Marlene
Nobre desencarna e
o
movimento espírita perde
uma grande
trabalhadora
Amigos e
pessoas diretamente
ligadas a ela falaram na
despedida da estimada
divulgadora espírita e
presidente da AME
Internacional
Como foi amplamente
divulgado, desencarnou
em decorrência de
infarto, na manhã do dia
5 de janeiro, em
Ilhabela, no litoral
paulista, a doutora
Marlene Rossi Severino
Nobre. Seu falecimento
constitui sensível perda
para o movimento
espírita brasileiro e
internacional, em face
do trabalho que ela
desenvolveu à frente da
Associação
Médico-Espírita, seja em
São Paulo, seja no
Brasil, seja fora do
nosso país, por
intermédio da AME
Internacional.
Paulista do interior,
nascida no ano de 1937
na cidade de Severínia,
Marlene Nobre estava com
77 anos de idade.
Viúva do jornalista,
advogado e ex-deputado
federal Freitas Nobre,
era mãe de dois filhos –
Marcos e Marcelo.
Com Freitas Nobre,
participou da fundação
do Lar do Alvorecer, na
cidade de Diadema; do
Grupo Espírita Cairbar
Schutel, no bairro do
Jabaquara, em São Paulo;
e do jornal Folha
Espírita, lançado em
18/4/1974.
Médica ginecologista,
especializada em
oncologia, Marlene Nobre
é autora dos livros
espíritas O passe como
cura magnética, Obsessão
e suas máscaras,
Testemunho da Vida de
Chico Xavier, Não será
em 2012, O dom da
Mediunidade, Nossa Vida
no além, À Luz do Eterno
recomeço, A alma da
matéria, Lições de
Sabedoria e o recém-lançado
Chico Xavier –
meus pedaços do espelho.
Mantinha o programa
semanal "Diálogos
médicos" na Rede Boa
Nova de Rádio e o
programa de TV "Portal de
Luz", na TV Mundo Maior.
Os funerais
–
O sepultamento do seu
corpo ocorreu na manhã
do dia 7 de janeiro, no
Cemitério do Araçá, em
São Paulo. Um público
numeroso acompanhou a
cerimônia, da qual
participaram confrades
conhecidos e muito
ligados à vida e ao
trabalho de Marlene
Nobre, a exemplo de
Oceano Vieira de Melo,
coordenador do Museu
Espírita de São Paulo,
que representou na
oportunidade a direção
da Federação Espírita
Brasileira.
Além dele, fizeram-se
presentes Elsa Rossi,
representando o Conselho
Espírita Internacional
(CEI); Júlia Nezu,
presidente da USE –
União das Sociedades
Espíritas do Estado de
São Paulo; a professora
Irvênia Prada, da AME
Brasil: a dra. Elizabeth
Nicodemos, da AME São
Paulo; os jornalistas
Alamar Régis Carvalho,
Claudia Santos e
Conrado, entre outros.
Os amigos mencionados usaram a
palavra, momentos antes
do sepultamento,
enaltecendo o trabalho
que Marlene Nobre
realizou no Brasil e
fora dele, à frente das AMEs São
Paulo, Brasil e
Internacional. O último
a falar foi Paulo Rossi
Severino, irmão de
Marlene Nobre, que
apresentou
interessante retrospecto
da vida da irmã e da
família. Em sua fala,
Paulo lembrou que tudo
na vida deles foi feito
com muitas dificuldades,
inclusive a luta da irmã
para ingressar e se
formar em Medicina.
Depois das saudações,
Marcelo Nobre encerrou a
cerimônia que precedeu a
inumação.
Vida e
obra
–
Em 2010 a doutora Marlene
Nobre concedeu uma
alentada entrevista ao
confrade Ismael Gobbo.
Da entrevista, que foi
publicada no dia
12/4/2010 no Blog do
Ismael:
ismaelgobbo.blogspot.com
- desta-camos, com a
devida vênia, as
informações adiante
reproduzidas, |
|
que mostram,
pelas próprias
palavras de
Marlene, como
foi sua
trajetória no
movimento
espírita
brasileiro e
internacional. |
Vinculação com as AMEs –
”Assumi em 1995 a
presidência da
Associação
Médico-Espírita do
Brasil, acompanhando-a
desde a sua fundação até
os dias de hoje. Também
tomei parte na primeira
Diretoria da Associação
Médico-Espírita de São
Paulo, fundada em 30 de
março de 1968, da qual
originaram-se as outras
AMEs, inclusive a
Brasileira.”
O encontro com Freitas
Nobre –
“Encontrei Freitas Nobre
em 1962, em Uberaba, nos
trabalhos da Comunhão
Espírita Cristã, quando
ele realizou um grande
sonho: conhecer Chico
Xavier. Isto foi
possível graças ao
incentivo de nosso
grande amigo Spartaco
Ghilardi, do Grupo
Espírita Batuíra de São
Paulo, que organizava
caravanas periódicas
para visitar Chico em
Uberaba. Nesta mesma
caravana de maio de 1962
estavam, entre outros, o
dr. Luiz Monteiro de
Barros e Apolo Oliva
Filho, amigos de longa
data. (...) Em 1962,
Freitas era
vice-prefeito de São
Paulo, governando a
cidade ao lado de
Prestes Maia. Antes ele
havia sido vereador da
Capital por várias
legislaturas.”
Surgimento do Grupo
Cairbar Schutel
– "Em 1963, iniciamos as
tarefas de assistência
aos mais carentes em
Santo André e São
Caetano do Sul, e, em
1966, em Diadema.
Conforme instrução do
Chico, fundamos o Grupo
Espírita Cairbar
Schutel. Freitas
participou conosco dos
primeiros tempos, logo
depois, a partir de
1968, ele tinha que
estar em Brasília."
Influência da família
– "O Culto do Evangelho
em nossa casa, feito com
tanta unção por meus
pais, é uma referência
inesquecível na minha
vida, uma vigorosa viga
de sustentação de minha
alma carente de
Espiritualidade. Também
foi um marco fundamental
em minha trajetória de
vida o Grupo Espírita
Conceição-Carolina, do
qual participei na minha
adolescência na casa de
meu avô Aristodemo
Rossi, à rua Bela
Cintra, em São Paulo,
dirigido por meu pai,
Pedro Severino Jr., com
a participação assídua
do meu irmão Paulo Rossi
Severino e de alguns
conhecidos e parentes, e
que depois se
transformaria no Grupo
Espírita Cairbar
Schutel."
O período passado em
Uberaba – "De
1957 a 1962, enquanto
fiz Medicina na
Faculdade Federal do
Triângulo Mineiro,
estive diretamente
ligada ao movimento
espírita em Uberaba,
particularmente aos
trabalhos da Comunhão
Espírita Cristã (CEC),
junto ao nosso Chico.
Além das tarefas nas
sessões públicas da CEC,
dei aulas de moral
cristã na Evangelização
infantil do Centro
Espírita Uberabense e
fiz dois programas de
rádio."
AME São Paulo
– "Em 1968, 30 de março,
tivemos um marco
importante com a
fundação da Associação
Médico-Espírita de São
Paulo, da qual fui a
primeira secretária.
Muitos colegas, dentre
os quais, Luiz Monteiro
de Barros, Adroaldo
Modesto Gil, Antonio
Ferreira Filho, Eurico
Branco Ribeiro, Maria
Julia Prieto Peres,
Alberto Lyra, Miguel e
Luiz Dorgan, uniram-se
sob a inspiração de
Batuíra e Bezerra de
Menezes, através do
médium Spartaco
Ghilardi, para lançar as
bases do movimento
médico-espírita no
Brasil. (...) Em
fevereiro de 1990,
assumi a presidência da
Associação
Médico-Espírita de São
Paulo, que atravessava
naquele momento um
período de muita
turbulência espiritual.
Chico Xavier veio em meu
auxílio, por ocasião de
uma das minhas visitas a
Uberaba, dizendo-me para
eu ter paciência, que o
Dr. Bezerra iria me
ajudar, porque uma
falange negativa havia
se postado contra a AME,
tentando impedi-la de
realizar importante
tarefa que lhe estava
reservada dentro do
movimento espírita. No
começo de 1990, dos nove
elementos da Diretoria,
ficamos reduzidos a
apenas dois e a
frequência não passava
de meia dúzia de
colegas, se tanto. Chico
foi nosso grande
sustentáculo nessa fase
difícil."
AME Brasil –
"Com a desencarnação de
meu marido a 19 de
novembro de 1990, fui
chamada, cerca de quinze
dias depois, por Dr.
Bezerra de Menezes para
a tarefa de aglutinar
colegas e formar a
AME-Brasil. A partir daí
começou uma outra etapa
na minha vida, porque
fiquei mais ligada ao
movimento
médico-espírita, sem, no
entanto, abandonar
nenhuma das tarefas a
que estava anteriormente
vinculada. (...) No
final de 1990, como já
me referi, dia 19 de
novembro, meu marido
partiu, aos 68 anos,
vítima de câncer. No
início de dezembro, Dr.
Bezerra de Menezes
conclamou-me para a
tarefa mais ampla a que
Chico se referira e que
só a partir de então
tomei conhecimento, a de
chamar os colegas para a
fundação da Associação
Brasileira que
aglutinaria todas as
AMEs. E que eu deveria
me empenhar para a
fundação das AMEs nos
Estados, porque era
chegada a hora. Disse-me
o nosso Patrono que a
Associação já estava
formada no coração de
Jesus e que nós
precisávamos
materializá-la na Terra.
E assim foi feito.
Iniciamos, em 1991, com
vistas à concretização
desse projeto, o
primeiro Congresso da
AME-São Paulo, no
Anhembi, conclamando os
colegas de todos os
Estados para a fundação
das AMEs. No Terceiro
Congresso, em 1995, dia
17 de junho, com 9 AMEs
já formadas, fundamos a
AME-Brasil."
AME Internacional
– "Em junho de 1999, com
representantes de seis
países – Argentina,
Brasil, Colômbia,
Guatemala, Panamá e
Portugal – fundamos a
AME-Internacional. Desde
2001, eventos são
realizados com a
participação dos médicos
da AME que integram os
diferentes países. Hoje,
além das AMEs
fundadoras, temos
AME-EUA, AME-Cuba,
AME-Suíça. E outras mais
em via de fundação."
Folha Espírita
–
"A partir da
desencarnação do meu
marido, em 1990, passei
a ser inteiramente
responsável pela Folha
Espírita, até que em
2004 um grupo de
companheiros do GECS, de
grande garra e
competência, assumiu
comigo o ideal do nosso
jornal."
Como conciliava tantas tarefas
– "Como é natural, só
posso dirigir essas
instituições com a
contribuição da
comunicação cibernética.
Tenho de dar conta de
dezenas de e-mails por
dia, entrevistas,
gravações semanais, e
tudo isso
costurado com as minhas
frequentes viagens de
divulgação do ideal
médico-espírita. Para
isso, não tiro férias,
trabalho muito nos
feriados, e raramente
tenho outra atividade
que não seja
doutrinária. Não creio,
no entanto, que esteja
fazendo algo que me
distinga dos demais
companheiros de ideal
espírita, sinceramente,
acho que faço pouco;
deveria me empenhar
mais. Sempre gostei
de trabalhar e agora me
sinto muito feliz,
porque estou ligada ao
que realmente gosto de
fazer."
A divulgação do
Espiritismo no
exterior –
"Creio que a linguagem
médico-espírita está
mais voltada ao braço
científico da Doutrina,
por isso tem sido bem
aceita por nossos irmãos
do exterior. Todos nós
sabemos a dificuldade
que é divulgar o
Espiritismo em outros
países, e isto se dá
principalmente porque
não há aceitação do
movimento da forma como
é organizado no Brasil.
Temos de compreender que
são culturas diferentes.
Os europeus, por
exemplo, têm desgostos
profundos com seitas e
religiões, por isso são
arredios a quaisquer
apelos nesse sentido. E,
infelizmente, incluíram
também nessa rejeição as
lições do Cristo, daí a
dificuldade de aceitar o
modo brasileiro de viver
o Espiritismo. Eles não
gostam de pregação no
velho estilo, daquele
que lhes pareçam lavagem
cerebral, imposição de
ideias sem discussão. O
modo como os médicos das AMEs apresentam as
palestras tem agradado,
porque primeiramente nós
levamos a argumentação
científica, chamando à
razão, e depois tiramos
a conclusão religiosa.
Há também um gosto
apurado para pesquisas e
estas são muito
diferentes das que foram
realizadas no século
XIX. E é justamente
nelas que as nossas AMES
têm procurado se
esmerar."
Convivência com Chico
Xavier –
"Conheci Chico em
outubro de 1958, às
vésperas da sua mudança
para Uberaba, o que veio
a ocorrer em janeiro de
1959. Ele pediu ao meu
colega de Faculdade,
Waldo Vieira, que me
levasse até ele, porque
precisava conversar
comigo. Durante a
entrevista, como não o
conhecia, apenas havia
lido suas obras, fiquei
muito admirada com o
convite que |
|
me fez, o de
trabalhar com
ele nas sessões
públicas da
Comunhão
Espírita Cristã,
a partir de
janeiro, quando
ele já estivesse
instalado
definitivamente
em Uberaba. E
foi o que
aconteceu.
Durante cerca de
quatro anos, de
janeiro de 1959
a dezembro de
1962, trabalhei
com ele, dando
minha pequena
parcela de
contribuição na
interpretação
dos textos de O Livro dos Espíritos
e de O Evangelho segundo
o Espiritismo, obras que
eram estudadas nos dias
de sessão pública." |
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