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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 447 - 10 de Janeiro de 2016

PAULO OLIVEIRA
psdo2010@gmail.com
Santos, SP (Brasil)

 


Adoração e Trabalho


Neste artigo queremos promover a reflexão sobre as duas primeiras leis naturais, registradas por Kardec, em O Livro dos Espíritos, em conformidade com as instruções dos Espíritos Superiores, que o assistiam na tarefa iluminada da codificação da Doutrina dos Espíritos, que são a Lei de Adoração e a Lei do Trabalho.

Todas as dez leis estudadas nessa obra devem ser entendidas sob três aspectos: o dever para com Deus, para com nós mesmos e para com o nosso próximo.

Embora nosso dever para com nosso Criador esteja representado em todas elas, podemos, para efeito de melhor entendimento, afirmar que os deveres para com Ele estão primordialmente expressos nas duas primeiras leis mencionadas acima, que, muita vez, deixamos de cumpri-los por desinteresse ou falta de vontade, incorrendo aí em um ato de insubmissão à Vontade Divina, representando rebeldia e desrespeito.

Iniciemos com a Lei de Adoração, perguntando: que quer dizer adorar a Deus? Será que temos de erigir altares para sua celebração? Ou ainda, deveremos nos prostrar em determinados períodos do dia, em louvor d´Aquele que nos criou?

Não temos aqui a intenção de criticar ou de desmerecer esta ou aquela manifestação sincera de louvor ao Criador, senão apenas pontuar, na visão espírita, o que venha a ser adorar ao nosso Pai, conforme as instruções recebidas e codificadas em O Livro dos Espíritos.

A resposta dada pelos Espíritos à questão 649, no referido livro, esclarece-nos em que consiste a adoração: “Adorar a Deus significa pensar n`Ele”.

Como um filho pensa em seu pai, em sua mãe, da mesma forma necessitamos lembrar de que tudo o que acontece, ou não acontece, em nossa vida, está diretamente ligado à Vontade desse Pai, que nos criou e que nos orienta, acompanha, protege, educa, ajudando-nos a crescer. “Ao pensar em Deus, aproximamo-nos D´Ele!”, complementa a resposta à referida questão.

Crer no Criador, em sua justiça e misericórdia infinitas, significa ter a confiança de que esse Pai está atento a todos nós e que, por antecipação, já nos conhecendo profundamente, sabe do que precisamos para desenvolver o potencial que possuímos. Assim, a resignação e a obediência aos Seus desígnios é um ato de adoração genuína a Ele, pois representa que sabemos que o Ser Supremo está no comando de tudo, e submetendo-nos à Sua vontade, sem murmurar e nem reclamar, significa que aceitamos esses desígnios. O contrário, portanto, é um ato de rebeldia a essa mesma Vontade, o qual repercutirá diretamente em nós mesmos, causando um desajuste em relação à Lei de Adoração, que deverá ser corrigido por meio de experiências reparadoras, nesta ou em outras existências.

No entanto, não basta só adorá-lo. Nas religiões dogmáticas há o conceito de salvação pela crença. No Espiritismo, essa ideia não se coaduna com as instruções dos Espíritos superiores, que nos alertam para o fato de que não é suficiente ficarmos somente no nível do “crer”. Temos que exercitar nossa crença n´Ele, colaborando na construção de Sua obra divina.

Nesse ponto, temos outra lei natural ou divina a nos orientar. É a Lei do Trabalho, que deixa claro que só desenvolvemos nossas capacidades e crescemos se aplicarmos aquilo que aprendemos. O homem não é só um ser que pensa, ele também sente e tem vontade. Portanto, a inteligência aliada à emoção e à vontade na geração de algo útil para si e para a sociedade, sob as bênçãos de Deus, é a melhor forma de adorá-lo.

Em resposta a Kardec, os Espíritos explicam que devemos entender por trabalho não só as ocupações materiais, mas também as espirituais. “O Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.[1]

Ir só à casa espírita não basta. Sentarmo-nos para assistir a palestras para em seguida receber os benefícios do passe, sem que haja um verdadeiro ato de modificação do próprio eu, através da assimilação e aplicação dos ensinamentos que ouvimos, representa perda de tempo, bem como da oportunidade excepcional oferecida para a realização da nossa principal missão: o crescimento espiritual.

É necessária a concretização do ato de adoração em prol da própria iluminação e dos serviços à comunidade, para que nosso esforço seja proveitoso, conforme nos alerta o apóstolo Thiago em sua epístola: “(...) assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”.[2]

Essas duas leis, Adoração e Trabalho, complementam-se. Através delas podemos entrar em sintonia com a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas, através do canal eficaz da prece sincera e dos atos diários em linha com o roteiro iluminado do Evangelho de Jesus.

Toda adoração é um ato de trabalho e todo trabalho útil é uma adoração a Deus!

Jesus, o Mestre de todos nós, asseverou que: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também [3], salientando a necessidade do trabalho em todos os níveis de evolução no Universo. João Batista apresenta Jesus, no Evangelho de Lucas, como o Trabalhador Divino, quando O descreve nos seguintes termos: “Ele tem a pá na sua mão; limpará a sua eira e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com o fogo que nunca se apaga”. [4]

O Mestre por excelência está ativo, atento e previdente, pois vai adiante de todos nós, trabalhando constante e incansavelmente, para a instalação do Reino de Deus em nossos corações, queimando as nossas iniquidades com “a chama da justiça e do amor que nunca se apaga”, conforme nos assevera o benfeitor espiritual Emmanuel[5].

Jesus toma de sua pá e, num ato de submissão à Vontade Divina, sai limpando a “eira” espiritual do mundo sem esmorecer um só minuto, dando-nos, mais uma vez, o exemplo a ser seguido.

Poderia o Mestre, na sua condição de Espírito puro, deixar que outros fizessem o trabalho mais duro, mais cansativo, como entendemos nós em nossa visão humana, delegando certas atividades àqueles que estão na condição de nossos colaboradores no lar, no trabalho etc. Porém, assim não procedeu. Veio pessoalmente trazer o Evangelho de luz, roteiro revelador das Leis Divinas. Veio ensinar-nos e estimular-nos a tomar da pá da esperança, do otimismo e da fé no futuro, e que, devidamente ativa, não deverá descansar até que o nosso campo interior esteja limpo dos calhaus e espinhos que nos caracterizam, notadamente os filhos do nosso orgulho e egoísmo.

Adoração efetiva com trabalho produtivo é a receita para o progresso de cada um de nós!


 

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo-SP. 2015. Edições FEESP, questão 675.

[2] Tiago 2:26.

[3] João 5:17.

[4] Lucas 3:17.

[5] EMMANUEL (Espírito), Pão Nosso, [psicografia de Francisco C. Xavier], 29ª. Edição, FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA, Brasília-DF, 2011, “O Trabalhador Divino”, Cap. 90.


 

 


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