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por Lucimar Constancio

Meditação


“Doutrina de amor e luz, Ciência, Fé e Consolação, prometida há dois mil anos por Jesus, diretriz da humana perfeição...”. A Doutrina Espírita, que há mais de cento e sessenta e seis anos, desde a sua codificação, pelo eminente Allan Kardec, oferece material vasto para iluminar a trajetória de ascensão espiritual, de espíritos encarnados e desencarnados.

Seguindo a proposta de pesquisa, o Concurso “A Doutrina Explica” vem às nossas mãos, como uma ferramenta, construindo entendimento e provocando reflexões, de temas da vida cotidiana, à luz do Evangelho Redivivo. Estar consciente da necessidade da própria autoiluminação é medida urgente e instigante.

Escolhemos discorrer sobre a Meditação, sua importância e costume, na manutenção da saúde mental, conforme a matéria acima citada nos oferece. O texto base tece alguns comentários a respeito dessa técnica milenar, que é um dos formatos de promoção do autoconhecimento. Nessa proposta de agregar conhecimento, instrução e valores, uniremos ao tema do presente comentário, conteúdos revelados pelo Espiritismo.

Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, meditação é: ”Ato ou efeito de meditar; concentração intensa do espírito; reflexão”. Destaca-se que a oração mental, que consiste, sobretudo, em considerações e processos mentais discursivos, recebe o mesmo significado.

“A Meditação é um conjunto de práticas que se concentra na integração da mente e do corpo, e busca a calma e o bem-estar de quem a utiliza. É o que explica o Centro Nacional de Saúde Complementa e Integrativa dos Estados Unidos (NCCIH) (na sigla em inglês) entidade médica oficial do governo norte-americano”.

Podemos entender, também, que meditar envolve o ato de contemplar, reflexionar sobre algo; pensar sobre algum assunto que necessite de uma análise mais profunda e sólida de nossa parte; e até mesmo a oração, pode se tornar uma ação meditativa. A técnica contemplativa é reconhecida por ser um agente de gestão das emoções e do estresse, e oferecer conforto e segurança durante seu uso. Alguns elementos são comuns, são recomendados, quando se trata do assunto, que descremos a seguir:

1 – Recomenda-se a escolha de um local com poucas distrações, sem tantos estímulos sensoriais, onde seja possível cultivar a tranquilidade;

2 – Que a postura seja confortável: sentado, de pé, caminhando, deitado, ou na famosa “postura de lótus”. Essa postura recebe tal nome por assemelhar-se a uma flor de lótus, pois a posição da planta dos pés fica voltada para cima, exatamente como a flor.

3 – É sugerida a eleição de um “foco de atenção”, que pode ser uma palavra, uma frase ou conjunto de frases, que facilitem a concentração e faça sentido para o praticante; a atenção na própria respiração, facilitando o relaxamento a que se propõe a ação.

4 – Digna de atenção é a “atitude observadora”, que consiste na observação de pensamentos e ideias, em suas idas e vindas, pelo praticante, sem nenhuma forma de julgamento; observar e deixar ir, com leveza.

A meditação exerce efeitos sobre o Sistema Nervoso Simpático, que é responsável pelas alterações no organismo em situações de estresse ou emergência. Assim sendo, estando o organismo inundado de hormônios liberados pelo estado de alerta ou perigo que o indivíduo capta, sejam reais ou não, o corpo e todo o cérebro são banhados por essa carga energética, que pode gerar desconfortos vários e até doenças, se permanentes e constantes. Em momentos tais, sendo detentor da ferramenta relaxante, que é a meditação, pode a criatura valer-se desse instrumento, promovendo em si a volta à calma, auxiliando a retomada do fluxo sanguíneo de seu corpo, a diminuição da pressão arterial, a reorganização da troca de gases pulmonares, anteriormente afetada.

Necessário enfatizar que a qualidade do sono é um dos destaques do ato de cismar, bem como o manejo da dor, do funcionamento do intestino, o bem-estar geral do corpo.

Para formar o hábito de meditar, torná-lo rotina, alguns dias da semana precisam ser reservados para tal, até que a satisfação se instale e passe a ser ato essencial, como orar e respirar. A paciência e a constância devem ser convidas para esse desiderato.

Abaixo citaremos algumas práticas em voga, a título de ilustração e convite à execução das mesmas.

1 - “MINDFULNESS” - É uma prática de plena atenção, usando técnicas de respiração e gentileza, propondo melhorar a concentração e equilíbrio da saúde mental. Sua base é a conexão do corpo e da mente, no “aqui” e no “agora”. Propõe a observação dos padrões de pensamentos, das sensações (positivas ou negativas) pelas quais se passa durante o processo de cogitar.

A técnica da atenção plena oferece alguns exercícios, tendo por alvo o prolongamento do bem estar e tranquilidade.

a)         Permita-se “sentir suas emoções” – pergunte a si mesmo: que necessidades minhas estão ou não, sendo atendidas. Por que me sinto dessa ou daquela maneira, em determinadas circunstâncias e não em outras? O que minhas emoções estão revelando?

b)         Cultive a gratidão logo pela manhã - liste pessoas e circunstâncias que o auxiliam na manutenção de sua qualidade de vida.

c)          Pratique a “caminhada meditativa” - aproveite cada momento de modo silencioso e atento, não tenso, por onde quer que vá. Observe a paisagem natural (animais, plantas), o local escolhido para a caminhada, sua localização. Lembre-se, é importante focar no presente, sem preocupações futuras ou passadas.

d)         Experimente “a refeição contemplativa” - evite se distrair durante suas refeições com assuntos outros, que não o alimento à sua mesa. Há ainda a opção de fechar os olhos, degustando a comida, suas texturas e sabores.

e)         Elimine suas distrações - afaste, apague, descarte, de sua Casa Mental, informações desnecessárias. Aquilo que roube sua atenção, que não lhe traga crescimento pessoal e ou espiritual, jogue fora.

f)           Alimente sua mente e alma com conteúdos saudáveis – aprenda a escolher seu alimento mental: bons livros; filmes, entretenimento de boa qualidade; fontes seguras de informações sobre atualidade; sites e blogs que promovam seu crescimento pessoa e espiritual.

g)         Conecte-se com a natureza – ajuste sua rotina para estar em contato com o ambiente natural (parques, jardins, lagos, bosques, praias), experimentando, assim, a troca energética e salutar com esses elementos. Desse modo, reencontrar-se consigo mesmo se fará de modo descontraído e produtivo.

h)         Encontre seu grupo de amigos – encontre amigos interessados em temas comuns, em “Mindfulness”, por exemplo, e desfrute de ótimos momentos de alegria e trocas de conhecimentos e experiências enriquecedoras.

i)           Passe algum tempo meditando – reserve momentos para “olhar para dentro” de você, examinando seus pensamentos, julgamentos e perceba como os sentimentos tendem a se acalmar. Observe sua respiração e as respostas que seu corpo dará.

j)           Faça uma atividade que alimente corpo, alma e mente – há atividades que promovem relaxamento e outras, movimentos corporais mais intensos, encontre a que mais lhe agrada e vá em frente!

k)         Escreva um diário – anote: num caderno, num bloco de notas, no celular, num meio eletrônico, os sentimentos e pensamentos, após seus momentos meditativos, comparando o processo evolutivo que vai se consolidando.

É fundamental ser verdadeiro nessa avaliação pessoal.

Essa última recomendação guarda correspondência com a questão 919 “a”, de O Livro dos Espíritos? Pense nisso!

Até aqui falamos apenas da meditação com foco na ação plena, mas gostaríamos de falar sobre outras, de que trata a matéria que deu origem aos presentes comentários.

2 – MEDITAÇÃO GUIADA – trata-se de uma técnica que sugere que o praticante forme imagens mentais e as sensações que surjam, referentes a lugares, situações, cheiros, sons, texturas, enquanto medita. Geralmente envolve um guia ou professor, que vai dando orientações. O instrutor auxilia o praticante a relaxar e atingir o estado meditativo usando músicas ou outros sons, para facilitar a concentração.

3 – MEDITAÇÃO FOCADA – “focar em algo”, com intensidade, no momento atual, para desacelerar o diálogo interno, a conversa mental, tão comum quando se inicia esse tipo de investigação interior. O objetivo da meditação focada é diferente da meditação clássica, onde o executante não dirige pensamentos para algo em específico, muito pelo contrário, é estimulado a “esvaziar a mente”.

4 – MEDITAÇÃO COM MANTRAS - que é bastante comum, onde são usados sons produzidos por instrumentos ou músicas, palavras ou frases, que poderão ser repetidas, conforme deseje o praticante, favorecendo a concentração e sua manutenção. Os Mantras podem ser usados para silenciar a mente ou para alcançar um determinado objetivo de crescimento íntimo ou espiritual.

5 – MEDITAÇÃO NA CORRIDA - poderá ser feita com o objetivo de combinar atividades essenciais para a saúde do corpo e da mente: movimento e respiração conscientes; e, além disso, aprimorar a desempenho do corpo físico. Como o próprio nome sugere, é meditar enquanto corre, observando os movimentos de respiração, o expirar e inspirar, de forma lúcida e grata. Bastante interessante notar, nesse movimento, todo o trabalho muscular, a locomoção executada, toda a engrenagem que é mobilizada durante a corrida, e encantar-se com a sincronia desse organismo físico que usamos nessa jornada evolutiva.

Em movimento ou em estado contemplativo, a meditação poderá ser executada. Existem vários tipos, para todos os gostos e necessidades, encontre o seu “modo” e faça essa viagem para “dentro”.

Ao meditar, o indivíduo pode demover de sua mente as coisas exteriores que o afetam, tais como preocupações e a algazarra do dia a dia, que tanto interferem na qualidade de vida; bem como a ansiedade, que domina e gerencia as relações interpessoais nos dias atuais; os pensamentos acelerados, que constroem um ritmo de vida que não permite uma experiência de ação plena e gratificante.

Meditar é voltar-se para dentro de si mesmo, uma viagem ao próprio interior, na busca de respostas para algumas perguntas básicas, tais como: quem sou eu? Para onde devo e posso ir?  Com quem seguir nesses caminhos? Qual meu papel no mundo, qual o objetivo de minha reencarnação?

Tal introspecção incrementa a análise das respostas vindas a partir das cogitações efetuadas, oriundas dos pensamentos; ou pelo acesso às crenças e conceitos que carregamos; ou ainda, pela ação de Amigos espirituais, que aguardam por momentos preciosos de intimidade conosco, nos oferecendo o auxílio necessário para aquilo que buscamos.

A prece e a meditação são ações que se assemelham a brechas que se abrem ao “EU INTERIOR”, descortinado horizontes e paisagens até então desconhecidos. As energias mentais geradas pelo ato de “cismar”, estão à nossa disposição, para a construção de um “oásis de paz e saúde”, que poderá ser visitado a qualquer momento.

Espíritos ilustres praticaram a meditação ao longo de suas experiências corporais, no anseio por respostas às suas inquietações. Escolhemos destacar alguns deles, nas transcrições abaixo.

Na obra intitulada Ilumina-te, de Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Capítulo 1, intitulado “Em Pleno Deserto”, há pontos preciosos, sobre o ato de meditar e o processo de Autoconhecimento. Assim nos descreve a Mentora: “A aridez do deserto de alguma forma sempre atraiu o ser humano, especialmente aquele necessitado de paz, em luta contínua pela superação das tendências negativas e ansioso pelo autoencontro.

Nas tradições do judaísmo encontramos Moisés com o povo libertado da escravidão no Egito, vagando no deserto até encontrar a terra prometida, quarenta anos depois...

“Antecipando o ministério de Jesus, João buscou a solidão do deserto para impregnar-se da mensagem precursora da Boa-Nova, adquirindo resistência física e moral para os grandes enfrentamentos que o aguardavam...”.

Joanna de Ângelis, Espírito, ainda nos relembra que Jesus, aprontando-se para estar com as multidões sedentas de conhecimento e alento, se refugiou no deserto, por quarenta dias e quarenta noites, jejuando e comungando com Deus.

Em se falando sobre Saulo de Tarso, o jovem rabino, desejoso de trabalhar em si as forças morais para as lutas que adviriam se manteve por três anos no Oásis de Dan, organizando-se para a nova fase de experiências, definitivas e redentoras, passando de Fariseu a Apostolo dos Gentios.

Sócrates, um dos precursores da doutrina do Cristo, permanecia por horas, em cogitações profundas no recanto de sua Casa interior.

É ainda, na obra citada acima, que a Mentora esclarece: “... O deserto, simbolicamente, pode ser comparado, em uma metáfora, ao lugar ideal para a meditação profunda, a fixação do pensamento sublime distante das distrações, do imenso contingente das tentações...”

Quais seriam os benefícios da meditação para a saúde mental?

No tratamento da ansiedade e da depressão, já foram feitos estudos e obtidos resultados significativos, observando-se que a meditação atua de maneira eficaz na manutenção da saúde mental. Com esse manejo de “estudar” os pensamentos, emoções e atitudes, pode o indivíduo, manobrar de forma satisfatória seu comportamento, aliviando a pressão cerebral que os pensamentos recorrentes e conflituosos, geram no cérebro físico. Por conseguinte, o corpo físico e o perispírito, seu molde plástico e impressionável, podem receber, pela meditação, cargas energéticas de alta qualidade, que reverberarão no Espírito imortal que é.

Afirma Jason de Camargo, no livro Educação dos Sentimentos, Capítulo 14, Hábito da Meditação, que: “... todo ser humano deveria ter o seu ritual egoístico, isto é, um momento de paz só para ele...” Logo, “... O inconsciente irá incorporando outros elementos de saúde mental e isso o tornará cada vez mais calmo e puro interiormente...”

Encontramos em O Livro dos Espíritos as questões 919 e 919 “a”, onde Santo Agostinho nos sugere a prática do Autoconhecimento, usando a meditação para acessar as “sombras” que carregamos e as virtudes que já plantamos; convocando-nos para as mudanças que devemos executar, diariamente.

Encerrando as considerações a que nos propomos, destacamos do livro Dentro de Mim, Capítulo 9, de José Carlos de Lucca, Magistrado e Palestrante Espírita, o seguinte conteúdo: “Quando a mente se aquieta, a alma se expande, e a essência divina assume a gerência amorosa do nosso Ser. “A meditação é o vento que sopra a vela da alma”. Tenho certeza de que nossa vela carece desse vento!

 

Fontes:

1 – Meditação e saúde mental – disponível em LINK-1

2 – National Center of Complementary and Integrative Health, disponível em LINK-2

3 – Harvard Health Publishing – Harvard Medical School, disponível em LINK-3

4 – Meditação Mindfulness: o que é e como praticar? Disponível em www.yopro.com.br

5 – O Livro dos Espíritos, Allan Kardec;

6 - Ilumina-te, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco;

7 – Dentro de mim, por José Carlos De Lucca;

8 – Educação dos Sentimentos, por Jason de Camargo.


*Artigo participante do Concurso A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal Brasília Espírita, em parceira com a revista O Consolador e a Web Rádio Estação da Luz.
                     
 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita