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por Jorge Gomes

 

Pão espiritual: até as migalhas ensinam


Desde cedo, de alguma maneira, todos ouvimos referências ao pão material e ao pão espiritual.

O primeiro é visto como um elemento assaz importante na nutrição do corpo físico ao longo da história, pelo menos desde que o ser humano estabilizou com o surgimento da agricultura. O segundo entende-se como o conjunto de influxos indispensáveis para uma vida espiritual além da fronteira do amorfismo, mesmo enquanto passamos na viagem terrena. Entenda-se por amorfismo espiritual não ter no quotidiano nem sentimentos maus nem sentimentos bons.

O próprio evangelho inclui referências diversas ao pão, como lemos no livro de Allan Kardec intitulado “O Evangelho segundo o Espiritismo” (capítulo XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, Parábola do mau rico). Estas e outras referências apontam a importância das “migalhas”, dos pequenos detalhes.

O chamado pão espiritual, feito de amor incondicional e de sabedoria, enriquece de paz a vida quotidiana. Ajuda também a lidar as dificuldades próprias da passagem terrena com robustez interior. Além disso, tende a fortalecer o sistema imunitário, segundo pesquisas diversas (Harold Koenig, psiquiatra da faculdade da Universidade Duke, EUA), e proporciona lucidez nas escolhas próprias do dia a dia.

Tendemos a ficar impressionados com o que ganha dimensão mediática ou com empreendimentos de grande dimensão. Porém, faz sentido valorizar o imenso poder das pequenas coisas que, à imagem do plâncton vegetal que vive na superfície marinha, discreto se visto de perto, gera quantidades fundamentais do oxigénio que respiramos, quando se junta ao ar puro gerado pelas florestas.

Vem isto a propósito de fragmentos de informação que são vistos e esquecidos durante anos e anos de reuniões mediúnicas. Nestes encontros semanais, pós-laborais, em que se ajuda, através de diálogos fraternos, muitos daqueles que partem distraídos desta vida material e andam confusos na dimensão espiritual em que todos desembarcamos, quer saibamos disso ou não – é próprio das leis da natureza funcionarem assim – ainda há muito desperdício de dados.

Se pensarmos em Kardec, encontramos uma análise qualitativa na escala espírita que, como se sabe, consta de “O Livro dos Espíritos”. Nessa descrição, o codificador do espiritismo (ou doutrina espírita), define os setores em que se enquadram os Espíritos comunicantes pelo seu comportamento através dos médiuns.

Faz sentido, porém, diante da riqueza de detalhes que surgem numa conversa de esclarecimento de Espíritos desencarnados perturbados através dos médiuns nas referidas reuniões, aproveitar uma série de pequenas informações normalmente desvalorizadas.

Aqui já estaremos a preparar uma análise quantitativa. Num diálogo de esclarecimento, até que possamos entregar em melhor condição aos Espíritos esclarecidos o Espírito que envolveu o médium psicofónico em dificuldade vamos aperceber-nos se conversa connosco numa continuidade de personalidade masculina ou feminina, qual a sua classificação na Escala Espírita (na nossa experiência predomina o nível 7, dos Espíritos neutros, os que não são maus nem propriamente bons), se acredita em Deus (a maioria acredita…), o motivo do seu desencarne (muitas vezes não sabem), se evidenciam no início da comunicação mediúnica sensação de dor ou não, se sabem que estão desencarnados ou não (nas nossas amostras a maioria não sabe), data do diálogo, a duração do esclarecimento, entre outros pormenores que possam ser úteis para estudar a posteriori. Para não perturbar o bom andamento da reunião, recorre-se a gravador de som e no dia seguinte ouvimos e anotamos os dados.

Estas “migalhas” tornam possível adiantar algumas análises estatísticas que normalmente não são realizadas. Não faz sentido duvidar da sua utilidade.

Com a construção de uma tabela de dados, tudo se torna mais fácil. A partir daí é possível ao longo do tempo fazer estudos dentro do próprio grupo mediúnico, mas também entre grupos mediúnicos diferentes e até em cidades distantes. A comparação é importante para ver se existem padrões a considerar. O espiritismo é evolucionista e, dentro da lucidez de Allan Kardec, apetece fazer sempre algo mais, como as flores que ao longo do ano vão desabrochando e, além da beleza das suas pétalas, ainda se dão ao luxo de exalar doce aroma.


Nota do Autor
:

Os leitores encontram exemplos práticos já publicados na internet e acessíveis a todos os interessados nos seguintes links:

Registo de dados surgidos em reunião mediúnica - Link-1

Reuniões Mediúnicas: uma análise estatística - Link-2

Relação de género entre os Médiuns e os Perfis evidenciados no transe mediúnico - Link-3

Estará a causa de morte relacionada com o sofrimento após a desencarnação? Link-4


Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na cidade de Porto, Portugal.
 


 

     
     

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