Reparação
Um princípio basilar da psicologia evolucionária é
este: se gostamos de alguma coisa, gostamos por
alguma razão. O cérebro e a mente evoluíram fazendo
com que as coisas que são necessárias à nossa
sobrevivência ou à sobrevivência de nossa espécie fossem
prazerosas, para que não se tornassem secundárias, o que
colocaria em risco o nosso existir.
Açúcar, gorduras, troca de carícias, sentir-se seguro ou
valorizado, possuir algum grau de poder são fonte de
gozos, porque, em algum momento da história de nossa
espécie, foram fundamentais.
Nenhum problema, portanto, em usufruirmos os prazeres
humanos, se de forma temperante e parcimoniosa. Todavia,
o que muitos de nós temos feito é ignorar os limites
éticos desses gozos, e, na busca do prazer, produzirmos
infelicidade para os outros. Grande parte de nossos
problemas cármicos reside na extrapolação ética de tudo
isso e nas dores que espalhamos em torno de nós.
Diante dessas ocorrências é preciso retornar ao cenário
da corporeidade para refazermos o percurso, salvando,
socorrendo, reparando.
Imaginemos um indivíduo percorrendo uma estrada estreita
e que vai deixando atrás de si pregos, pedaços de vidro
quebrado, arbustos venenosos etc. Mas, ao concluir seu
percurso, dá-se conta de sua atitude equivocada e se
arrepende. Se seu arrependimento foi sincero, o que
fará? Retornará por onde andou recolhendo tudo o que
deixou no caminho. Aqui ou acolá encontrará pessoas que
se feriram, e cuidará delas, e, é provável, que ele
também se fira.
Penso que essa metáfora, que nos foi apresentada pelo
confrade Júlio Cesar de Sá Roriz, em palestra proferida
em Juiz de fora, há mais de 30 anos, sintetiza, de forma
elegante, a lei de causalidade: voltar para corrigir,
amparar e socorrer.