao
Criador,
silêncio, e,
enfim, o resgate
da compreensão
definitiva do
nosso papel
diminuto, e a um
só tempo valioso
na conjuntura
monumental da
Criação
constante
evoluindo no
infinito:
consciência
desperta, na
essência mesma
do Universo
desperto e
autoconsciente
de suas
incessantes,
incontáveis
manifestações
vitais - eis o
que somos!
Consciência pura,
límpida,
pacífica! Eis
tudo!
As demais
coisas, todas,
deverão um dia
ser deixadas
para trás, na
esteira enevoada
dos tempos...