As descobertas científicas e o
Espiritismo
O conhecimento científico divulgado pelas classes
dominantes desde a antiguidade tinha uma confirmação de
veracidade em parceria com a religião, já que os
sacerdotes eram os estudiosos e detentores do
conhecimento dos fenômenos da Natureza e do Firmamento.
Existiam verdades inquestionáveis, pelo fato delas terem
a credibilidade dos governantes, apoiados pela
confirmação da religião, que chegavam a afirmar que
conheciam e controlavam as Leis do Universo.
Um estudo aprofundado da cultura dos povos antigos,
demonstra uma troca de interesses, como ocorria no
Antigo Egito e alguns povos da região da Crescente
Fértil no Oriente Médio. Os sacerdotes faziam a
manutenção da crença da divindade do governante, para em
troca os camponeses trabalharem nas obras públicas,
assim como fornecer alimentos aos templos.
Era o “Modo de Produção Asiático”, uma forma de governo,
onde o monarca era reverenciado como um deus vivo,
muito comum nos povos da Antiguidade.
No livro A Caminho da Luz, psicografado por Chico
Xavier e ditado pelo Espírito Emmanuel, encontramos o
relato de várias civilizações no Oriente, que utilizavam
essa prática, assim como no Império Inca e no Império
Asteca, também se valiam desse modo de produção, já que
era uma forma de garantir mão-de-obra para atender o
interesse da classe dominante.
Para libertar o homem de uma antiga cultura, que
estabelecia um sistema de classes e a crença na
divindade do governante, era necessário que o
conhecimento fosse de livre acesso a todos. Isso só
começa a acontecer na Baixa Idade Média com o surgimento
do Renascimento Cultural e a Expansão Comercial, no sul
da Europa e nas rotas das feiras medievais, entre as
cidades italianas e os reinos alemães.
O aperfeiçoamento da imprensa com Gutenberg foi um
grande passo para o barateamento na produção de livros,
panfletos e sua divulgação. Inicialmente o livro mais
procurado era a Bíblia, mas o custo do livro não era
barato, apesar da modernização e mecanização das
gráficas.
Os livros de História Geral procuram nos mostrar que,
com o fortalecimento do poder real ou absolutismo, os
monarcas com o apoio do clero, numa parceria inevitável
entre o poder real e o religioso, faziam a manutenção
dos seus interesses. Eles afirmavam que “O direito
divino dos reis” defendido por Jean Bodin, teórico
político francês, estabelecia que os príncipes soberanos
(os reis) eram designados por Deus para governar os
outros homens.
Com a expansão marítima e as grandes descobertas
científicas e náuticas no século XVI, ocorreram mudanças
no cenário cultural de algumas nações, principalmente
nos reinos italianos, onde a efervescência cultural
remonta o período das cruzadas. Surgem pensadores e
pesquisadores que perceberam com o conhecimento já
adquirido, que algumas verdades estariam ficando
defasadas ou ultrapassadas. Podemos destacar dois
italianos e um alemão. Os italianos eram Giordano Bruno,
Leonardo da Vinci e o alemão Johannes Kepler.
As formulações científicas e elucubrações desses
pensadores, acabaram incomodando a Igreja, já que muitas
das suas ideias e teorias iam contra os dogmas sempre
defendidos pela Cristandade, como a Teoria Geocêntrica
também chamada de Sistema Ptolomaico, elaborada pelo
astrônomo grego Ptolomeu no início da Era Cristã e
defendida como uma verdade inquestionável pela
Cristandade!
As descobertas científicas e os desdobramentos desses
acontecimentos na Idade Moderna, já no final do séc.
XVI, favoreceram o surgimento de uma Revolução
Científica no séc. XVII, que representou: “A união da
observação e da experimentação, de maneira a resultar na
elaboração de ferramentas capazes de medir, calcular,
observar os fenômenos da natureza. Mecanismos para
ajudar o homem a melhor entender e enxergar os fenômenos
do universo. Como bons exemplos, temos, o astrolábio, as
cartas náuticas, a luneta, o telescópio e até
microscópio”.
As descobertas científicas ofereceram aos homens a
possibilidade de se tornarem independentes da religião e
esses acontecimentos vão despertar o interesse de alguns
monarcas, onde a família real estava sob a tutela ou
como vassalos da Igreja há várias gerações. Seria uma
excelente oportunidade para os interesses do Estado
serem separados da Cristandade, de forma que o poder
religioso não estabelecesse parâmetros para o poder
laico.
Com uma visão mais expandida do universo das ideias,
pensadores e experimentadores (os primeiros cientistas
da época), começaram a fazer uma releitura da realidade
e principalmente das verdades “ditas absolutas”
compartilhadas com a sociedade pelos governantes e pelo
clero. Muitos pensadores defendiam as técnicas do
empirismo científico, não aceitando mais pensamentos
considerados verdades absolutas, mesmo que defendidos de
forma veemente pela Cristandade.
Acontecimento esse que embalado pelos interesses
econômicos da expansão atlântica, desviou o foco das
disputas científicas para o comércio oriental, cujos
lucros interessavam tanto a Igreja quanto ao Estado. As
descobertas no Continente Americano e no Extremo
Oriente, deram uma trégua que favoreceu aos homens da
Ciência.
Essa postura abriu um precedente para muitos espíritos
missionários reencarnarem como visionários,
influenciados pelo Renascimento Cultural e ao mesmo
tempo precursores do Movimento Iluminista ainda
embrionário na sociedade científica e cultural europeia.
Acontecimentos que hoje achamos incipientes, tiveram um
grande peso na releitura da realidade, assim como na
aceitação de novas ideias, conhecimentos que despertaram
a curiosidade de diversos homens com a mente mais
aberta, dando uma guinada para a grande renovação de
pensamento que estava no porvir com os Iluministas e
Enciclopedistas na França do século XVIII.
Referências:
1 - Kardec, Allan; A Gênese; cap. VI
– item: Os sóis e os planetas; FEB.
2 - Xavier, Francisco Cândido; A
Caminho da Luz; cap. IV - A Civilização Egípcia;
cap. XVIII - Os abusos do poder
religioso; FEB.
3 - Diversos Autores; Os Cientistas;
Abril Cultural; 1972.
4 -Wikipédia (Enciclopédia livre)
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