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por Marcus De Mario

 

As atividades presenciais, o medo e o comodismo


Quatro anos passados do pico da pandemia da Covid, tendo o vírus sido controlado através das medidas higiênicas e da aplicação da vacina, fazendo com que a vida voltasse ao normal, continuamos a receber notícias do esvaziamento dos centros espíritas, exceção daqueles que promovem o chamado tratamento espiritual, e, mais do que isso, vemos imagens, através das redes sociais, de centros espíritas que continuam a limitar o número de participantes no auditório em dia de reunião pública de palestra, quando ninguém mais faz isso: hospitais, postos de saúde, casas de shows, supermercados, agências bancárias, estádios de futebol, ginásios esportivos, igrejas católicas, templos evangélicos, casas de festas, shoppings, enfim, não possuem mais restrição, de nenhuma espécie, e os ambientes, muitas vezes, encontram-se lotados, com as pessoas aglomeradas, menos os centros espíritas. Na metade do ano 2021 as restrições sanitárias começaram a ser derrubadas, o que se concretizou totalmente no final do mesmo ano, entretanto, temos notícia de centros espíritas que somente reabriram suas portas, e parcialmente, a partir de 2022, tendo ficado dois anos sem nenhuma atividade presencial, e parece que muitos continuam funcionando de modo parcial.

Alegam os dirigentes espíritas que houve debandada de colaboradores diretos e do público em geral, e isso era de ser previsto, afinal ficar dois anos sem atividade presencial não poderia ter outro resultado. Nesse tempo houve crescimento das atividades online, através da internet, e que muito contribuíram, sem dúvida, para continuidade da difusão do Espiritismo, mas existem atividades que não podem ser realizadas satisfatoriamente apenas pelo mundo digital. Perguntamos: por que os espíritas demoraram tanto para reabrir suas instituições? Por que não percebemos atitude dinâmica para renovar o convite às mentes e aos corações, inclusive com a capacitação de novos colaboradores? Naturalmente não estamos generalizando, pois sabemos de centros espíritas que estão trabalhando muito bem, mas a queixa sobre o esvaziamento é muito grande. Um caso muito simbólico que conhecemos, é um centro espírita que tem sua sede em frente a enorme condomínio residencial, e que em rua ao lado estão outros dois condomínios residenciais, todos com vários blocos, de muitos andares e apartamentos. O centro espírita, que tem uma boa sede, bem construída e montada, está semivazio, com falta de público e de colaboradores. O que está acontecendo? O que os dirigentes espíritas estão fazendo para tornar as atividades do centro espírita conhecidas? Claro que não estamos aqui afirmando que todos os moradores desses condomínios deveriam estar no centro espírita, mas uma parcela significativa poderia nele estar, pois a mensagem espírita é consoladora e esclarecedora por excelência, preenchendo os vazios existenciais.

Continuando a ter esse centro espírita como exemplo, é fato que mal dá para saber que ali é um centro espírita, e muito menos saber quais são as atividades nele desenvolvidas, pois a fachada do mesmo não evidencia essas informações, embora elas existam, mas com letreiro diminuto, imperceptível para quem está passando e nada tem no prédio que lhe chame a atenção. Durante boa parte do tempo ele está fechado, pois suas atividades são estanques, espalhadas em alguns dias e horários. Alguém já viu esse mesmo retrato em outros centros espíritas?

Não é mais concebível que os espíritas estejam com medo do vírus na sede dos centros espíritas. O vírus da Covid não foi exterminado, assim como diversos outros vírus, mas está sob controle, e, desde que participemos das campanhas de vacinação, assim como tomemos os cuidados necessários com nossa saúde e bem estar, não há o que temer. Curiosamente, vemos os espíritas, inclusive os dirigentes dos centros espíritas, participarem de passeios aos shoppings, de shows musicais, de peças de teatro, de jogos de futebol, e assim por diante, sem nenhuma preocupação, mas quando se trata do centro espírita…

Se, de um lado, ainda temos o medo como desculpa, de outro lado temos que reconhecer o comodismo como desculpa. Sim, é mais cômodo ficar em casa assistindo a palestras e vídeos, lendo livros, interagindo apenas pelo visor do celular ou do computador, não assumindo nenhuma responsabilidade, não colocando a mão na massa. Isso quando, de fato, o fazemos, pois ficar em casa exige força de vontade para se organizar e não se deixar levar por outros afazeres, e sabemos que muitas pessoas não possuem o bom hábito da organização, do planejamento e do cumprimento de obrigações.

Os dirigentes dos centros espíritas devem saber equilibrar atividades presenciais com atividades online, tendo consciência que somos seres de relação, presentemente reencarnados na matéria, e não podemos prescindir do convício com os outros, pois é nesse convívio social onde vamos aprender a nos amar.

Se não é possível trazer de volta os que se afastaram, e cada um responde por si mesmo perante a lei divina, é perfeitamente possível formar novos colaboradores. Para isso os centros espíritas necessitam melhorar sua comunicação, sua estratégia de divulgação, pois é fato que, em muitos casos, o entorno do centro espírita, ou seja, as ruas adjacentes, não sabe da existência do mesmo, assim como muitos moradores do bairro desconhecem o que é o Espiritismo e o que se faz no centro espírita. O que estamos fazendo para divulgar esses esclarecimentos? O que estamos fazendo para atender as demandas atuais da sociedade humana?

O verdadeiro espírita, conforme assinalado por Allan Kardec na codificação espírita, não pode ser tímido, receoso, medroso ou acomodado. Sempre respeitando a todos, tenham ou não religião, deve agir firmemente na sua transformação moral, ao mesmo tempo em que divulga e esclarece, sem atropelar as consciências, mas decididamente empunhando a bandeira do Espiritismo, com fraternidade, não abandonando as fileiras dos serviços presenciais intransferíveis e urgentes que somente podem ser desenvolvidos no âmbito da sede física do centro espírita.

Assim, pois, concluímos que os espíritas devem retornar aos centros espíritas do mesmo modo que retornaram às atividades sociais, culturais, profissionais e outras, pois o centro espírita é feito pelas pessoas, mas se elas ficam em casa, como o centro espírita atenderá, com seus serviços, os desesperados e sem esperança que lhe batem à porta pedindo socorro?

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; possui mais de 35 livros publicados.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita