Pesquisa Nacional para Espíritas – 2017.
Análise geral
Como oportuna iniciativa pessoal de Ivan Franzolim (*),
foi efetivada a pesquisa nacional para espíritas, sem
nenhuma participação ou apoio de instituições, e é
inédita no Movimento Espírita por sua abrangência
nacional e pela preocupação em conhecer como pensam e
atuam os espíritas. A primeira edição ocorreu em julho
de 2015.
A finalidade dessa pesquisa “é ser útil ao Movimento
Espírita, contribuindo com dados indicativos do modo de
pensar e agir dos espíritas. É um material que deve ser
utilizado para auxiliar as ações de comunicação das
instituições e servir ao ambiente de estudo acadêmico e
fora dele”. (1)
Nesta terceira edição, a pesquisa foi elaborada com 44
questões, divididas em seis sessões: Perguntas sobre
você, Para Estudantes de Cursos Espíritas, Sua maneira
de entender o Espiritismo, Perguntas sobre o Centro
Espírita, Perguntas para Frequentadores e Perguntas para
Trabalhadores. Foi efetivada entre 1o
e 31 de julho de 2017, utilizando-se a internet e
as redes sociais como veículo de distribuição do
formulário eletrônico do Google e acesso ao público
espírita, estimados em 2% da população brasileira,
segundo o Censo 2010. Foram recebidas 2.616 respostas
válidas, excluindo aquelas em duplicidade. Os
respondentes são residentes em 451 cidades e todos os
estados foram representados.
Os Estados com maior concentração foram também os mesmos
das edições anteriores (São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais) com exceção do Espírito Santo, que aparece
em segundo lugar pela primeira vez. Os Estados com menor
participação foram: Alagoas, Maranhão, Piauí, Roraima e
Tocantins. O pesquisador lembra que estes Estados
correspondem àqueles mencionados no Censo 2.010 com
menor número de espíritas.
O autor da pesquisa, Ivan Franzolim, esclarece que “além
de captar dados sobre a participação e comportamento dos
espíritas, ela tem registrado várias crenças que
circulam no Movimento Espírita. Muitas delas são aceitas
pelos espíritas por identificação emocional com sua
essência, sem maior análise e comparação com as obras
básicas e complementares, demonstrando que o processo de
assimilação de crenças é diferente do processo de
absorver conhecimento e pode prevalecer sobre este. Pela
forma não controlada de escolha dos respondentes, essa
pesquisa não pode ser considerada probabilística, embora
tenha seus méritos por mostrar tendências e preparar o
terreno para futuras pesquisas”.(1)
Na opinião de Ivan Franzolim, as instituições espíritas
carecem de indicadores que são fundamentais para o
planejamento e a prática de uma boa gestão, e recomenda
que “Centros Espíritas deveriam pesquisar a satisfação
dos voluntários, frequentadores e assistidos, o correto
entendimento das suas atividades e quão plenamente os
serviços prestados atendem as necessidades e
expectativas das pessoas, para promoverem mudanças
produtivas ou esclarecimentos necessários”. O
pesquisador entende que mais pesquisas devem ser feitas
para melhor compreensão do pensamento e das ações dos
espíritas.(1)
Numa análise geral dos resultados da pesquisa,
destacamos alguns dados predominantes.
Na qualificação do espírita: gênero feminino (64,7%);
faixa etária de 51 a 60 anos (28,8%); portador de ensino
superior (41,3%) e seguido de perto pelos pós-graduados
(33,2%); faixa salarial acima de 4 e até 10 salários
mínimos (33,3%). Estes dados têm coerência com
resultados do Censo do IBGE do ano 2.010 e apontam para
as dificuldades do movimento espírita para se atender e
localizar centros em áreas periféricas das cidades, das
populações com menores faixas de renda e de
escolaridade.
(2)
Os participantes da pesquisa são espíritas há 11-20 anos
(24,8%) e atuam nos centros como trabalhadores
voluntários (52,4%).
Sobre a relação dos filhos com o centro espírita – com
filhos entre 3 e 12 anos: não participam da
Evangelização Infantil/Juvenil (20,5%); não tenho filhos
(64,0%); com filhos acima de 12 anos: não tenho filhos
(43,2%); não se consideram espíritas (20,3%); se
consideram espíritas e não frequentam o grupo de
jovens/mocidade (23,1%). Estes dados, na generalidade
das faixas etárias, também já vinham sendo apontados
pelos Censos do IBGE dos anos 2.000 e 2.010 e, a nosso
ver, representam um alerta para urgentes estudos e
providências para se diagnosticar as causas dessa
situação e para se favorecer a integração real da
criança e do jovem no centro espírita.
(2)
Na pesquisa surgem informações muito interessantes, como
sobre a leitura de livros: já leram de 21 a 30 livros;
livros mais lidos: Paulo e Estêvão - Chico
Xavier/Emmanuel; O Livro dos Espíritos; O
Evangelho segundo o Espiritismo; Nosso Lar -
Chico Xavier/André Luiz. Autores mais lidos: Chico
Xavier (todos autores espirituais) – 731 respondentes;
Allan Kardec - 316 respondentes. Torna-se oportuna a
Campanha “Comece pelo Começo” (da USE-SP e CFN), de
estímulo à leitura e estudo das Obras Básicas do
Codificador.
(2,3)
Nas questões sobre temas de interesse, destacamos: temas
que estudaria mais se tivesse oportunidade
(isoladamente)? Bíblia e/ou os Evangelhos (15,3%); Mundo
Espiritual (15,3%); Mediunidade (11,7%). Temas para
estudo (soma de cada tema): Mediunidade (11,8%); Mundo
Espiritual (9,9%); Reencarnação (9,6%); A Bíblia e/ou os
Evangelhos (9,5%). A valorização de demandas locais, dos
focos de interesse do público-alvo do centro, seria um
oportuno procedimento nos centros espíritas.
(2)
Na compreensão geral sobre como o Espiritismo
deve ser seguido pelos espíritas: mais como filosofia
e/ou ciência (57,7%). A propósito, este resultado é
indicativo da necessidade de maior divulgação, estudo e
compreensão das obras de Allan Kardec; pode ser
influenciado pela tendência atual de muitos eventos e
palestras com temas científicos e também por alguns
enfoques em palestras e em práticas que não são
coerentes com o conjunto das obras de Allan Kardec.
(4,5)
A maioria dos respondentes considera que a aceitação das
ideias espíritas na sociedade está evoluindo
razoavelmente (68,0%), e nas questões relacionadas com a
satisfação pelas atividades do centro, predominam
valores de média a alta.
Como há uma certa facilidade para a difusão do
Espiritismo em nossos dias e também interesse pelos
temas espírita, mais uma razão para a adequação dos
centros com base nos princípios e recomendações do
Codificador Allan Kardec.
A nosso ver, a “Pesquisa Nacional para Espíritas”
oferece dados que devem merecer estudos e reflexões
pelos dirigentes e colaboradores dos centros espíritas e
também estimular a realização de pesquisas internas
nestas instituições.
(*) A Pesquisa Nacional para Espíritas é uma iniciativa
de Ivan Franzolim (São Paulo), escritor, articulista e
palestrante espírita, formado em Administração de
Empresas com especialização em Marketing de Serviços
(FGV) e pós-graduado em Comunicação Social (Cásper
Líbero). Compõe a pesquisa o trabalho estatístico de
Análise de Conglomerados desenvolvido por Jorge Elarrat
(Rondônia), formado em Engenharia Eletrônica na
Universidade Federal do Pará (UFPA), pós-graduado em
metodologia do ensino superior e mestre em
administração, com passagem pelo IBGE e como titular da
Secretaria de Estado da Educação.
Referências:
1) Acesso
em 09/08/2017:
ivan
franzolim
2) Carvalho,
Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática
espírita e cristã. Cap. 2.1, 2.2, 3.1. Matão: O
Clarim. 2016.
3) Acesso
em 09/08/2017:
eis o link
4) Carvalho,
Flávio Rey; Carvalho, Antonio Cesar Perri.
Espiritismo como religião: algumas considerações sobre
seu caráter religioso e seu desenvolvimento no Brasil.
In: Souza, André Ricardo; Simões, Pedro; Toniol,
Rodrigo (Org.).
Espiritualismo e Espiritismo. Reflexões para além da
espiritualidade.
1. ed. Parte 1, Cap. 2. São Paulo: Editora Porto de
Ideias. 2017.
5)
Carvalho, Flávio Rey. O aspecto religioso do
Espiritismo. Revista Internacional de Espiritismo.
Ano XCII. N. 6. Julho de 2017. p. 304-306.
O autor é ex-presidente da FEB e da USE-SP.