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por Juan Carlos Orozco

 

Coragem para enfrentar a si mesmo


Essa reflexão, dentro do contexto da reforma íntima, buscará abordar alguns aspectos em que encontramos dificuldades, até mesmo falta de coragem, para enfrentar a luta íntima contra as nossas imperfeições.

Temos coragem para muitas coisas, mas, quando se trata de combater no nosso interior, mais fácil será empreender uma luta externa, onde encontraremos as desculpas para justificar os nossos equívocos, erros, falhas e vícios, postergando a introspectiva que devemos realizar para mudar o comportamento e corrigir o rumo na vida.

Pela metodologia científica, se faço um experimento de igual maneira, em condições e circunstâncias semelhantes e controladas, seguindo as etapas definidas, repetidamente, o resultado da observação será o mesmo, buscando-se a descoberta da relação de causa e efeito do fenômeno estudado.

Analogamente, podemos transportar essa visão para a nossa vida na busca da maioria das causas dos nossos problemas, cujos efeitos possuem os seus motivos. E para mudar o que nos vem perturbando até agora, será preciso buscar um novo caminho para superar as montanhas de dificuldades. Se não mudar, não há como esperar resultado diferente.

A reforma íntima envolve a luta contra as próprias imperfeições na procura da paz interior, por meio do autodescobrimento e do autoconhecimento, tornando-nos mais conscientes de nós mesmos e dos nossos recursos latentes, libertando-nos dos sentimentos inferiores contrários às leis de Deus, em razão da própria evolução, mediante esforço, trabalho edificante, prática do amor e da caridade.

O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Vida: desafios e soluções”, na psicografia Divaldo Pereira Franco, esclarece:

“A sua autoidentificação, o autodescobrimento, permite o conhecimento das necessidades de progresso, ao tempo que desarticula as dificuldades que foram trabalhadas pelas experiências negativas das existências transatas, cujos resíduos continuam produzindo distonias.

Somente quando se passa a viver a compreensão da realidade interior, descobrindo-se e conservando-se desperto para a ação do pensamento lógico e consciente, é que se liberam os efeitos danosos do passado e se estabelecem novas normas de conduta para o futuro. Adquire-se então liberdade para a ação criativa, sem as amarras da culpa, que sempre se estabelece depois de qualquer atitude irregular, de toda ação prejudicial. (...)

Se, todavia, não desenvolveu a escala de autodescobrimento, de maturidade, mergulha nos complexos dramas do desequilíbrio, perdendo-se no emaranhado das paixões e dos tormentos que o alienam”.

No mesmo livro, Joanna de Ângelis ensina mais: “O autoconhecimento revela ao ser as suas possibilidades e limitações, abrindo-lhe espaços para a renovação e conquista de novos horizontes de saúde e plenificação, sem consciência de culpa, sem estigmas”.

As imperfeições morais conduzem o ser humano ao cometimento de faltas que podem resultar em desequilíbrios causadores de grandes perturbações físicas e espirituais.

Normalmente, procuramos melhorar a aparência física, cuidar da beleza do corpo, fazer exercícios físicos para o fortalecimento da musculatura, mas não nos preocupamos com a nossa melhoria moral e espiritual para enfrentar os chamamentos que as provações proporcionam. Cuidamos do corpo físico, por que não cuidamos da alma?

Dominados pelo materialismo, damos asas ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade, dentre outros sentimentos inferiores que evidenciam a pequenez espiritual em que vivemos, ludibriando-nos na posse de bens materiais e no prazer da riqueza e do poder, tendo como roteiro de vida o “eu”.

O egoísmo é um grande obstáculo para a reforma íntima. Na cultura do “eu”, olhamos para as pessoas procurando nós mesmos. Pela cortina do “eu”, não conseguimos enxergar o nosso semelhante que necessita da nossa ajuda.

Por outro lado, a importância da transformação moral surge quando o ser humano constata que os prazeres da vida material já não lhe satisfazem mais, estabelecendo um marco para o despertar do Espírito em sua jornada de ascensão na direção ao supremo bem.

Joanna de Ângelis, no mesmo livro, comenta: “Quando está desperto, lúcido para os objetivos essenciais da existência, ergue-se, o indivíduo, e sai do meio dos outros que estão mortos para a realidade. (...) O despertar é inadiável, porque liberta e concede autoridade para o discernimento. De tal forma se apresenta a capacidade de entender, que uma visão otimista e clara se torna a base do comportamento psicológico, portanto, do mecanismo íntimo para a aquisição da felicidade. Essa realização não se dá somente quando tudo parece bem, mas sim quando sucedem ocorrências que são convencionalmente denominadas como infortúnios”.

Essa transformação moral e espiritual tem que ocorrer dentro de nós, em um trabalho de melhoramento interior, uma ação de dentro para fora, mediante um processo contínuo de aprimoramento moral do Espírito para a sua necessária evolução.

Contudo, a reforma íntima não se conquista da noite para o dia. Demanda tempo, boa vontade, disciplina, esforço incessante, muita resignação, luta contra as tendências inferiores e, principalmente, estar vigilante para os defeitos e ter foco na tarefa de melhorar.

Cada ser humano encontra-se em determinado estágio evolutivo. Para identificar esse estágio, há que se realizar um exame de consciência, um diagnóstico íntimo, para identificar as reais circunstâncias da sua vida.

Certos de que não vamos parar a nossa evolução para fazer a reforma íntima, ela deverá ser realizada durante a presente existência. Não é esperar melhorar para trabalhar. É trabalhar para melhorar.

A ação incessante de transformação moral é trabalho de todo dia, de toda hora, e a vigilância deve ser permanente, a fim de evitar tropeços e quedas. Logo, será importante conservar uma atitude positiva, de vigilância mental e emocional. Será impossível melhorar-se moralmente sem sacrifícios ou renúncias.

Se cada ser humano mudar o seu comportamento, semeando a paz dentro de si, eliminando os sentimentos inferiores, contribuirá para a paz no planeta em uma ação de fraternidade universal.

Abel Glaser, no livro “Fundamentos da reforma íntima”, do Espírito Cairbar Schutel, no prefácio, comenta:

“Cada pessoa, para estar motivada a se conhecer, admitindo erros ao menos para si mesma, precisa exercitar a força de vontade inerente a todo ser humano, mas muitas vezes adormecida. A motivação nesse percurso nascerá do confronto da meditação com o cotidiano nem sempre ideal que muitos adotam. Unindo, pois, a teoria à prática, tendo por finalidade descortinar o ente cristão que há por trás das barreiras insensíveis que o materialismo impõe como regra geral na jornada terrena, o indivíduo sentir-se-á mais leve quando praticar a reforma íntima. (...)

Pessoas mais esclarecidas dos seus defeitos e melhor empenhadas no processo de reforma íntima conseguem conviver mais harmoniosamente entre si, alcançando maior êxito em suas realizações.

Do estudo da autocrítica passou-se à análise do que leva o ser humano a permanecer silente e impassível diante dos erros e desvios que até pode admitir que possui. Se sozinho não está conseguindo vislumbrar luz ao final do túnel, haveria condições de auxiliá-lo de algum modo eficaz? E a resposta resultou positiva, bastando que houvesse interiorizado o impulso à melhora de caráter, à escorreita formação da personalidade e, fundamentalmente, existisse, forte e fiel, o desejo de seguir os passos de Jesus. (...)

A reforma íntima deve ser compreendida como a chave mestra para o sucesso de sua melhora interior e, consequentemente, de sua felicidade exterior. (...)

Lapidar os próprios sentimentos é tarefa árdua, mormente para o encarnado que não os têm em relativo desenvolvimento, nem tampouco em contínuo exercício. Reforma íntima sem amor no coração é, no entanto, uma falácia. Aprender a cultivá-la verdadeiramente é um exercício significativo de abnegação e submissão a Deus.

O egoísmo, por seu lado, é a raiz de todos os males morais que existem no homem, fonte de todos os seus desvios e vícios de comportamento e causa primária das suas tendências negativas de toda ordem porque ele é a negativa do mandamento maior: ‘amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’. (...)

O processo de reforma íntima é, por certo, demorado e delicado. Necessita de determinação e interesse permanente daquele que o abraça para que alcance bons frutos. O saldo positivo exige exercício de paciência, tolerância, desprendimento, perdão, compreensão e amor nas relações humanas.

A reforma íntima e seus fundamentos representam verdadeira luz no imo da alma a todo encarnado que pretende desenvolver-se espiritualmente ao longo da sua trilha pela crosta terrestre.

Começar a reforma interior pelos problemas mais simples é uma das fórmulas indicadas. Depois, com naturalidade, os desvios mais complexos vão sendo enfrentados e vencidos. Tudo a seu tempo e à sua hora. Sem precipitação, mas com determinação, o homem alcança seus objetivos”.

O Espírito Emmanuel, no livro “Pão nosso”, em “Combate interior”, no Capítulo 178, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, escreveu:

“Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis estar em mim. – Paulo. (Filipenses, 1:30.)

Em plena juventude, Paulo terçou armas contra as circunstâncias comuns, de modo a consolidar posição para impor-se no futuro da raça. Pelejou por sobrepujar a inteligência de muitos jovens que lhe foram contemporâneos, deixou colegas e companheiros distanciados. Discutiu com doutores da Lei e venceu-os. Entregou-se à conquista de situação material invejável e conseguiu-a.

Combateu por evidenciar-se no tribunal mais alto de Jerusalém e sobrepôs-se a velhos orientadores do povo escolhido. Resolveu perseguir aqueles que interpretava por inimigos da ordem estabelecida e multiplicou adversários em toda parte. Feriu, atormentou, complicou situações de amigos respeitáveis, sentenciou pessoas inocentes a inquietações inomináveis, guerreou pecadores e santos, justos e injustos...

Surgiu, contudo, um momento em que o Senhor lhe convoca o Espírito a outro gênero de batalha – o combate consigo mesmo.

Chegada essa hora, Paulo de Tarso cala-se e escuta...

Quebra-se-lhe a espada nas mãos para sempre.

Não tem braços para hostilizar e sim para ajudar e servir.

Caminha, modificado, em sentido inverso.

Ao invés de humilhar os outros, dobra a própria cerviz.

Sofre e aperfeiçoa-se no silêncio, com a mesma disposição de trabalho que o caracterizava nos tempos de cegueira.

É apedrejado, açoitado, preso, incompreendido muitas vezes, mas prossegue sempre, ao encontro da Divina Renovação.

Se ainda não combates contigo mesmo, dia virá em que serás chamado a semelhante serviço.

Ora e vigia, prepara-te e afeiçoa o coração à humildade e à paciência. Lembra-te, meu irmão, de que nem mesmo Paulo, agraciado pela visita pessoal de Jesus, conseguiu escapar”.

Sobre essa transformação ocorrida com Paulo, Joanna de Ângelis, no livro “Vida: desafios e soluções”, escreve: “O apóstolo Paulo estava tão certo do valor do despertamento da consciência, que em memorável carta aos Efésios, conforme se encontra no capítulo cinco, versículo catorze, conclamou: - Desperta, ó tu que dormes, levanta-te entre os mortos e o Cristo te esclarecerá. Isso porque sono é forma de morte, de desperdício da oportunidade educativa, esclarecedora, terapêutica, enriquecedora. E nesse sentido, quando se está desperto, Jesus o esclarece, a fim de que avance corajosamente na busca da sua autoidentificação”.

Assim, sem o conhecimento de nós mesmos e a luta contra as nossas imperfeições, não há reforma íntima, lembrando-se de que o processo de iluminação íntima requer disciplina e esforços constantes, começando dentro de nós.

Por isso, desperte agora e tenha a coragem de enfrentar a si mesmo!

 

Bibliografia:

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito), na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida: desafios e soluções. 14ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Espiritismo, o consolador prometido por Jesus. Livro IV. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

SCHUTEL, Cairbar (Espírito); na psicografia de Abel Glaser. Fundamentos da reforma íntima. 11ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2011.
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita