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Ano 10 - N° 482 - 11 de Setembro de 2016

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)

 

 
Dagildo de Jesus Rodrigues: 

“Lamento só haver conhecido
o Espiritismo aos
sessenta anos”
 

Radicado em Campinas, onde atua no Centro Espírita Allan Kardec, o confrade fala sobre sua iniciação no Espiritismo e a influência que a doutrina tem tido em sua vida 
 

Dagildo de Jesus Rodrigues (foto) chegou ao conhecimento espírita aos 60 anos de idade. Natural de Penalva (MA) e residente em Campinas (SP), Administrador de Empresas e Técnico em Contabilidade, já aposentado, vincula-se ao Centro Espírita Allan Kardec, conhecida instituição da cidade onde reside, e é também tesoureiro da Casa

de Apoio à Vida. Nesta entrevista ele nos fala sobre a experiência de conhecer e viver o Espiritismo. 

Como se tornou espírita?  

Por necessidade de compreender o porquê da vida: de onde vim, por que estou aqui, para onde vou. Já tendo sido católico e presbiteriano independente, procurei e encontrei respostas a tais indagações no Espiritismo. Quando adolescente, tive um vizinho espírita, embora não frequentasse casas espíritas. Era, contudo, leitor de O Livro dos Espíritos, e recordo de mais de uma vez dizer-me que minha pouca idade não me permitia compreender a grandeza da codificação kardequiana. Em 2004, juntamente com minha esposa Alice, passamos a assistir às preleções no Centro Espírita Allan Kardec. O teor dos ensinamentos de Jesus ali ministrados satisfez minha necessidade e me fez compreender que deveria procurar conhecê-Lo mais, e assim tomei-me assíduo às reuniões, e à medida que melhor conhecia a Doutrina, concluí que era aquilo de que necessitava, vindo a tornar-me espírita.  

Que repercussões teve o conhecimento espírita em sua vida? 

À medida que conhecia o aspecto filosófico e moral da Doutrina Espírita, fui constatando a necessidade de mudança comportamental, de modo a que pudesse efetivamente passar a comportar-me de acordo com o recomendado por Kardec no cap. XVII, item 4, de O Evangelho segundo o Espiritismo: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para vencer as suas más inclinações”.  Reconheço haver sido esse ensinamento um aspecto de grande repercussão íntima para minha vida, trazido pelo conhecimento espírita.  

Quais as suas impressões sobre o movimento espírita atual? 

No que me foi permitido constatar, o movimento espírita teve, a partir da comemoração do centenário de nascimento de Chico Xavier, em 2010, visível crescimento. A ampla divulgação da efeméride, com lançamento de diversas obras sobre a vida e produção psicográfica de Chico Xavier, palestras, seminários, conferências, a exibição do filme Chico Xavier e outros, em muito contribuiu para tanto.  O Espiritismo, respaldado no esforço em mostrar os verdadeiros ensinamentos pregados e vivenciados por Jesus, continuará a atrair novos interessados em conhecer o verdadeiro Cristianismo. 

O que mais lhe chama atenção no Espiritismo? 

A pureza doutrinária observada em pregações em todos os níveis.  De par com isso, como a definiu Kardec, trata-se de uma doutrina filosófica, de fundamento científico e consequências morais, e não apenas uma religião, cuja prática remete a culto.  No Espiritismo inexistem dogmas, casta sacerdotal, hierarquia, cerimônia, privilégios e a mistificação e os abusos.  Aspecto igualmente relevante da Doutrina é, como frisei acima, tornar melhor aqueles que a compreendem. Nela não há promessa de milagres ou salvação sem reforma íntima.   

De sua experiência com o Centro Espírita Allan Kardec (CEAK), o que gostaria de dizer? 

Nos 11 anos de convivência no Allan Kardec de Campinas, aspecto digno de registro, ao lado da divulgação doutrinária, é a preocupação com o trabalho assistencial e de educação.  Educador nato, o fundador do CEAK criou o Instituto Popular Humberto de Campos.  Hoje, além do IPHC, tais atividades são desenvolvidas pelo Educandário Eurípedes, pela Creche Gustavo Marcondes, pelo Núcleo Alvorada de Cristo e pela Casa de Apoio à Vida.  

O que mais lhe sobressai no cotidiano da instituição? 

A preocupação em dar a melhor acolhida àqueles que a procuram, orientando-os para leituras edificantes e o trabalho assistencial necessário: entrevistas, passes, sessões de desobsessão. 

De seu tempo no CEAK, o que ficou mais marcante nesses anos todos?  

A marca indelével que me ficará da vivência no CEAK será a dedicação com que todos os seus dirigentes e voluntários se dedicam às suas atribuições, não medindo esforços para desempenhar da melhor maneira o que lhes compete, não raro em detrimento de suas atividades profissionais e familiares.   

Algo mais que gostaria de relatar de sua experiência com a vivência espírita? 

Minha vivência espírita é pequena.  Ainda assim, reputo digno de registro que, a partir de quando me considerei espírita, venho redobrando esforços para domar minhas más inclinações. A leitura das obras da codificação e outras pertinentes, o aprendizado resultante das preleções e palestras a que tenho assistido muito contribuíram para minha reforma íntima, ainda carente de muita evolução. Dois outros aspectos basilares da prática kardecista são a liberdade dos seus adeptos de pesquisar, avaliar e manifestar seu entendimento sobre o conhecimento adquirido, o que me parece fundamental para o crescimento doutrinário; o outro aspecto está contido em A Gênese, cap. I, 55: "O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita".     

E a convivência com os livros?
 

Considero-me um amante dos livros, pois desde a adolescência sou leitor compulsivo de todo tipo de literatura, sobretudo autores clássicos nacionais. Um dos primeiros escritores lidos foi o maranhense Humberto de Campos, cuja obra completa conheço. Cheguei em certo período da vida a ler 2 a 3 livros por mês. Quanto às obras espíritas, leio-as assiduamente. Embora leia e pesquise sobre todos os assuntos, o meu preferido é sobre a reencarnação, cujo conhecimento foi sendo enriquecido pelas obras de diversos autores.  Estou concluindo a leitura de Reencarnação e Imortalidade, de Hermínio Miranda, e o próximo será As Vidas Sucessivas, de Albert de Rochas.  

Suas palavras finais. 

Lamento profundamente só haver conhecido o Espiritismo aos sessenta anos.  Se o conhecesse antes, estou certo de que muitos dos erros cometidos teriam sido evitados, embora sem consequências profissionais ou familiares, mas tão somente morais.  Minha atuação há 10 anos na livraria do CEAK tem-me propiciado a oportunidade de orientar recém-chegados ao CEAK sobre a indicação de leitura que atenda às suas necessidades.  É corrente o entendimento de que se chega à casa espírita pelo amor ou pela dor. Minha avaliação final sobre Espiritismo coincide inteiramente com a frase atribuída a Léon Denis: “O Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões”.  

 

 


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