A ditadura “boa”?
Lá pelo meio da tarde sentei-me numa esplanada, para um
muito português pequeno lanche: “um pastel de nata e um
café, por favor”.
Na mesa ao lado, dois casais, no máximo na casa dos 70
anos de idade.
A conversa era em tom relativamente alto, um mau hábito
dos portugueses.
Fui obrigado a ouvir.
Um dos senhores devia ser médico e o outro empresário.
À boa moda portuguesa, escalpelizaram de tudo um pouco
que se passa em Portugal. “Isto está uma podridão, os
políticos são corruptos e incompetentes, em 1º lugar
está o bolso deles, depois o do Partido, conflitos de
interesses, mentiras, falta de ética, de moral, de
respeito”, justificando estas afirmações com este ou
aquele caso mais ou menos conhecido.
Um deles dizia que isto não tem solução, o outro dizia
que era preciso uma “ditadura boa”, mas que fosse boa,
com gente competente e que amasse o seu país, ao ponto
de servir Portugal, sem se servir de Portugal.
Fiquei a pensar com os meus botões: ele tem alguma
razão, é preciso gente honesta na administração do
Estado, gente competente, em que o bem-comum esteja
acima do bem pessoal. Veio-me à cabeça e apeteceu-me
interferir. É que não há ditaduras boas, são todas más,
tenham a orientação que tiverem.
Como espírita, lembrei-me que Allan Kardec na sua
incomensurável obra literária, espírita, refere a
educação como o salvo conduto para uma Sociedade melhor,
no futuro.
Jesus de Nazaré deixou a receita para a felicidade: “fazer
ao próximo o que desejamos para nós”.
O enorme Gandhi aplicou o princípio da não violência
para libertar a Índia do jugo inglês, contagiando todo o
mundo, ainda hoje, com a sua postura de não-violência,
mas com atitude firme, decidida, actuante, pacífica,
exemplar.
O Espiritismo aponta as bases de uma Sociedade mais
feliz, justa e harmoniosa: erradicar o egoísmo e fazer
ao próximo o que desejamos para nós.
Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, essa
monumental obra de filosofia espírita, refere a opinião
da espiritualidade superior acerca da Sociedade do
futuro e de uma Sociedade feliz: “cada pessoa ter o
essencial para viver com dignidade, ao nível material e,
consciência tranquila e fé em Deus, ao nível espiritual.”
Dizem os Espíritos superiores que não somos uma
Sociedade evoluída, mas, apenas, esclarecida. Só seremos
evoluídos quando entre os povos não houver, guerra,
fome, miséria moral e material e, quando a fraternidade
e auxílio mútuo forem o diapasão social.
Indicam o egoísmo como a base de todos os defeitos
humanos, sendo necessária a sua erradicação do imo do
ser humano, substituindo-o pelo amor ao próximo, pela
pacificação social, pela solidariedade, fraternidade
incondicional e desinteressada, a essência da caridade.
Assim sendo, não haverá necessidade de ditaduras,
regimes violentos, sendo que as democracias se
aprimorarão, com a consciência do ser humano de que
servir em prol do bem-comum é a mais alta honra que se
pode ter, desempenhando essa tarefa com honestidade,
dedicação, nobreza de carácter.
Vivemos num planeta em transição para um patamar
espiritual superior, em que, no futuro, os Espíritos
aqui reencarnados serão maioritariamente bons e
honestos, levando de roldão, pelo exemplo, os seus
parceiros sociais.
Aí estaremos numa época de Regeneração (“A Génese”,
Allan Kardec), em que o Bem superará o Mal e, em que
aqueles que forem motivo de perturbação serão
reencarnados em outros planetas inferiores, como a Terra
e outros, de acordo com o seu sentir, agir egoísta e
violento.
A este processo Jesus apelidou de “o fim dos tempos”,
não no conceito catastrofista de fim do mundo material,
mas sim de transição para um mundo melhor, com o fim do
mundo de misérias morais e materiais.
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem
cessar, tal é a Lei”.
José Lucas reside em Óbidos, Portugal.
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