Felizes, sem preocupação
O conceito de felicidade não é igual para todos, varia
de indivíduo para indivíduo, segundo a maneira com que
cada um encara a vida e de acordo com os seus interesses
como pessoa. O que torna feliz a um pode não significar
nada para o outro.
A felicidade está intimamente ligada à satisfação
pessoal, tanto do ponto de vista material quanto do
espiritual. Aquele que consegue a posse de um objeto
muito almejado sente-se feliz como aquele que atende
generosamente a um irmão. Porém, há uma distância entre
essas duas formas de sentir.
Segundo o Espiritismo, a felicidade real está associada
aos valores do Espírito imortal, representados pela
conquista da paz interior, das emoções controladas, do
pensamento equilibrado e dirigido para o bem; pela
naturalidade com que se ama a Deus e ao próximo.
Já se vê que essas conquistas ainda não são comuns entre
nós. Elas dependem do progresso moral, das experiências,
às vezes enérgicas, por que temos que passar em muitas
vidas, não em uma só. Esse acúmulo de experimentações
através do tempo vai formando o nosso caráter de homem
de bem. A grande maioria de nós está apenas no começo
desse processo. Basta ler a resposta dos Espíritos à
pergunta 918 de O Livro dos Espíritos e o
texto “O homem de bem”, em O Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo XVII, e veremos a que
distância estamos do “progresso real que deve elevar o
Espírito na hierarquia espírita”.
Felicidade hoje, na Terra, se encontra a varejo nos
supermercados, nas concessionárias de veículos, nas
logomarcas, nas ofertas sedutoras das grandes redes, nos
cartões de crédito, na satisfação de uma infinidade de
desejos que nunca são saciados.
A ilusão dos degraus sociais e o atropelo na corrida
pela visibilidade têm desgastado o homem. O caminho
arriscado da fama e do poder e o acúmulo impensado de
patrimônio têm consumido suas melhores energias. Essa
perseguição quase neurótica da felicidade não garante
que ele vá encontrá-la, porque o objeto das buscas é
transitório, fugaz, se deteriora, é ilusório. Esses
prazeres a que chamamos felicidade não retêm nada que
dure, que permaneça no Espírito.
Que felicidade é essa sorvida em transações ilícitas, em
concessões perigosas, auferida à custa do suor alheio,
trazendo prejuízos morais e sofrimento, cedo ou tarde?
O objeto da nossa felicidade é compatível com a nossa
evolução. O que nos consola é saber que ao nos cansarmos
de buscá-la onde ela não está, a procuraremos em outro
lugar. E essa procura nos colocará, inevitavelmente,
defronte da realidade: ela está dentro de nós e não é de
se pegar, mas de se sentir. É fluida, é sentimento e
razão. O seu descobrimento se dá lentamente, na medida
em que vamos compreendendo e sentindo Deus e Suas Leis
na consciência. “A felicidade não é deste mundo”, e é
relativa porque ainda não se fez no homem. O objeto da
felicidade está nele próprio, não nas coisas fora dele.
Esse sentimento é uma conquista gradual do Espírito,
trabalho dos séculos e das reencarnações. O homem tem
evoluído, mas não compreende ainda a felicidade como
subjetiva, como um estado sereno do espírito pacificado.
O homem tem procurado ser feliz e o tem sido, como a
criança na posse do brinquedo: ao crescer ela percebe
que o brinquedo a tornou feliz por um instante – o da
infância – onde o conhecimento e as emoções eram
compatíveis com a brincadeira.
Acontecerá o mesmo com todos nós: vamos crescer. Com o
tempo, livres das ilusões, perceberemos que a
felicidade, apesar de nascer dentro de nós, não se
realiza sem o outro, que é o nosso próximo a que se
referiu Jesus de Nazaré. Ela vem de mansinho, junto das
pessoas com quem convivemos no transcurso inexorável do
tempo. Ela está no prazer de trabalhar e construir, na
bênção de conhecer e aprender, no lento apuro dos
sentidos, na franca expansão dos sentimentos, na alegria
das revelações, na transformação do egoísmo em
solidariedade.
A felicidade se constrói, leva tempo, mas ela vem. A
ponto de, um dia, sermos verdadeiramente felizes sem nos
preocuparmos com isso.
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