MARCELO
TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis,
RJ (Brasil)
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Férias e feriados. Lá
vamos
nós outra vez
No meu livro anterior –
“Inquietações de um
Espírita” – há um
capítulo chamado “As
férias e o centro
espírita”. Nele, comento
sobre trabalhadores e
frequentadores de
centros espíritas que
somem por dois ou três
meses quando as
atividades das quais
participam entram em
recesso em dezembro,
janeiro e fevereiro.
Volto ao assunto por
julgar pertinente e por
achar que se trata de um
fato mais corriqueiro –
e preocupante – do que
eu imaginava.
Fui responsável por
alguns anos pelas
escalas das reuniões
públicas doutrinárias da
União Municipal Espírita
de Petrópolis (Umep).
Certa vez, Cilene (nome
fictício), expositora
escalada para falar no
sábado seguinte ao
carnaval, me ligou dias
antes do início das
festas de momo. Ela iria
estender o feriado além
da terça-feira gorda e
viajar com marido e
filhos. Por isso, não
poderia fazer a palestra
e pediu para que eu
escalasse outra pessoa.
Sem problema. Trocas na
escala acontecem. Além
disso, todo mundo tem
direito de aproveitar um
feriado para dar uma
relaxada.
No entanto, o que ela
disse em seguida me
surpreendeu. Cilene
alegou que não deveria
haver reunião pública
doutrinária nos sábados
seguintes ao carnaval.
Afinal, é um feriado
longo e muita gente
aproveita para descansar
por toda a semana.
Respondi, então, que, se
fosse assim, deveríamos
suspender as reuniões
públicas de sábado
quando dos feriados de
Semana Santa e Corpus
Christi. E deveríamos,
também, suspender toda e
qualquer reunião pública
que caísse em feriado
(Finados, Proclamação da
República, Dia do
Trabalho...), fosse no
sábado, quarta-feira,
segunda-feira... Calhou
de ser feriado em dia de
reunião pública,
suspende-se a reunião,
pois ninguém vai e todo
mundo quer descansar.
Ninguém e todo mundo
costumam ser conceitos
bem subjetivos. Certa
vez, Reginaldo, amigo
meu residente em outra
cidade, ouviu do filho
Mateus, de 14 anos, que
não haveria reunião de
mocidade no sábado
seguinte. Motivo: a
coordenadora de mocidade
suspendera a reunião
porque iria ser feriado
prolongado e todo mundo
iria viajar. Todo mundo
quem, cara-pálida? Só se
for todo mundo que essa
coordenadora conhece.
Como pode ela responder
por todas as pessoas que
frequentam o centro
espírita? Reginaldo e
família não iriam
viajar, pois a grana
estava curta. As
famílias de outros
jovens também iriam
ficar na cidade, e por
vários motivos:
trabalho, compromissos
sociais, falta de
vontade de viajar... Em
suma, vários jovens,
frequentadores da
mocidade, iriam ficar
sem a evangelização, da
qual tanto gostavam,
pois todo mundo iria
viajar, segundo a
coordenadora.
Não sei se ela viajou.
Provavelmente sim. E
talvez outros
aplicadores de estudo
quisessem descansar no
feriado prolongado.
Todos têm esse direito,
é claro. Mas decerto
havia outros aplicadores
que não iriam viajar e
poderiam muito bem tocar
a reunião de mocidade.
Mas optou-se pela
conveniência de alguns,
que acham que todo mundo
vai viajar.
Já vi centros espíritas
que suspendem a reunião
de mocidade no mês de
janeiro alegando que
todo mundo está de
férias. Quem é todo
mundo, afinal? Sei que é
período de férias
escolares. Sei também
que muitos profissionais
tiram férias no início
do ano. Mas sei, ainda,
que nem todo mundo tira
férias nessa época. E
muitos que tiram férias
não têm condições de
viajar. Estamos no
Brasil, país de muitos
contrastes econômicos.
Fechar as portas da
mocidade em janeiro é
tirar de muitos jovens o
ensejo de se
encontrarem. Digo isso
de cadeira, pois
evangelizei jovens por
muitos anos e sempre
mantivemos a reunião de
mocidade em janeiro, e
com o salão cheio.
Aproveitávamos para
fazer atividades
diferentes, como
dinâmicas de grupo. Os
jovens adoravam, e os
evangelizadores que não
estavam de férias
também.
Inquieta a mim quando
reuniões são suspensas
por causa de feriados. E
me inquieta quando vejo
que a frequência às
reuniões públicas cai
porque é feriado.
No centro do qual faço
parte há reuniões
públicas nas terças e
quartas-feiras às 20h.
Certa vez, fiz a
palestra do dia 12 de
outubro, feriado
nacional, que caiu numa
terça-feira. O salão,
sempre cheio, estava
praticamente vazio. Não
estou questionando,
deixo claro, o fato de
as pessoas aproveitarem
o feriado para
descansar. Muitos tiram
o dia para dormir até
tarde, visitar alguém,
curtir a família... Mas
uma reunião pública
doutrinária noturna não
é alcançada pelo horário
comercial do feriado. Ou
seja, em dias comuns,
saímos do trabalho no
fim da tarde, passamos
em casa ou vamos tratar
de outro assunto. Em
seguida, vamos ao centro
assistir à palestra. Se
for feriado, eu vou
descansar do trabalho e
de outras atividades. À
noite, já estou pronto
para ir ao centro. No
entanto, muita gente
encara a ida ao centro
espírita não como uma
atividade prazerosa que
tem a ver com nossa
evolução espiritual, mas
como uma obrigação da
qual se deve descansar
se for feriado. É como
se fosse algo imposto
pelo meio social, como
trabalhar e ir à escola.
Como é feriado, não se
vai ao centro. É triste
atestar como as pessoas
ainda tratam a educação
do Espírito imortal de
forma tão secundária.
Há centros espíritas que
enfrentam problemas
parecidos, mas com os
grupos de estudo, que
geralmente entram em
recesso no final do ano
e só retornam em
fevereiro. Sem problema
quanto a isso. Afinal, o
estudo sistematizado tem
uma dinâmica e um
cronograma que permitem
um recesso. Tanto que se
trata de um estudo feito
de forma sistemática. É
diferente da mocidade,
na qual o estudo pode
ser conduzido de forma
mais informal e com
atividades lúdicas, como
já observado.
Certa vez, uma
integrante de um grupo
de estudos entrou na
livraria da Umep para
comprar um livro. Era
dezembro. Eneida,
responsável pela
livraria, disse que não
tinha o livro, mas que
ele chegaria dentro de
10 dias. A moça, então,
disse: - Ué, mas a
Umep não está entrando
de férias hoje? Como eu
vou comprar o livro
daqui a 10 dias se só
voltaremos das férias em
fevereiro? Eneida,
então, explicou que
centro espírita não tira
férias. O que estava
entrando de férias, ou
melhor, recesso, eram os
grupos de estudo. E
completou dizendo que a
moça, como integrante de
um desses grupos, já era
para ter percebido isso.
Vânia, coordenadora do
grupo da moça, virou-se
para Eneida e disse:
- Não é por falta de
aviso.
Infelizmente, há quem
frequente os grupos de
estudo do centro
espírita como se
estivesse matriculado em
um curso técnico. Às
vezes, passam anos
dentro do centro indo
apenas na sala onde
estudam. Chegam e saem
uma vez por semana e não
percebem que o centro
espírita é um espaço de
convivência fraterna e
uma escola de
aprimoramento de almas.
Quando chega o final do
ano letivo, saem de
férias e só voltam
quando do reinício das
aulas. Só faltou fazerem
prova. E julgam
equivocadamente que todo
o centro funciona desse
jeito, apesar dos
reiterados
esclarecimentos que
recebem.
Tudo isso ainda acontece
pelo fato de ainda não
termos despertado para
todas as potencialidades
que um centro espírita
possui. No livro “O
Jovem Espírita quer
Saber”, o professor e
pedagogo espírita Ney
Lobo, no capítulo que
aborda o assunto
sociedade, diz, em
resposta à terceira
pergunta que lhe foi
formulada, que os
centros espíritas devem
ter centros de
convivência social para
que os jovens (e também
todas as pessoas, a meu
ver) tenham acesso não
só à boa música atual,
mas também à clássica,
além de leituras
coletivas, debates,
lanches culturais, jogos
instrutivos e afins. Mas
tudo intercalado com
exposições e debates
doutrinários. Além
disso, todo centro
espírita deveria ficar
aberto até às 22h, de
domingo a domingo. Seria
uma forma de tornar o
centro espírita cada vez
mais vivo e atraente,
iluminando consciências
de forma sempre criativa
e abrindo várias frentes
de trabalho.
É um desafio que nos
aguarda e um trabalho
que precisa ser posto em
prática. Quando os que
somente frequentam ou
estudam se dispuserem a
pôr a mão na massa,
veremos o quanto um
centro espírita é capaz
de fazer por todos nós.
Aí, não haverá férias ou
feriados que mantenham
gente afastada.