Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

  

Contou-nos Chico Xavier que, alguns dias antes de aparecer a enfermidade anginosa que o obrigava a diminuir as horas de atendimento ao público, havia na fila dos que buscavam falar-lhe uma senhora de muita presença e elegância, embora aparentando visível abatimento.

Ao chegar a vez de ser atendida deteve-se em pranto, debatendo-se qual estivesse ferida desde as mais profundas entranhas do ser. Ela se agitava, enquanto clamava em voz alta e muito agitada: “Meu filho, Chico, onde está meu filho? Me devolvam meu filho, quero falar com meu filho”.

A seguir jogou-se sobre o peito do médium; algumas pessoas tentavam acalmá-la. Chico Xavier buscou consolá-la com palavras balsâmicas de reconforto, mas tudo parecia inútil. Aquela dor da alma prosseguia num crescendo inestancável, qual um mar de água que rompesse imenso dique.

Chico confessou: “Neste meio século de atendimento a serviço do próximo, raras vezes vi dor em escala tão aguda e lancinante. O rapaz desencarnou havia pouco, não tinha condições de comunicar-se então com ela, por nosso intermédio. Como fazê-la entender a delicada e penosa situação? Oramos aos nossos Benfeitores Espirituais suplicando o socorro necessário. A pobre mãe começou aos poucos a dar sinais de cansaço, de visível abatimento físico, enquanto prosseguíamos com estímulos reconfortantes”.

Informaram depois a Chico Xavier que essa senhora, tanto quanto seu esposo, eram pessoas de projeção intelectual. O casal tivera um único filho, rapaz muito sensível, introvertido, inteligente. Embora fossem pessoas de bem e de reconhecido valor, o casal sempre abraçara filosofias materialistas, considerando-se ambos ateus convictos. O filho, educado por amas e posteriormente num colégio religioso, desde pequenino mostrara-se receptivo aos sentimentos de fé e de busca de Deus, no que era constante e acremente desaprovado pelos pais. Eles como membros proeminentes de uma elite intelectual composta dos que viam na religião apenas ópio alienante, diziam não entender a fragilidade enfermiça do filho, quando este lhes falava da salvação de Jesus, do amor ao próximo, da fraternidade etc.

Certo dia, à hora do almoço o casal discutia. O rapaz, muito emocionado, tornou a falar na salvação oferecida por Jesus, sendo desta vez criticado em termos ásperos pelos progenitores. Ferido e desorientado pelo que acabara de ouvir, o jovem foi ao guarda-roupa do pai, tirou dali um revólver e, em crise de desespero, detonou a arma contra a própria cabeça, morrendo instantaneamente.

O caso sensibilizou muito a Chico, a ponto de causar-lhe dores. Orou demoradamente por aquela família, como costumava fazer em intenção de todas as mães em fase de intenso sofrimento pela perda de entes amados. Foi um dos últimos atendimentos do médium antes de adoecer.

 

Do livro Lições de Sabedoria, de Marlene Rossi Severino Nobre.
 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita