ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Alzheimer
espiritual
O papa Francisco
tem se
notabilizado
pela coragem e
firmeza em seus
pronunciamentos.
A ele tem
cabido, como
líder de uma das
maiores
instituições
religiosas do
planeta, a dura
missão de
corrigir o rumo
do Catolicismo
diante dos
desmandos e
desvirtuamentos
perpetrados
pelos seus
prelados ao
longo das
últimas décadas
e do
distanciamento
dos ensinamentos
de Jesus Cristo.
O seu
pontificado tem
sido notável por
apontar com
clareza
meridiana as
fraturas morais
praticadas pela
sua instituição
num autêntico
processo
catártico.
Recentemente, o
Papa Francisco
apresentou, num
encontro
religioso
comemorativo do
Natal, todos os
males que, a seu
ver, estavam
contaminando a
religião
Católica.
Não pretendemos
nos deter nos
pormenores da
sua alocução,
pois cada
religião tem os
seus problemas e
deficiências,
mas nos ater a
um aspecto que,
em nosso
entendimento,
tem alcance
ainda maior do
que o por ele
proposto. Ou
seja, trata-se
do “Alzheimer
espiritual” como
ele próprio
denominou.
Explicando
melhor, o Papa
referiu-se a
essa metáfora
como resultado
do esquecimento
por parte dos
sofredores dos
seus respectivos
encontros com
Deus. Em nossa
visão, a
metáfora aí
empregada
comporta outros
raciocínios e
conjecturas que,
de certa
maneira,
envolvem toda a
humanidade.
Não há como
negar que temos
sido um tanto
descuidados,
para usar um
eufemismo, com o
elevado conteúdo
proveniente da
mensagem do
Cristo de Deus.
Se considerarmos
que a encarnação
em si já é uma
dádiva
extraordinária
concedida pelo
mais alto, então
a maioria de nós
está em débito.
Apenas por essa
razão, afinal,
já deveríamos
agradecer todos
os dias de nossa
vida.
Por outro lado,
o nosso
Alzheimer
espiritual não
nos permite
enxergar que
tudo que vem do
Cristo é simples
e objetivo. No
seu evangelho
encontramos, a
propósito, os
salutares
remédios para
todos os males
da humanidade.
Mas mesmo assim
continuamos em
nossa sanha
autodestrutiva e
inconsequente.
Simplesmente,
não conseguimos
ainda nos
amoldar aos seus
ensinamentos e
recomendações.
Uma das mais
expressivas
demonstrações do
nosso Alzheimer
espiritual
decorre do fato
de que, no
geral, vivemos
manietados a uma
vida consumista
onde o ter
é um
imperativo. Em
consequência,
pouco ou nada
desenvolvemos no
que concerne ao
ser. Em
razão dessa
dificuldade de
interpretação,
acorremos aos
consultórios de
psicólogos,
terapeutas,
orientadores e
quejandos,
buscando
soluções para
toda a sorte de
problemas
existenciais
quando a cura
está, muitas
vezes, em nós
mesmos. Ou seja,
em criarmos
vontade e
disposição de
nos
autoconhecermos
como, de fato,
somos. Com
efeito, quem
costuma olhar
para o interior
da sua alma sabe
perfeitamente o
que precisa
melhorar.
O nosso
Alzheimer
espiritual nos
impede de
aceitar a
realidade de que
os sofrimentos,
as adversidades
e os
contratempos são
elementos
normais do
caminho
redentor, não a
ira de Deus
sobre nós. O
nosso Alzheimer
espiritual nos
leva a desejar
aquilo que já
contribuiu para
a nossa queda em
outros tempos. A
pura e humilde
aceitação da
pobreza como
condição
reabilitadora,
por exemplo,
poderia
contribuir para
a recuperação
espiritual de
muitos que
invadem as
propriedades
privadas no
século presente
tentando obter à
força o que não
lhes pertence.
O Alzheimer
espiritual pode
nos levar a uma
situação
provisória de
sustentação do
poder e, por
extensão, ao
perigo de
sucumbirmos ao
seu fascínio.
Nesse sentido,
não chega a ser
surpreendente
observarmos
empresários e
executivos de
grandes
organizações
presos por atos
de corrupção,
assim como
certos políticos
que assumiram a
responsabilidade
de defender os
interesses dos
eleitores que os
elegeram.
O Alzheimer
espiritual afeta
todos aqueles
que
comercializam
dons mediúnicos
que
gratuitamente
receberam - como
vemos muitos
hoje em dia -,
os quais deverão
prestar contas
dos seus atos
mais dia menos
dia à
espiritualidade.
O Alzheimer
espiritual
também abarca
aqueles que
assumiram o
compromisso/missão
de realizar
tarefas em
benefício da
humanidade, mas
que ao longo da
caminhada
terrena se
perderam.
O Alzheimer
espiritual afeta
igualmente os
que negligenciam
o
desenvolvimento
de sua própria
espiritualidade,
isto é, aqueles
que arrumam
tempo para tudo,
exceto para a
meditação, a
oração, a
leitura
edificante, ou
para o encontro
com o Deus
interior. Como
bem pondera o
Espírito Joanna
de Ângelis, “...
a existência
física é uma
experiência de
iluminação e não
uma pousada para
o prazer
infinito”.
O Alzheimer
espiritual
domina aqueles
que se enxergam
como o centro do
mundo e que
desrespeitam e
maltratam os
seus
semelhantes.
O Alzheimer
espiritual
atinge os que
ainda são
incapazes de
sequer cogitar
se há vida após
a morte ou que
tem medo de
encará-la. O
Alzheimer
espiritual
acomete os que
vivem uma
existência rala
de valores
universais, sem
propósitos
superiores e
práticas
voltadas ao bem.
Em suma, o
Alzheimer
espiritual
perpassa
basicamente
aquela porção da
humanidade que
ainda não
entendeu o
significado da
vida e que não
percebeu que
Jesus é o
caminho e a
verdade a ser
assimilada.