Victor Silva
Tona de
Abranches:
“Vejo na atual
juventude a
missão de
transformar o
mundo em
aspectos mais
profundos e ao
mesmo
tempo mais
sutis”
Na presente
entrevista, a
visão de um
jovem espírita
com
relação aos
desafios e
perspectivas
inerentes às
atividades
realizadas pelas
casas espíritas
|
Victor Abranches
(foto)
nasceu em Juiz
de Fora-MG e
reside
atualmente em
São Carlos-SP,
onde estuda
Física na USP.
Integrante do
Grupo Espírita
Paz e Harmonia,
é dirigente de
mocidade
espírita e
também
palestrante.
Filho de
conhecido
jornalista no
Vale do Paraíba,
que é também
escritor e
palestrante
espírita, nosso
entrevistado
narra suas
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experiências.
Tendo nascido em
família
espírita, como
você sente o
Espiritismo
dentro de você?
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A maior
influência
espírita da
minha família
vem do meu pai,
que sempre
estudou e
pesquisou muito
sobre a
doutrina, e esse
hábito dele eu
tive a
felicidade de
herdar, mesmo
que em partes,
pois não estudo
tanto quanto
ele, mas o
suficiente para
sempre termos
conversas
produtivas e
edificantes.
Outro fator que
percebo que me
influenciou
muito foi ter
assistido às
suas palestras
desde criança.
Como ele sempre
se preocupou em
ser original e
criativo, ao
mesmo tempo
coerente, claro
e baseado
fortemente na
doutrina (no
mínimo Kardec,
Emmanuel e
Joanna citados
nas palestras),
hoje sinto
facilidade em
também ser claro
e sempre me
preocupo com as
fontes de onde
buscar
informações. A
influência de
minha mãe em mim
foi mais
emocional.
Percebo muitas
atitudes nas
minhas relações
com as pessoas
que vêm dela,
principalmente
as boas
atitudes, nem
sempre “ligadas”
especificamente
à doutrina
espírita, mas,
com certeza,
espiritualizadas.
Dentro de mim,
sinto o
Espiritismo
ainda tomando
forma, e
acredito que
sempre será
assim, pois toda
vez que leio um
texto do
Evangelho, o
entendimento é
diferente, e em
toda conversa
com alguém há
algo novo a ser
aprendido. Sobre
meu conhecimento
da doutrina,
apenas posso
afirmar que eu
leio e estudo
razoavelmente,
porque gosto
muito, medito
com alguma
frequência, mas
em matéria de
sentir e viver,
de fato, os
ensinos morais,
ainda sou um
iniciante que
sabe pouco.
Qual sua visão
de mundo na
idade em que se
encontra, tendo
em vista o
conhecimento
espírita que já
detém?
Sempre tento
manter em mente
a lição do texto
“Ponto de
vista”,
constante do
item 5 do
capítulo II de
O Evangelho
segundo o
Espiritismo.
No pouco que
estudei do
texto, entendi
quanto é melhor
encarar o mundo
com fé na vida
futura,
espiritual, do
que manter os
pensamentos e
preocupações
apenas no
aspecto terreno.
O texto, assim
como todo esse
capítulo, é
muito claro a
respeito dessa
visão de mundo,
importante para
não se
desesperar com
as dificuldades
naturais da
vida, nem se
preocupar
excessivamente
com todos esses
problemas que
estamos vendo na
política, na
educação ou nos
relacionamentos
interpessoais.
Não acho que
minha idade
tenha alguma
influência nas
minhas opiniões
sobre o mundo,
porque,
primeiramente,
ela segue
basicamente esse
texto, que é
muito lógico;
então, com a
motivação certa,
pessoas de
qualquer idade
seriam capazes
de entender e
apreciar o mundo
com a fé na vida
futura de que o
texto trata. E,
em segundo
lugar, como ela
é baseada no
Espiritismo, sua
essência nunca
vai mudar com o
passar do tempo:
autoconhecimento,
esforço pra
superar as más
tendências,
disciplina em
todo trabalho
que for
realizar,
caridade (como
entendia Jesus),
entre outros. As
únicas mudanças
que o tempo
traria seriam os
“alvos” desses
ensinos básicos
do Espiritismo,
por exemplo:
qual má
tendência a
superar, qual
trabalho a fazer
que exigirá
disciplina, a
quem direcionar
o ato de
caridade, entre
outros.
Como encara,
como espírita,
os desafios da
juventude no
mundo atual?
A juventude no
mundo atual
enfrenta muitos
desafios, e
desafios
bastante
diversos também.
Vários desses se
aplicam também à
infância, à
maturidade e à
terceira idade,
como por exemplo
o
autoaperfeiçoamento,
eternamente
importante. Mas
vejo na atual
juventude a
missão de
transformar o
mundo em
aspectos mais
profundos, e ao
mesmo tempo mais
sutis, do que as
mudanças que vêm
ocorrendo devido
às últimas
gerações. Não
estou dizendo
que estas não
causaram
transformações
importantes, mas
é a essência da
transformação em
si que mudará.
Desde o começo
da revolução
industrial, e um
pouco antes
disso, do início
do emprego de
metodologias
científicas
experimentais na
produção de
conhecimento, as
maiores mudanças
que aconteceram
no mundo e na
humanidade foram
as racionais,
materiais,
tecnológicas.
Não que não
houvesse tido
mudanças morais
e
comportamentais,
digo em
comparação com
as primeiras.
Acredito que a
atual juventude
irá trazer mais
à tona a reforma
de que o mundo
em fase de
transição
precisa, que
acontece nos
sentimentos.
Maior respeito
pela
diversidade,
pela natureza,
pela realização
de um trabalho
bem feito, pelos
sentimentos do
próximo. São
todos valores
que têm crescido
cada vez mais, e
que representam
a vivência da
mensagem de
Cristo. Além
disso, a
juventude atual
tem uma outra
grandiosa
missão: a de
preparar a
próxima geração
para dar
continuidade à
evolução da
Humanidade e,
consequentemente,
do planeta.
Todos sabemos,
de fontes como
Divaldo Pereira
Franco e Yvonne
do Amaral
Pereira, que
Espíritos de
outros orbes,
mais evoluídos
que a Terra, têm
vindo reencarnar
por aqui para
dar um impulso
na transição
para
Regeneração.
Portanto, cabe à
atual juventude
trabalhar o
máximo possível
agora para não
só prepará-los
para essa grande
obra, como
também adiantar
o máximo
possível esse
progresso, pois,
se esses
espíritos tão
bons podem fazer
tanto pela
evolução, que
eles comecem a
trabalhar num
planeta no
melhor estado
possível. Nesse
caso, não vai
demorar muito
para estarmos,
de fato, vivendo
num planeta mais
agradável.
Sendo filho de
um jornalista
muito conhecido
e também
espírita atuante
no país, qual a
sensação,
influência e
reflexos em sua
vida juvenil?
Toda criança, ou
todo jovem, que
é filho de uma
personalidade
mais conhecida
precisa
enfrentar um
desafio
relativamente
perigoso, que é
o orgulho. Sou
muito grato a
Deus por sempre
ter tido boas
amizades, nas
quais eu e meus
amigos nunca
ligamos em nada
para esse fato
(meu pai ser
famoso na
região). De uma
forma geral,
quando as
pessoas que
conhecem meu pai
vinham falar
comigo, elas
perguntavam se
eu seguiria os
passos dele.
Então se era
dentro do centro
espírita, a
pergunta era:
“você um dia
quer dar
palestras como
seu pai?”, mas
fora do centro
era: “você quer
ser jornalista
como seu pai?”.
Acabei vivendo
afirmativamente
só a primeira
pergunta.
Acredito que,
como todo jovem,
tenho reflexos
positivos e
negativos
absorvidos
inconscientemente
do
relacionamento
com meu pai. Os
positivos, pra
mim, são mais
fáceis de serem
percebidos.
Penso sobre
eles, e converso
com as pessoas
próximas sobre
isso. Os ruins
geralmente
surgem nas
conversas de
terapia. A
grande
influência
positiva dele
sobre minha vida
foi o gosto pelo
estudo da
doutrina.
Qual a
influência, a
seu ver mais
positiva, que o
conhecimento
espírita exerceu
sobre sua vida?
Como iniciei os
estudos da
doutrina na
infância, tenho
dificuldade em
imaginar como
seria minha vida
hoje se não
houvesse o
conhecimento
espírita. Se
conseguisse,
saberia dizer
com melhor
precisão qual o
reflexo mais
positivo do
Espiritismo em
mim. Mas ainda é
possível
responder à
pergunta com
base no pouco de
autoconhecimento
que já
pratiquei,
buscando talvez
alguns dos
reflexos mais
significativos,
ao invés de um
único. Uma das
maiores
influências que
a doutrina
exerce em mim
ocorre nas
relações
interpessoais,
quando me
esforço para não
julgar alguém
com base em
fofocas ou
histórias que
são contadas
sobre ela (algo
que quase nunca
acontece em
nossa
sociedade), e
até mesmo tentar
transpor a
“primeira
impressão”
quando conheço
alguém, seja ela
positiva ou
negativa. O
Espiritismo me
lembra que
estamos
reencarnados num
planeta no
estágio de
Provas e
Expiações, e
que, portanto,
todos, com Jesus
sendo a única
exceção
indiscutível,
temos problemas
e vícios a serem
superados ainda
e em todos os
aspectos do ser,
físico,
psicológico e
emocional. A
consequência
lógica é que não
faz sentido eu
(ser imperfeito
com muitos
vícios) querer
entender e
julgar o que é
melhor ou pior
para outra
pessoa (também
imperfeita em
seu próprio
contexto,
diferente do
meu). O
conhecimento
espírita também
repercutiu em
mim na
preocupação de
tentar sempre
melhorar. Tanto
a mim mesmo,
como o ambiente
ao meu redor. É
bastante clara a
cobrança da
consciência
quando me sinto
afastando do
caminho reto da
vivência do
Evangelho no dia
a dia, mesmo que
nem sempre a
reação, que
ocorre na
mudança das
atitudes e
pensamentos,
surja de forma
rápida e clara.
Que falta para o
jovem
aproximar-se
mais do
movimento
espírita? Falta
estímulo, falta
espaço?
Existe uma
diversidade
infinita entre
os jovens. Em
pensamentos,
sentimentos e,
consequentemente,
nas suas
opiniões e
visões de mundo.
Posso responder
pelo que eu
considero mais
importante e
válido para essa
questão,
tentando ser o
mais justo
possível com o
movimento
espírita como um
todo, baseado
também nas
conversas que já
tive com amigos
de várias
cidades. Algumas
dificuldades no
desenvolvimento
da juventude
dentro da casa
espírita são
diferentes de
centro para
centro, mas os
que eu considero
principais
costumam, sim,
ser comuns para
a maioria. Já
tive colegas que
comentaram sobre
a falta de
espaço para o
trabalho, devido
a pensamentos
provenientes das
direções das
casas espíritas,
tais como:
“jovem ainda não
sabe trabalhar”
ou “jovens não
têm
disciplina/responsabilidade/seriedade,
quem sabe daqui
a alguns anos”.
Mas felizmente
essa não é uma
característica
tão geral no
movimento
espírita.
Na minha opinião
a falta de
estímulo é uma
questão muito
mais grave, e
que está muito
mais presente
nos centros
espíritas (que
eu já pude
observar), até
porque essa
situação engloba
a anterior (num
centro onde não
há espaço,
provavelmente
não há
estímulo).
Nem todos os
centros possuem
um grupo de
jovens ativo nos
trabalhos da
casa
(considerando
também a
influência no
ambiente
espiritual), e
dentre os que
têm, nem todos
acompanham o
desenvolvimento
desses
trabalhos,
permitindo que
os jovens
fiquem, muitas
vezes, estudando
e interpretando
a doutrina de
formas
individuais,
podendo isso ser
perigoso. Mas,
ainda assim,
dentro da
questão da falta
de estímulo, na
minha visão, tem
faltado a mais
importante de
todas as
motivações para
a permanência e
dedicação do
jovem no
Espiritismo, que
é o exemplo. Ter
alguém
(geralmente mais
velho, mas não
necessariamente)
que, além de
direcionar e
administrar os
estudos e
trabalhos da
casa que
frequenta, vive
sinceramente as
lições da
doutrina dentro
e fora do centro
espírita. Uma
pessoa
responsável que
visivelmente se
esforça para ser
humilde (não
busca vaidade,
nem a ilusão do
controle e do
poder), que se
esforça pra
sempre manter
boas relações
com todos
(independentemente
de orientação
sexual, classe
social etc.),
que busca não
maldizer nem
julgar, que é
sincera com os
próprios
sentimentos e
com os do
próximo.
É bastante
perceptível para
o jovem alguém
que se esforça
para ser cada
vez melhor, e
esta, na minha
visão, é a
melhor motivação
possível,
principalmente
para os que são
novos no
movimento, pois
é a imagem viva
e real daquilo
que está nos
livros e que se
diz em
palestras.
Que atividades
atrairiam mais o
jovem para o
comprometimento
com as tarefas
do centro e do
movimento
espírita?
Acredito que uma
das
características
mais marcantes
da maioria dos
jovens seja a
grande
quantidade de
energia
disponível a ser
investida nas
atividades.
Trabalhos mais
expansivos e
visíveis, que
tragam mais vida
e alegria para o
ambiente, talvez
seja algo que
atraia os jovens
para o
comprometimento.
Trabalhos com
arte, como
música e teatro,
instigam na
mocidade uma
vontade de se
aprofundar nos
conhecimentos e
nos trabalhos.
Talvez dar ao
jovem a
oportunidade de
proferir
palestras seja
um excelente
incentivo, ou
deixá-lo
responsável por
um determinado
grupo de estudo,
trabalhando
respectivamente
as artes da
oratória e da
literatura. Há
pessoas jovens
que amam
trabalhar com a
evangelização de
crianças, e
outras que são
bastante
sensíveis para
um atendimento
fraterno, e até
mesmo para um
trabalho
mediúnico.
Independente da
atividade a ser
desenvolvida
pela casa, é
sempre bom
oferecer a
liberdade para
que o jovem
conheça e
escolha o
trabalho que
gostaria de
desenvolver. Por
fazer algo que
gosta, muito
provavelmente se
tornará mais
comprometido com
a tarefa.
Algo marcante
que gostaria de
destacar de sua
experiência
juvenil
espírita?
Quando pensei no
que responder a
essa pergunta,
inesperadamente
acabei me
perdendo entre
várias
lembranças. De
quando fui à
mocidade pelas
primeiras vezes,
os primeiros
encontros de
mocidades
espíritas no
carnaval, na
páscoa, finais
de semana e
feriados. Diria
que é sempre
marcante a
presença dos
amigos nesses
encontros cheios
de luz. Sempre
há os abraços
chorosos no
final, as
apresentações
musicais, o
sentimento de
amizade em sua
forma mais pura
e o sentimento
de trabalho
realizado depois
de tantas
dificuldades
superadas.
Acredito que a
mais forte
experiência
juvenil espírita
para quem se
permite
mergulhar nas
atividades e
trabalhos seja a
amizade.
Algo mais a
acrescentar?
A juventude
espírita, de uma
forma geral,
possui uma força
de trabalho
muito grande,
bastando que
seja bem
direcionada. Que
os jovens possam
tomar
consciência de
toda a
capacidade que
possuem de mudar
o mundo ao seu
redor para
melhor, mas que
também todo o
restante de
trabalhadores
das casas
espíritas possa
perceber essa
força. Que todos
nós possamos ter
corações abertos
e receptivos
para o Cristo em
nós, aprendendo
a trabalhar em
conjunto,
independentemente
de onde
estivermos.
Suas palavras
finais.
Gostaria de
agradecer pela
entrevista, por
ter-me dado a
oportunidade de
contar um pouco
da minha
história, das
minhas opiniões,
e que me fez
refletir muito
mais do que eu
esperava sobre
os reflexos do
Espiritismo em
mim. Espero
poder alcançar
corações que nem
imaginava e
poder ter gerado
ao menos um
pouco de
reflexão pessoal
em cada um.