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Correio Mediúnico
Ano 8 - N° 386 - 26 de Outubro de 2014
 
 


Há um mar todo feito
para nós
 

Ir. Ferdinando (Espírito)


 “O vento sopra para sul, depois gira para o norte e, girando e girando, vai dando as suas voltas. Todos os rios correm para o mar, e o mar nunca transborda; embora cheguem ao fim do seu percurso, os rios sempre continuam a correr.” [Eclesiastes, 1:6-7.]

As sábias palavras do Livro de Eclesiastes nos faz pensar nas verdades espirituais por meio das manifestações simples da natureza. O que é o vento? Na meteorologia, os ventos são tratados e definidos como fluxo de gases que põem o ar em movimento. Assim, quando o vento se lança pelo globo terrestre, ele não apenas dispersa os poluentes do ar mas também produz e recicla energias tão importantes para vida no planeta. Portanto, seja por meio de ventanias ou de brisas, o vento sopra e ao soprar ele constrói e destrói, pois essa é a lei natural que o dirige.

O vento constrói condições de lazer, transportes marítimos e aéreos, esportes e tantas outras coisas. Há, nesse aspecto, muitas lições que o vento nos ensina. Mas, ele pode também destruir se por acaso ficar em um movimento circular em torno de si. Ao ficar ensimesmado, os ventos se transformam em tufões, ciclones, furacões ou quaisquer outros nomes que a meteorologia tem utilizado. E isso já nos traz uma importante lição segundo a qual insular-se, portanto, é destruir-se e destruir os que estão em volta de si. Estar encarnado na Terra é um convite para conviver com os demais e com eles aprender.

Na Bíblia, o Espírito Santo de Deus é comparado ao vento que sopra, àquele que paira sobre as águas, pois vento e água estão sempre juntos desde o início da criação do planeta. Ruah não apenas sopra, mas corre e percorre o mundo em que habitamos. É ubíquo. Está em toda parte e, por isso, enche o globo da presença de Deus.

Assim como o vento que, ao soprar, não cessa de percorrer seus caminhos, os rios também volteiam o globo, pois, como nos diz a Bíblia, “no princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas” (Gn, 1, 1-2). O vento e as águas estão, desde o início, sempre juntos a nos ensinar sobre a vontade criativa e criadora de Deus. O nosso orbe tem a sua constituição pela água que corre, escorre e percorre as superfícies, das mais tranquilas às mais acidentadas. É, pois, incansável em seu percurso. Torna, contorna e retorna, mas nunca da mesma maneira como partiu. É um movimento de renovação constante. Energias benfazejas dimanam desse movimento e, assim, a fluidificação das águas se soma ao sopro dos espíritos que vão e vêm ao sabor das migrações reencarnatórias.

Olhemos mais detidamente para os rios e pensemos: se a sua vocação é desaguar no mar, por que, mesmo atingindo esse objetivo, os rios prosseguem renitentes em seu percurso? Poderíamos, talvez, admitir que chegar ao mar não é um fim em si mesmo, mas é desejadamente um ponto abençoado onde é inevitável a miscigenação de partidas e chegadas. As águas que chegam ao mar se renovam e aprendem muito com a imensidão oceânica que as acolhe. As águas que dele partem carregam, dentro de si, parte do oceano que elas também foram um dia e esse é o motivo pelo qual as águas dos rios teimam em querer sempre voltar a desaguar no aconchego do mar. É, portanto, perdendo-se no grandioso mar que as águas dos rios se encontram e, assim, podem voltar ao seu percurso evolutivo.

Como observais, a natureza nos ensina muito, queridos. Vede o corpo somático e analisemos que, ao compor o conjunto dos outros corpos habitados e animados pelo espírito, o homem se particulariza biologicamente por ter 70% desse corpo constituído de água. Esse aspecto o põe, em sua condição de espírito encarnado, em uma relação de intensa identificação com o nosso planeta cuja tessitura terrestre também é coberta por 2/3 de água. Em outras palavras, tal qual a composição do corpo somático, o nosso magnífico Planeta Terra também é constituído por 70% de água e isso deve significar muito para todos nós. Há muito o que aprender pelo simples ato de observar a dinâmica da natureza do planeta.

Essas semelhanças deixam indeléveis as marcas da laboriosa criação de Deus. Diante delas, devemos nos perguntar: Na condição de filhos de Deus, que posições assumimos nesse cenário? Somos rios que seguem ou somos mar que recebe os rios? Na verdade, a vida vai exigir que sejamos ambos: rios e mar. Nesse sentido, é preciso estarmos preparados para, oportunamente, sermos um e outro quando convier a nossa evolução espiritual por meio da caridade, quando formos o mar que abraça, e da humildade, quando formos os rios que se deixam ser abraçados.

Se somos os rios que seguem, queremos prosseguir na jornada evolutiva mesmo quando voltarmos a nos fundir com o mar? Queremos nos submergir no mar e nele repousar eternamente ou queremos retornar quantas vezes esse ciclo evolutivo se mostrar necessário ao nosso progresso moral, ético e espiritual?

Os espíritos migram de uma existência à outra como rios que, incansavelmente, fluem em busca do mar. O mar é Deus e representa uma metáfora do progresso que se concretiza na superação do que nos atrasa. O mar é a angelitude para a qual todos temos a natural propensão. Mas, o percurso exige a perseverança dos rios e o deslizar da coreografia dos ventos. Dos rios, porque com eles aprendemos a importância de jamais nos cansarmos de ir ao mar e dele regressar mais fortalecido. Dos ventos, porque estes nos ensinam que é importante dissiparmos os poluentes e renovarmos as energias que nos circundam, procurando gerar mais brisas do que ventanias e evitar, a todo custo, transformarmo-nos em furacões.

Não obstante isso, às vezes, devemos também ser o mar uns dos outros. Sim, o filho busca no pai e na mãe um mar de amor que acolhe e educa. O aluno busca no professor um mar de conhecimento que o forma para vida. O paciente busca no médico e no enfermeiro um mar terapêutico para suas dores somáticas. O amigo busca na amizade do outro o mar de compreensão e ajuda mútuas, e assim por diante. Contudo, às vezes escolhemos desaguar em horas erradas, em situações erradas. Daí surgem a dor, o desespero e as doenças que molestam os corpos de que se constituem o espírito feito à imagem e à semelhança de seu Criador. As dores surgem em certos deságues porque ali ainda não era o mar verdadeiro. Por este motivo, a juventude precisa ser rio que corre para o mar verdadeiro. Cuidemos, portanto, dos jovens cuja tendência impetuosa os leva a não enxergá-lo.

Em função disso, é preciso um esforço coletivo de todos para ensinarmos os jovens sobre o fato de que a beleza, a vaidade, o desajuste do sexo, a mentira e a traição não são, de modo algum, mares confiáveis. Não podemos transformar os esgotos em nossos mares! Porém, se mesmo assim o fizermos, ainda teremos um mar para nos acolher, pois mesmo a dor pode ser um “mar necessário” e, inevitavelmente, muitas vezes precisamos desaguar nela para percebermos que nos confundimos no e com o caminho.

A lei do progresso é inviolável. Se não for pela poesia serpentina dos rios e pela coreografia deslizante dos ventos, que seja então pela imersão no mar da dor, e que esta seja sempre encarada como uma oportunidade educativa. O que importa é progredir, essa é a pedagogia de Deus. Faz parte da missão de muitos encarnados na Terra ajudar nessa fase de transição planetária por meio da qual a dor, um dia, deixará de ser o mar para os rios que se “perderam” ao invés de seguirem o seu percurso natural.

De todo modo, é importante insistir: Não desaguemos em esgotos porque há um mar todo feito para nós! Não nos dobremos à impetuosidade das ventanias destrutivas das paixões e nem da bisbilhotice que tolhe o espírito em marcha! Ao contrário, olhemos para os rios e aprendamos com eles que o percurso em busca do verdadeiro mar exige paciência e a coragem de enfrentar subidas íngremes e quedas vertiginosas. Depois dessa viagem, ao abeirar-se do mar e por ele deixar-se envolver, o cansaço oriundo do decurso das águas será consumido pelo acolhimento oceânico que sempre e generosamente se derrama sobre o cansaço de quem fez uma longa, mas necessária, viagem.

Quando esse momento chegar, é hora de aprender muito mais, de aceitar ajuda e amparo, é tempo de replanejar-se para, oportunamente, seguir a incessante viagem em busca da evolução. É chegada então a hora de desbravar outros cenários, novos percursos ao sabor de novos ventos.

Fiquemos na paz do Divino Mestre.

 

Mensagem psicografada pelo médium Júlio Araújo, no dia 31 de outubro de 2013, em Fortaleza, Ceará.


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita