Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro Obras Póstumas, publicado depois da desencarnação de Allan Kardec, mas composto com textos de sua autoria. O presente estudo baseia-se na tradução feita pelo Dr. Guillon Ribeiro, publicada pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Questões para debate
51. As aparições tangíveis são frequentes?
52. Em que consiste a transfiguração?
53. Durante o sono, a alma dorme junto com o corpo físico?
54. Quando o Espírito se afasta do corpo, como se dá a comunicação entre eles?
55. Em que circunstâncias se verificam de maneira evidente a independência e a emancipação da alma?
56. Quando a alma se emancipa e age a distância, o desligamento produz a inércia do corpo?
57. O êxtase é o grau máximo de emancipação da alma?
58. Há pessoas em que o desligamento da alma opera-se com dificuldade?
59. Pode o Espírito de um encarnado aparecer a outras pessoas?
Respostas às questões propostas
51. As aparições tangíveis são frequentes?
Não; elas são muito raras, mas as aparições vaporosas são frequentes, e o são sobretudo no momento da morte. Parece que o Espírito desligado deseja apressar-se em ir rever seus parentes e seus amigos, como para adverti-los de que vem de deixar a Terra, e dizer-lhes que continua a viver. (Obras Póstumas, Manifestações visuais.)
52. Em que consiste a transfiguração?
O perispírito dos encarnados goza das mesmas propriedades que o dos Espíritos. Como já foi dito, ele não fica, de nenhum modo, confinado no corpo, mas irradia e forma, ao seu redor, uma espécie de atmosfera fluídica; ora, pode ocorrer que, em certos casos, e sob o império das mesmas circunstâncias, ele sofra uma transformação. A forma real e material do corpo pode se apagar sob essa camada fluídica, podendo-se assim se exprimir, e revestir, momentaneamente, uma aparência toda diferente, mesmo a de uma outra pessoa, ou do Espírito que combine o seu fluido com o do indivíduo, ou ainda dar a um rosto feio um aspecto belo e radiante. Tal é o fenômeno designado sob o nome de transfiguração, fenômeno bastante frequente, e que se produz principalmente quando as circunstâncias provocam uma expansão mais abundante de fluidos. O fenômeno da transfiguração pode se manifestar com uma intensidade muito diferente, segundo o grau de depuração do perispírito, grau que corresponde sempre ao da elevação moral do Espírito. Limita-se, às vezes, a uma simples mudança do aspecto da fisionomia, como pode dar ao perispírito uma aparência luminosa e esplêndida. (Obras Póstumas, Transfiguração.)
53. Durante o sono, a alma dorme junto com o corpo físico?
Não. Só o corpo repousa durante o sono, mas o Espírito não dorme; aproveita o repouso do corpo e os momentos em que sua presença não é necessária, para agir separadamente e ir aonde quer. Goza, então, de sua liberdade e da plenitude de suas faculdades. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
54. Quando o Espírito se afasta do corpo, como se dá a comunicação entre eles?
Durante a vida, o Espírito jamais está completamente separado do corpo; para qualquer distância a que se transporte, está sempre ligado a ele por um laço fluídico que serve para chamá-lo, desde que a sua presença seja necessária; esse laço não se rompe senão com a morte. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
55. Em que circunstâncias se verificam de maneira evidente a independência e a emancipação da alma?
Isso se dá, sobretudo, no fenômeno do sonambulismo natural e magnético, na catalepsia e na letargia. A lucidez sonambúlica não é outra senão a faculdade que a alma possui de ver e de sentir sem o socorro dos órgãos materiais. Essa faculdade é um dos seus atributos; ela reside em todo o seu ser; os órgãos do corpo são os canais restritos por onde lhe chegam certas percepções. A visão a distância, que certos sonâmbulos possuem, provém do deslocamento da alma, que vê o que se passa nos lugares para onde se transporta. Em suas peregrinações, está sempre revestida de seu perispírito, agente de suas sensações, mas jamais está inteiramente desligada do corpo, como já foi dito. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
56. Quando a alma se emancipa e age a distância, o desligamento produz a inércia do corpo?
Sim; o corpo parece, às vezes, privado de vida e não goza completamente de sua atividade normal; há sempre uma certa absorção, um desligamento mais ou menos completo das coisas terrestres; o corpo não dorme, ele caminha, age, mas os olhos olham sem ver; compreende-se que a alma está alhures. Como no sonambulismo, a alma vê as coisas ausentes; tem percepções e sensações que nos são desconhecidas; às vezes, tem a presciência de certos acontecimentos futuros pela ligação que lhe reconhece com as coisas presentes. Penetrando o mundo invisível, vê os Espíritos com os quais pode conversar, e dos quais pode nos transmitir o pensamento. A emancipação da alma amortece, às vezes, as sensações físicas a ponto de produzir uma verdadeira insensibilidade que, nos momentos de exaltação, pode fazer suportar com indiferença as mais vivas dores. Essa insensibilidade provém do desligamento do perispírito, agente de transmissão das sensações corpóreas, visto que o Espírito ausente não sente as feridas do corpo. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
57. O êxtase é o grau máximo de emancipação da alma?
Sim. Se no sonho e no sonambulismo, a alma erra nos mundos terrestres, no êxtase ela penetra num mundo desconhecido, no dos Espíritos etéreos com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, que não poderia transpor sem quebrar totalmente os laços que a prendem ao corpo. No êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo; não há mais, por assim dizer, senão a vida orgânica, e sente-se que a alma a ela não se prende senão por um fio que um esforço mais forte faria romper sem retorno. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
58. Há pessoas em que o desligamento da alma opera-se com dificuldade?
Sim. Existem pessoas cujo perispírito é de tal forma identificado com o corpo, que o desligamento da alma não se opera senão com uma extrema dificuldade, mesmo no momento da morte; geralmente, são as que viveram mais materialmente; são também aquelas cuja morte é a mais penosa, a mais cheia de angústias, e a agonia a mais longa e mais dolorosa; mas há outras, ao contrário, cuja alma prende-se ao corpo por laços tão fracos, que a separação se faz sem abalos, com a maior facilidade e, frequentemente, antes da morte do corpo. À aproximação do fim da vida, a alma já entrevê o mundo onde vai entrar, e aspira ao momento de sua libertação completa. (Obras Póstumas, Emancipação da alma.)
59. Pode o Espírito de um encarnado aparecer a outras pessoas?
Sim. A faculdade emancipadora da alma e seu desligamento do corpo durante a vida podem dar lugar a fenômenos análogos àqueles que apresentam os Espíritos desencarnados. Enquanto o corpo dorme, o Espírito, transportando-se para diversos lugares, pode se tornar visível e aparecer sob uma forma vaporosa, seja em sonho, seja no estado de vigília; e pode, igualmente, se apresentar sob a forma tangível, ou pelo menos com uma aparência de tal modo identificada com a realidade, que várias pessoas podem estar na posse da verdade afirmando tê-lo visto, no mesmo momento, em dois pontos diferentes. O fenômeno é muito raro e foi ele que deu lugar à crença na existência dos homens duplos. A isso se deu o nome de bicorporeidade. (Obras Póstumas, Aparições de vivos e bicorporeidade.)