1. Na cidade de
Lyon (França), na Rua Sala 76,
nasceu a 3 de outubro de 1804
aquele que se celebrizaria sob o
pseudônimo Allan Kardec, de
tradicional família francesa de
magistrados e professores, filho
de Jean Baptiste Antoine Rivail e
Jeanne Louise Duhamel. Batizado
pelo padre Barthe a 15-6-1805,
recebeu o nome de Hippolyte Léon
Denizard Rivail.
2. Em Lyon fez
ele seus primeiros estudos,
seguindo depois para Yverdon
(Suíça), a fim de estudar com o
célebre professor Johann Heinrich
Pestalozzi (1746-1827), pedagogo
suíço que fundou diversas
escolas. O instituto de Yverdon
era um dos mais famosos e
respeitados na Europa, reputado
mesmo como Escola-modelo, por onde
passaram vultos eminentes do Velho
Continente.
3. Desde cedo,
Hippolyte tornou-se um dos mais
eminentes discípulos de
Pestalozzi. Na "Revista
Espírita" de maio de 1869
diz-se que, dotado de notável
inteligência e atraído por sua
vocação, desde os 14 anos o
jovem lionês ensinava aos colegas
menos adiantados tudo o que
aprendia.
4. Concluídos
os estudos em Yverdon, ele se
radicou em Paris, onde se tornaria
conceituado mestre não só de
Letras, como de Ciências,
distinguindo-se como notável
pedagogo, autor de obras
didáticas e divulgador do método
de Pestalozzi.
5.
Encontrando-se no mundo literário
de Paris com a professora Amélie
Gabrielle Boudet, também autora
de livros didáticos, o professor
Hippolyte contrai com ela
matrimônio, conquistando preciosa
colaboradora para sua futura
atuação missionária. Como
pedagogo, no primeiro período de
sua vida, publicou numerosos
livros didáticos e apresentou
planos e métodos referentes à
reforma do ensino francês. Entre
as obras publicadas destacam-se:
Curso Teórico e Prático de
Aritmética, Gramática Francesa
Clássica, Catecismo Gramatical da
Língua Francesa, além de
programas para os cursos
ordinários de Física, Química,
Astronomia e Fisiologia.
As obras
espíritas da lavra de Kardec
6. Em 1854, o
professou ouviu falar pela
primeira vez nas mesas girantes,
através de seu amigo Fortier,
estudioso do Magnetismo. A
princípio, revelou-se cético a
respeito dos fenômenos, embora se
dedicasse desde muito ao estudo do
Magnetismo. No ano seguinte, ele
pôde assistir pela primeira vez
aos propalados fenômenos; corria
o mês de maio de 1855. A partir
de então passa a dedicar-se ao
assunto, recebendo provas
numerosas de que as
manifestações eram produzidas
pelos Espíritos de pessoas que
haviam deixado a Terra.
7. Recebendo
logo depois das mãos dos senhores
Carlotti, René Taillandier,
Tiedeman-Manthese, Sardou, pai e
filho, e Didier, editor,
cinqüenta cadernos contendo
comunicações diversas, o
professor se dedicou à
desafiadora tarefa de organizar
ditos cadernos, resultando daí a
codificação do Espiritismo e a
elaboração de um conjunto de
obras fundamentadas nos
ensinamentos fornecidos pelos
Espíritos, sendo a primeira delas
"O Livro dos
Espíritos", publicada em 18
de abril de 1857 e considerada
como o marco inicial da
codificação, embora o formato
definitivo desse livro saísse
apenas três anos depois, em
março de 1860.
8. Explicando a
sua convicção, Kardec sustenta
que sua crença apóia-se no
raciocínio e em fatos. E' do seu
feitio examinar, antes de negar ou
afirmar, a priori, qualquer tema.
Foi, portanto, como racionalista
estudioso, emancipado de qualquer
misticismo, que ele se pôs a
examinar os fenômenos
relacionados com as mesas girantes.
9. Em 1o
de janeiro de 1858 lançou o
primeiro número da "Revista
Espírita", e em 1o
de abril do mesmo ano fundou a
Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas. Em 1861 publicou a
primeira edição de "O Livro
dos Médiuns", a que se
seguiram "O Evangelho segundo
o Espiritismo" (1864),
"O Céu e o Inferno"
(1865) e "A Gênese"
(1868), que são, juntamente com
"O Livro dos
Espíritos", suas principais
obras.
10. A primeira
revelação de sua missão ele a
recebeu em 30-4-1856, através da
jovem médium Srta. Japhet, o que
foi confirmado em 12-6-1856
através da Srta. Aline e em
12-4-1860 através do Sr. Crozet.
Na "Revista Espírita"
de maio de 1869, publicada após
sua desencarnação, ocorrida em
31 de março de 1869, Kardec é
definido como trabalhador
infatigável, "sempre o
primeiro e o último a
postos".
O método
kardequiano
11. Kardec,
cognominado por Camille Flammarion
"o bom senso encarnado",
adotou, em seu trabalho, o método
intuitivo-racionalista, que
aprendera com Pestalozzi,
considerando todavia o valor da
análise experimental. Sob tais
diretrizes, cultiva o espírito
natural da observação,
apregoando o uso do raciocínio na
descoberta da verdade. Desestimula,
porém, a atitude mecânica, para
que o aprendiz procure sempre a
razão e a finalidade de tudo.
Kardec sustenta que devemos partir
do simples para o complexo, do
particular para o geral. Recomenda
a utilização de uma memória
racional, fazendo o uso da razão,
para reter as idéias, de modo a
evitar o processo de repetição
mecânica das palavras. Procura
despertar no estudo a curiosidade
do observador, de modo a avivar
sua atenção e percepção.
12. O lastro
contido no ensino basilar é
sempre intuitivo, que ele
considera "como o fundamento
geral dos nossos conhecimentos e o
meio mais adequado para
desenvolver as forças do
espírito humano, da maneira mais
natural". Entendia Kardec que
"todo bom método devia
partir do conhecimento dos fatos
adquiridos pela observação, pela
experiência e pela analogia, para
daí se extraírem, por indução,
os resultados e se chegar a
enunciados gerais que pudessem
servir de base de raciocínio,
dispondo-se esses materiais com
ordem, sem lacuna,
harmoniosamente".
13. Diz J.
Herculano Pires que o método
adotado por Kardec na
codificação da Doutrina
Espírita transformou-se no
método da própria doutrina e
tem, na sua própria simplicidade,
a garantia da sua eficiência.
Podemos -- de acordo com Herculano
Pires -- resumi-lo assim:
I - Escolha de
colaboradores mediúnicos
insuspeitos, tanto do ponto de
vista moral, quanto da pureza das
faculdades e da assistência
espiritual.
II - Análise
rigorosa das comunicações, do
ponto de vista lógico, bem como
do seu confronto com as verdades
científicas demonstradas,
pondo-se de lado tudo aquilo que
não possa ser logicamente
justificado.
III - Controle
dos Espíritos comunicantes,
através da coerência de suas
comunicações e do teor de sua
linguagem.
IV - Consenso
universal, ou seja, concordância
das várias comunicações, dadas
por médiuns diferentes, ao mesmo
tempo e em vários lugares, sobre
o mesmo assunto.