Diamante raro
Não é fácil encontrar a felicidade em nós mesmos, mas é
impossível encontrá-la em outro lugar. Agner
Repplier, ensaísta literária americana que viveu 95 anos
Esta lenda é a história de Ana, de origem indiana:
conta-se que vivia um mestre, monge mendicante, pelas
cidades, ensinando e aprendendo por onde passava.
Certa ocasião, passando por uma floresta, encontrou uma
pedra suja e, achando-a interessante, colocou-a em sua
bolsa.
Um dia chegou a uma cidade e dormiu na entrada,
esperando no dia seguinte entrar e apresentar seus
conhecimentos, pedir um pouco de arroz e seguir sua
escolha.
No meio da noite veio alguém ansioso, correndo, e lhe
disse: "Mestre, mestre, eu tive um sonho e me revelaram
que você tem uma pedra preciosa e de grande valor. Eu
queria que você me desse essa preciosidade. O meu
revelador disse que esse é o diamante mais valioso do
mundo, e que se você me desse eu me tornaria o homem
mais rico do mundo”.
O indiano disse: “Só pode ser a pedra que encontrei na
floresta, creio que alguém perdeu, porque mesmo suja tem
um pequeno brilho. Carrego em minha bolsa, está aqui,
tome-a”. E o homem saiu saltitante com o presente e
desapareceu.
Ao despertar o dia voltou o homem correndo e disse:
“Mestre, eu sonhei novamente que você tem um tesouro
muito maior do que aquele que me deu nesta noite”.
E o caminhante respondeu: “Tudo que eu tinha de valor
entreguei ontem para você”.
E o homem respondeu: “Você está escondendo outro
tesouro. Eu quero aquela virtude que permitiu ao senhor
abrir a mão e me dar a pedra preciosa. Dê-me isso que
você tem dentro de si, esse desprendimento, esse
desligamento das coisas. Quero conhecer esse diamante
raro que você tem”.
***
Um casal tomava café no dia das suas bodas de ouro. A
mulher passou a manteiga na casca do pão e deu para o
seu marido, ficando com o miolo.
Pensou ela: “Sempre quis comer a melhor parte do pão,
mas amo demais meu marido e, por 50 anos, sempre lhe dei
o miolo. Mas hoje quis satisfazer o meu desejo”.
Para sua imediata surpresa, o rosto do marido abriu-se
num sorriso e ele lhe disse: “Muito obrigado por este
presente, meu amor. Durante 50 anos quis comer a casca
do pão, mas, como você sempre gostou tanto dela, eu
jamais ousei pedir”.
Assim é a vida: muitas vezes nosso julgamento sobre a
felicidade alheia pode ser responsável por nossa
infelicidade. Diálogo e franqueza com delicadeza sempre
serão o melhor remédio. E a gratidão é a memória do
coração. O saber e o amor são algumas das maiores
riquezas que podemos cultivar, e sempre têm espaço para
crescer.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é
diretor da Editora EME.
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