Pão espiritual: até as migalhas ensinam
Desde cedo, de alguma maneira, todos ouvimos referências
ao pão material e ao pão espiritual.
O primeiro é visto como um elemento assaz importante na
nutrição do corpo físico ao longo da história, pelo
menos desde que o ser humano estabilizou com o
surgimento da agricultura. O segundo entende-se como o
conjunto de influxos indispensáveis para uma vida
espiritual além da fronteira do amorfismo, mesmo
enquanto passamos na viagem terrena. Entenda-se por
amorfismo espiritual não ter no quotidiano nem
sentimentos maus nem sentimentos bons.
O próprio evangelho inclui referências diversas ao pão,
como lemos no livro de Allan Kardec intitulado “O
Evangelho segundo o Espiritismo” (capítulo XVI, Não se
pode servir a Deus e a Mamon, Parábola do mau rico).
Estas e outras referências apontam a importância das
“migalhas”, dos pequenos detalhes.
O chamado pão espiritual, feito de amor incondicional e
de sabedoria, enriquece de paz a vida quotidiana. Ajuda
também a lidar as dificuldades próprias da passagem
terrena com robustez interior. Além disso, tende a
fortalecer o sistema imunitário, segundo pesquisas
diversas (Harold Koenig, psiquiatra da faculdade da
Universidade Duke, EUA), e proporciona lucidez nas
escolhas próprias do dia a dia.
Tendemos a ficar impressionados com o que ganha dimensão
mediática ou com empreendimentos de grande dimensão.
Porém, faz sentido valorizar o imenso poder das pequenas
coisas que, à imagem do plâncton vegetal que vive na
superfície marinha, discreto se visto de perto, gera
quantidades fundamentais do oxigénio que respiramos,
quando se junta ao ar puro gerado pelas florestas.
Vem isto a propósito de fragmentos de informação que são
vistos e esquecidos durante anos e anos de reuniões
mediúnicas. Nestes encontros semanais, pós-laborais, em
que se ajuda, através de diálogos fraternos, muitos
daqueles que partem distraídos desta vida material e
andam confusos na dimensão espiritual em que todos
desembarcamos, quer saibamos disso ou não – é próprio
das leis da natureza funcionarem assim – ainda há muito
desperdício de dados.
Se pensarmos em Kardec, encontramos uma análise qualitativa na
escala espírita que, como se sabe, consta de “O Livro
dos Espíritos”. Nessa descrição, o codificador do
espiritismo (ou doutrina espírita), define os setores em
que se enquadram os Espíritos comunicantes pelo seu
comportamento através dos médiuns.
Faz sentido, porém, diante da riqueza de detalhes que
surgem numa conversa de esclarecimento de Espíritos
desencarnados perturbados através dos médiuns nas
referidas reuniões, aproveitar uma série de pequenas
informações normalmente desvalorizadas.
Aqui já estaremos a preparar uma análise quantitativa.
Num diálogo de esclarecimento, até que possamos entregar
em melhor condição aos Espíritos esclarecidos o Espírito
que envolveu o médium psicofónico em dificuldade vamos
aperceber-nos se conversa connosco numa continuidade de
personalidade masculina ou feminina, qual a sua
classificação na Escala Espírita (na nossa experiência
predomina o nível 7, dos Espíritos neutros, os que não
são maus nem propriamente bons), se acredita em Deus (a
maioria acredita…), o motivo do seu desencarne (muitas
vezes não sabem), se evidenciam no início da comunicação
mediúnica sensação de dor ou não, se sabem que estão
desencarnados ou não (nas nossas amostras a maioria não
sabe), data do diálogo, a duração do esclarecimento,
entre outros pormenores que possam ser úteis para
estudar a posteriori. Para não perturbar o bom
andamento da reunião, recorre-se a gravador de som e no
dia seguinte ouvimos e anotamos os dados.
Estas “migalhas” tornam possível adiantar algumas
análises estatísticas que normalmente não são
realizadas. Não faz sentido duvidar da sua utilidade.
Com a construção de uma tabela de dados, tudo se torna
mais fácil. A partir daí é possível ao longo do tempo
fazer estudos dentro do próprio grupo mediúnico, mas
também entre grupos mediúnicos diferentes e até em
cidades distantes. A comparação é importante para ver se
existem padrões a considerar. O espiritismo é
evolucionista e, dentro da lucidez de Allan Kardec,
apetece fazer sempre algo mais, como as flores que ao
longo do ano vão desabrochando e, além da beleza das
suas pétalas, ainda se dão ao luxo de exalar doce aroma.
Nota do Autor:
Os leitores encontram exemplos práticos
já publicados na internet e acessíveis a todos os
interessados nos seguintes links:
Registo de dados surgidos em reunião
mediúnica - Link-1
Reuniões Mediúnicas: uma análise
estatística - Link-2
Relação de género entre os Médiuns e os
Perfis evidenciados no transe mediúnico - Link-3
Estará a causa de morte relacionada com o
sofrimento após a desencarnação? - Link-4
Jorge Gomes,
escritor, ex-vice-presidente da Federação Espírita
Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo
publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de
Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na
cidade de Porto, Portugal.
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