A
leitora Clissia Amaral
Rezende Diniz, em carta
publicada nesta mesma
edição, enviou-nos a
seguinte mensagem:
Gostaria de saber qual é o
entendimento da doutrina
espírita sobre a morte de
Jesus. Para o Espiritismo,
qual foi o motivo da morte
de Jesus? A Bíblia fala em
sacrifício por parte de
Deus, em João 3:16, isso
fica claro. Qual a visão de
vocês sobre isso?
Existem dois aspectos na
questão proposta. O primeiro
diz respeito à motivação dos
que determinaram a morte de
Jesus. O segundo motivo
estaria ligado ao próprio
Cristo. Por que Jesus
permitiu que o aprisionassem
e o levassem à cruz?
No tocante à motivação do
Sinédrio, eis o que João
Evangelista relatou em
seguida à chamada
ressurreição – na verdade,
despertamento – de Lázaro,
que todos julgavam estivesse
morto:
“Muitos, pois, dentre os
judeus que tinham vindo a
Maria, e que tinham visto o
que Jesus fizera, creram
nele. Mas alguns deles foram
ter com os fariseus, e
disseram-lhes o que Jesus
tinha feito.
Depois os principais dos
sacerdotes e os fariseus
formaram conselho, e diziam:
Que faremos? porquanto este
homem faz muitos sinais. Se
o deixamos assim, todos
crerão nele, e virão os
romanos, e tirar-nos-ão o
nosso lugar e a nação. E
Caifás, um deles que era
sumo sacerdote naquele ano,
lhes disse: Vós nada sabeis,
nem considerais que nos
convém que um homem morra
pelo povo, e que não pereça
toda a nação.
Ora ele não disse isto de si
mesmo, mas, sendo o sumo
sacerdote naquele ano,
profetizou que Jesus devia
morrer pela nação. E não
somente pela nação, mas
também para reunir em um
corpo os filhos de Deus que
andavam dispersos. Desde
aquele dia, pois,
consultavam-se para o
matarem.”
(João, 11:45-53.)
Parece que no texto acima
estão evidenciados, com
clareza, os motivos da morte
de Jesus nas condições em
que ela se deu pouco tempo
depois.
No tocante à aceitação, por
parte de Jesus, do que
acabou ocorrendo, é
importante, em primeiro
lugar, lembrar o papel que o
filho de Maria de Nazaré
desempenha em nosso planeta
desde os primeiros momentos
da formação do nosso globo.
Vejamos o que Kardec,
Emmanuel e os instrutores
espirituais disseram sobre o
Mestre nazareno:
Qual o tipo mais perfeito
que Deus tem oferecido ao
homem, para lhe servir de
guia e modelo? “Jesus.”
(O Livro dos Espíritos,
questão 625.)
“Para o homem, Jesus
constitui o tipo da
perfeição moral a que a
Humanidade pode aspirar na
Terra. Deus no-lo oferece
como o mais perfeito modelo
e a doutrina que ensinou é a
expressão mais pura da lei
do Senhor, porque, sendo ele
o mais puro de quantos têm
aparecido na Terra, o
Espírito Divino o animava.”
(L.E., questão 625, nota de
Allan Kardec.)
“Jesus foi o divino escultor
da obra geológica do
planeta. Junto de seus
prepostos, iluminou a sombra
dos princípios com os
eflúvios sublimados do seu
amor, que saturaram todas as
substâncias do mundo em
formação. (...) A verdade é
que, assim como as vossas
construções materiais, todas
as obras viveram previamente
no cérebro de um engenheiro
ou de um arquiteto, todas as
formas de vida na Terra
foram primeiramente
concebidas na sua visão
divina.”
(O Consolador, de Emmanuel,
questão 85.)
“Rezam as tradições do mundo
espiritual que na direção de
todos os fenômenos, do nosso
sistema, existe uma
Comunidade de Espíritos
Puros e Eleitos pelo Senhor
Supremo do Universo, em
cujas mãos se conservam as
rédeas diretoras da vida de
todas as coletividades
planetárias. Essa Comunidade
de seres angélicos e
perfeitos, da qual é Jesus
um dos membros divinos, ao
que nos foi dado saber,
apenas já se reuniu, nas
proximidades da Terra, para
a solução de problemas
decisivos da organização e
da direção do nosso planeta,
por duas vezes no curso dos
milênios conhecidos. A
primeira, verificou-se
quando o orbe terrestre se
desprendia da nebulosa
solar, a fim de que se
lançassem, no Tempo e no
Espaço, as balizas do nosso
sistema cosmogônico e os
pródromos da vida na matéria
em ignição, do planeta, e a
segunda, quando se decidiu a
vinda do Senhor à face da
Terra, trazendo à família
humana a lição imortal do
seu Evangelho de amor e
redenção.”
(A Caminho da Luz, de
Emmanuel, cap. 1.)
O caráter missionário do
papel de Jesus em nosso orbe
ressalta com toda a clareza
nos textos acima. É de
admitir, portanto, que todas
as condições de sua passagem
pela Terra, tal como ocorre
na chamada programação
reencarnatória dos Espíritos
de evolução mediana, hajam
sido previamente fixadas,
não só no tocante ao seu
nascimento, mas igualmente
com relação à época e à
forma da morte do seu
corpo.
Os textos dos evangelistas
são muito claros quando
informam que Jesus sabia que
Judas ia traí-lo, que ele
pereceria em razão dessa
traição e logo em seguida
voltaria ao seio dos seus
discípulos. Aliás, no Antigo
Testamento, muito antes do
advento do Cristo, profetas
referiram-se a esses
episódios, sendo de
ressaltar ainda a visita que
Jesus recebeu, na véspera de
sua prisão, dos Espíritos de
Elias e Moisés, como é
narrado pelos evangelistas.
É, pois, senso comum, no
meio espírita, que a
tragédia do Gólgota foi
planejada com bastante
antecedência, antes mesmo de
Jesus surgir nas terras da
Judeia.
Ciente do que ocorrera com
os grandes profetas do
passado, quase todos
vitimados pela intolerância
dos seus contemporâneos, não
era difícil para Jesus
prever que algo parecido
ocorreria com ele em sua
passagem pela Terra. E é
óbvio que, tendo aprovado
previamente o sacrifício do
Calvário, ele tinha plena
consciência do que o
aguardava.
Reportando-se ao assunto,
Emmanuel escreveu:
“O Calvário representou o
coroamento da obra do
Senhor, mas o sacrifício na
sua exemplificação se
verificou em todos os dias
da sua passagem pelo
planeta. E o cristão deve
buscar, antes de tudo, o
modelo nos exemplos do
Mestre, porque o Cristo
ensinou com amor e humildade
o segredo da felicidade
espiritual, sendo
imprescindível que todos os
discípulos edifiquem no
íntimo essas virtudes, com
as quais saberão demonstrar
no calvário de suas dores,
no momento oportuno.”
(O Consolador, questão 286.)
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