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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 397 - 18 de Janeiro de 2015

MARCELO TEIXEIRA 
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ (Brasil)
 
 


Férias e feriados. Lá vamos
nós outra vez


No meu livro anterior – “Inquietações de um Espírita” – há um capítulo chamado “As férias e o centro espírita”. Nele, comento sobre trabalhadores e frequentadores de centros espíritas que somem por dois ou três meses quando as atividades das quais participam entram em recesso em dezembro, janeiro e fevereiro.  

Volto ao assunto por julgar pertinente e por achar que se trata de um fato mais corriqueiro – e preocupante – do que eu imaginava.

Fui responsável por alguns anos pelas escalas das reuniões públicas doutrinárias da União Municipal Espírita de Petrópolis (Umep). Certa vez, Cilene (nome fictício), expositora escalada para falar no sábado seguinte ao carnaval, me ligou dias antes do início das festas de momo. Ela iria estender o feriado além da terça-feira gorda e viajar com marido e filhos. Por isso, não poderia fazer a palestra e pediu para que eu escalasse outra pessoa. Sem problema. Trocas na escala acontecem. Além disso, todo mundo tem direito de aproveitar um feriado para dar uma relaxada.

No entanto, o que ela disse em seguida me surpreendeu. Cilene alegou que não deveria haver reunião pública doutrinária nos sábados seguintes ao carnaval. Afinal, é um feriado longo e muita gente aproveita para descansar por toda a semana. Respondi, então, que, se fosse assim, deveríamos suspender as reuniões públicas de sábado quando dos feriados de Semana Santa e Corpus Christi. E deveríamos, também, suspender toda e qualquer reunião pública que caísse em feriado (Finados, Proclamação da República, Dia do Trabalho...), fosse no sábado, quarta-feira, segunda-feira... Calhou de ser feriado em dia de reunião pública, suspende-se a reunião, pois ninguém vai e todo mundo quer descansar.

Ninguém e todo mundo costumam ser conceitos bem subjetivos. Certa vez, Reginaldo, amigo meu residente em outra cidade, ouviu do filho Mateus, de 14 anos, que não haveria reunião de mocidade no sábado seguinte. Motivo: a coordenadora de mocidade suspendera a reunião porque iria ser feriado prolongado e todo mundo iria viajar. Todo mundo quem, cara-pálida? Só se for todo mundo que essa coordenadora conhece. Como pode ela responder por todas as pessoas que frequentam o centro espírita? Reginaldo e família não iriam viajar, pois a grana estava curta. As famílias de outros jovens também iriam ficar na cidade, e por vários motivos: trabalho, compromissos sociais, falta de vontade de viajar... Em suma, vários jovens, frequentadores da mocidade, iriam ficar sem a evangelização, da qual tanto gostavam, pois todo mundo iria viajar, segundo a coordenadora.

Não sei se ela viajou. Provavelmente sim. E talvez outros aplicadores de estudo quisessem descansar no feriado prolongado. Todos têm esse direito, é claro. Mas decerto havia outros aplicadores que não iriam viajar e poderiam muito bem tocar a reunião de mocidade. Mas optou-se pela conveniência de alguns, que acham que todo mundo vai viajar.

Já vi centros espíritas que suspendem a reunião de mocidade no mês de janeiro alegando que todo mundo está de férias. Quem é todo mundo, afinal? Sei que é período de férias escolares. Sei também que muitos profissionais tiram férias no início do ano. Mas sei, ainda, que nem todo mundo tira férias nessa época. E muitos que tiram férias não têm condições de viajar. Estamos no Brasil, país de muitos contrastes econômicos.

Fechar as portas da mocidade em janeiro é tirar de muitos jovens o ensejo de se encontrarem. Digo isso de cadeira, pois evangelizei jovens por muitos anos e sempre mantivemos a reunião de mocidade em janeiro, e com o salão cheio. Aproveitávamos para fazer atividades diferentes, como dinâmicas de grupo. Os jovens adoravam, e os evangelizadores que não estavam de férias também.

Inquieta a mim quando reuniões são suspensas por causa de feriados. E me inquieta quando vejo que a frequência às reuniões públicas cai porque é feriado.

No centro do qual faço parte há reuniões públicas nas terças e quartas-feiras às 20h. Certa vez, fiz a palestra do dia 12 de outubro, feriado nacional, que caiu numa terça-feira. O salão, sempre cheio, estava praticamente vazio. Não estou questionando, deixo claro, o fato de as pessoas aproveitarem o feriado para descansar. Muitos tiram o dia para dormir até tarde, visitar alguém, curtir a família... Mas uma reunião pública doutrinária noturna não é alcançada pelo horário comercial do feriado. Ou seja, em dias comuns, saímos do trabalho no fim da tarde, passamos em casa ou vamos tratar de outro assunto. Em seguida, vamos ao centro assistir à palestra. Se for feriado, eu vou descansar do trabalho e de outras atividades. À noite, já estou pronto para ir ao centro. No entanto, muita gente encara a ida ao centro espírita não como uma atividade prazerosa que tem a ver com nossa evolução espiritual, mas como uma obrigação da qual se deve descansar se for feriado. É como se fosse algo imposto pelo meio social, como trabalhar e ir à escola. Como é feriado, não se vai ao centro. É triste atestar como as pessoas ainda tratam a educação do Espírito imortal de forma tão secundária.

Há centros espíritas que enfrentam problemas parecidos, mas com os grupos de estudo, que geralmente entram em recesso no final do ano e só retornam em fevereiro. Sem problema quanto a isso. Afinal, o estudo sistematizado tem uma dinâmica e um cronograma que permitem um recesso. Tanto que se trata de um estudo feito de forma sistemática. É diferente da mocidade, na qual o estudo pode ser conduzido de forma mais informal e com atividades lúdicas, como já observado.

Certa vez, uma integrante de um grupo de estudos entrou na livraria da Umep para comprar um livro. Era dezembro. Eneida, responsável pela livraria, disse que não tinha o livro, mas que ele chegaria dentro de 10 dias. A moça, então, disse: - Ué, mas a Umep não está entrando de férias hoje? Como eu vou comprar o livro daqui a 10 dias se só voltaremos das férias em fevereiro? Eneida, então, explicou que centro espírita não tira férias. O que estava entrando de férias, ou melhor, recesso, eram os grupos de estudo. E completou dizendo que a moça, como integrante de um desses grupos, já era para ter percebido isso. Vânia, coordenadora do grupo da moça, virou-se para Eneida e disse: - Não é por falta de aviso.

Infelizmente, há quem frequente os grupos de estudo do centro espírita como se estivesse matriculado em um curso técnico. Às vezes, passam anos dentro do centro indo apenas na sala onde estudam. Chegam e saem uma vez por semana e não percebem que o centro espírita é um espaço de convivência fraterna e uma escola de aprimoramento de almas. Quando chega o final do ano letivo, saem de férias e só voltam quando do reinício das aulas. Só faltou fazerem prova. E julgam equivocadamente que todo o centro funciona desse jeito, apesar dos reiterados esclarecimentos que recebem.

Tudo isso ainda acontece pelo fato de ainda não termos despertado para todas as potencialidades que um centro espírita possui. No livro “O Jovem Espírita quer Saber”, o professor e pedagogo espírita Ney Lobo, no capítulo que aborda o assunto sociedade, diz, em resposta à terceira pergunta que lhe foi formulada, que os centros espíritas devem ter centros de convivência social para que os jovens (e também todas as pessoas, a meu ver) tenham acesso não só à boa música atual, mas também à clássica, além de leituras coletivas, debates, lanches culturais, jogos instrutivos e afins. Mas tudo intercalado com exposições e debates doutrinários. Além disso, todo centro espírita deveria ficar aberto até às 22h, de domingo a domingo. Seria uma forma de tornar o centro espírita cada vez mais vivo e atraente, iluminando consciências de forma sempre criativa e abrindo várias frentes de trabalho.

É um desafio que nos aguarda e um trabalho que precisa ser posto em prática. Quando os que somente frequentam ou estudam se dispuserem a pôr a mão na massa, veremos o quanto um centro espírita é capaz de fazer por todos nós. Aí, não haverá férias ou feriados que mantenham gente afastada.



 


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