LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Os dois fundamentos
O Mestre destaca, entre
os seus discípulos,
aquele
que lhe ouve
os ensinamentos e os
pratica
Após quarenta dias de
silêncio e meditação,
Jesus dá a primeira e
mais importante mensagem
ao povo, conhecida como
o Sermão da Montanha, ou
Sermão do Monte ou das
Bem-Aventuranças,
trazendo os fundamentos
do Cristianismo e um
código de conduta moral.
Deixa-nos palavras
consoladoras de fé,
resignação nas
adversidades,
misericórdia e mansidão
nas lutas.
Encerrando a mensagem,
Jesus pronuncia as
seguintes palavras:
“Todo aquele, pois, que
ouve estas palavras e as
pratica, será comparado
a um homem prudente que
edificou sua casa sobre
a rocha. E caiu a chuva,
transbordaram os rios,
sopraram os ventos e
deram com ímpeto contra
aquela casa, que não
caiu, porque fora
edificada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve
as minhas palavras e não
as pratica será
comparado a um homem
insensato que edificou a
sua casa sobre a areia.
E caiu a chuva,
transbordaram os rios,
sopraram os ventos e
deram com ímpeto contra
aquela casa, e ela
desabou, sendo grande a
sua ruína”. (Mateus,
7:24-27.)
A advertência de Jesus,
nessas últimas palavras,
é, em verdade, um
convite para que
tenhamos consciência da
nossa responsabilidade
diante das escolhas que
fazemos. Essa conclusão
do sermão resume,
portanto, o seguinte: a
essência da sabedoria e
da felicidade da vida
está em realizar as
grandes verdades, e não
somente em ouvi-las.
Mas que palavras foram
essas que Jesus proferiu
e que devemos colocar em
prática? Jesus estimula
o que temos de melhor,
convidando-nos a ser
perfeitos como nosso Pai
Celestial é perfeito;
para que não nos
percamos na
transitoriedade de tudo
que seja material e para
nos atermos ao que seja
essencial e perene: a
vida do Espírito;
lembra-nos para rever
ideias, atitudes,
buscando pensar e fazer
melhor do que se pensou
e fez hoje; diz-nos para
nos reconciliarmos,
através do perdão, com
nossos adversários,
nossos desafetos;
convida-nos a fazer
caridade sem ostentação
e a orar com amor,
humildade, simplicidade,
estabelecendo ligação
harmoniosa com o Plano
Maior.
No trecho evangélico,
alvo da nossa atenção, o
Mestre classifica os
seres humanos em duas
categorias: o homem
sensato que edificou sua
casa sobre rocha e o
imprudente que edificou
sua casa sobre areia
movediça. Sob esse
aspecto, podemos
encontrar três
interpretações das
palavras de Jesus:
A primeira mostra que o
livre-arbítrio, ou seja,
o direito de escolher o
caminho para nossa
evolução espiritual é
uma força criadora,
capaz de levar o homem a
realizar em si o que
antes não existia.
Estamos falando da
transformação dos seus
sentimentos, das
mudanças na nossa forma
de agir e pensar em
relação ao outro.
Um exemplo bastante
significativo é o da
Parábola dos Talentos,
na qual os dois
primeiros servos –
servos bons e fiéis –
duplicaram as moedas que
haviam recebido do seu
senhor, entendendo o
senhor como Deus, e, as
moedas, representando os
talentos que todos nós
possuímos. Isto
significa que
transformaram o
“pouco” que
receberam no “muito”
da sua capacidade.
O Mestre coloca a
suprema sabedoria do
homem no fato de ela
poder realizar, isto é,
colocar em prática,
através das suas
escolhas, aquilo que
ouviu e compreendeu como
sendo a Verdade.
Analisando o
ensinamento, podemos
perceber que Ele não se
refere a nada que seja
externo ao homem, que
esteja no mundo
exterior, mas a criação
de algo interno, de uma
modificação essencial,
isto é, da modificação
do ego, do ser egoísta,
em um ser consciente da
sua condição de filho de
Deus e, portanto, irmão
do outro.
Isto acontece com o
homem que edificou a
casa da sua vida sobre a
rocha da Verdade;
Verdade essa que,
plenamente vivida, gera
a liberdade, liberdade
que gera a felicidade.
Esse homem consciente
modifica as suas
vivências em todos os
setores da vida. Um
exemplo clássico que
podemos observar: Um
homem é tido como calmo
e cordato na casa de
oração que frequenta, ou
na vida social, ou mesmo
no seu local de
trabalho. Todavia, no
lar, aborrece-se porque
as coisas não acontecem
como deseja, segundo
seus caprichos.
O outro homem
“edifica a casa da sua
vida sobre areia
movediça de ruidosas
atividades materiais,
sociais e intelectuais;
a sua vida se parece em
tudo com uma enorme
quantidade de grãozinhos
de areia, justapostos,
desconexos, sem nenhuma
coesão interna”.¹
Toda sua vida é repleta
de quantidades e poucas
ou nenhuma qualidade.
Uma segunda
interpretação sobre
nosso tema é a seguinte:
Jesus compara a crença
com um edifício. “A
boa crença é semelhante
ao sólido edifício
construído sobre a
rocha; a má crença é
como um edifício de má
construção, levantado
sobre areia movediça.”²
A primeira, a boa
crença, nasce do estudo,
da análise, da
observação. Ela é ativa,
racional e científica. A
segunda, a má crença, é
passiva, que aceita
todos os dogmas, as
verdades que lhe são
sugeridas, sem um exame
cuidadoso, sem convicção
que possa sustentar os
homens em momentos
tumultuosos, de grandes
aflições.
O que Jesus apresenta no
final do Sermão da
Montanha é uma alegoria
belíssima. Vejamos
então: Quando pensamos
na construção de uma boa
casa, resistente às
intempéries, alguns
cuidados devem ser
tomados. É preciso
procurar um bom terreno
e construir alicerces
sólidos para sustentarem
o peso dela. Outros não
se importam muito com
esses cuidados e acabam
levantando construção
que oferece perigo aos
seus moradores.
“Assim é a Religião:
quem procura com boa
vontade e livre de
ideias preconcebidas a
Verdade, e está disposto
a abraçá-la, está
edificando sobre rocha:
quem se submete a
qualquer doutrina, sem
consciência do que faz,
edifica sem base e em
terreno movediço.”
²
Mas não basta encontrar
o terreno, como não
basta encontrar a
Verdade para tê-la
dentro de si. É preciso
construir a crença como
se constrói a casa.
Para se levantar a casa,
necessitamos dos
alicerces; para se
erguer a crença, é
preciso buscar o
material vindo do Céu. E
esse alicerce só terá
razão de ser se somarmos
a esse material divino o
nosso trabalho e o nosso
esforço. E mais sólido e
belo será esse edifício
quanto maior for a
dedicação para
terminá-lo, e tornar-se
nosso abrigo eterno. São
nas intempéries, nas
provações da existência
que encontramos, nessa
crença bem construída, a
calma, a coragem e a
fortaleza para vencermos
as lutas do dia a dia.
Uma outra interpretação
dessa passagem
evangélica e que também
merece destaque diz
respeito aos pregadores
do Evangelho, em uma
palavra, seus
divulgadores. Essas
pessoas sempre foram
tidas como expressões
máximas do Cristianismo;
mas isso só aconteceu
quando – nas palavras de
Emmanuel – esses homens
não esqueceram a
vigilância indispensável
ao correto testemunho:
“Falo e ajo em
consonância com o
Evangelho que prego”.
É interessante notar que
o Mestre destaca, entre
todos os seus
discípulos, aquele que
lhe ouve os ensinamentos
e os pratica.
Concluindo-se, daí, que
não basta ser portador
de talentos com a
palavra, de ser orador
brilhante, mas é
fundamental que o
discípulo de Jesus seja,
igualmente, portador da
atenção e da boa
vontade, ante os ensinos
do Mestre, examinando o
seu conteúdo espiritual,
a sua essência, para
aplicar primeiro em si
próprio, no esforço
diário de renovação
moral.
Continua nosso estimado
benfeitor espiritual a
nos informar que todas
as criaturas em serviço
no campo evangélico –
não importa qual seja a
tarefa – seguirão em
direção à fé verdadeira,
baseada nos alicerces da
Verdade, da casa
construída sobre rocha.
Isso será inevitável.
Mas, afirma ele, que não
podemos nos esquecer do
valor dos homens
moderados que,
exemplificando os
ensinos e avisos da Boa
Nova, cuidaram e cuidam
da solução de problemas
do dia a dia, ou de
dificuldades
circunstanciais, “sem
permitirem que suas
edificações individuais
se processem longe das
bases cristãs
imprescindíveis”³.
Bibliografia:
1 - ROHDEN, Huberto.
Sabedoria das Parábolas
– 12ª ed., Editora
Martin Claret, SÃO
PAULO/SP – “Casa sobre
rocha – casa sobre
areia” - 1997- pp.
47-51.
2 – SCHUTEL, Cairbar.
Parábolas e Ensinos de
Jesus – 14ª ed.,
Casa Editora O Clarim,
MATÃO/SP – “Os dois
Fundamentos” - 1997 –
pp. 156-158.
3 – EMMANUEL (Espírito).
Pão Nosso –
[psicografado por
Francisco Cândido
Xavier], - 17ª ed., FEB
– BRASILIA/DF – 1996 –
Lição nº 09.