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por Bruno Abreu

 

Aprenda a estar


O que é estar?

Não estou a falar em estar em determinada situação, mas um estar que se coaduna com toda e qualquer situação.

Será que existe alguma forma de estar que possa ser usada em qualquer situação?

Esta forma de estar, é estar no momento, onde estivermos. Podemos trocar, por estar no agora ou no presente.

Na verdade, não existe outro tempo senão este, pois o passado é uma memória e o futuro uma imaginação.

Aprender a estar é estarmos presentes.

O que tem isto de tão difícil? Pois parece que todos estamos.

Quando queremos estar a ler um livro, nossos olhos percorrem aquelas linhas e a mente recebe o que está a ser lido e esta é a forma de estar presente. Se começam a entrar pensamentos, estes nos perturbam e distraem da leitura. Deixamos de estar presentes no momento e passamos a viver, momentaneamente, no mundo do pensamento, que é passado ou a imaginação do futuro.

Não tem nada de errado, termos uma passagem pelas memórias, pelo pensamento. O que é complicado é vivermos constantemente desta forma.

Já reparou na velocidade a que a sua mente funciona? Já reparou na imposição e manipulação que esta lhe obriga a viver?

Jesus diz que somos escravos desta, quando afirma ao Judeus “vós sois escravos”, na passagem de “conhecereis a verdade”. Apelida-a de pecados, pois é aqui que eles nascem e alerta-nos para termos o máximo de cuidado com ela, quando nos aconselha a vigiar.

Muitas das pessoas, nem sequer se apercebem da escravatura mental que vivem, de um funcionamento automatizado de uma mente fugaz que lhes impõe uma forma de estar acelerada e cega. Acreditam piamente, que os pensamentos são sua criação e limitam-se a “boiar” neste mar revoltoso, seguindo o ritmo que este impõe.

Aqui é o ponto de partida para o caminho da descoberta da verdade que nos irá levar a liberdade.

Experimente energeticamente permanecer um pouco sem pensamentos.

Rapidamente concluirá que é impossível, mas experimente, com vontade.

Se os pensamentos surgem, mesmo sem que seja uma vontade sua, quem tem dirigido a sua vida?

É assustador apercebermo-nos disto e mais assustador, termos a coragem de entrar neste tema que nos faz tremer.

A Espiritualidade chamou de auto-obsessão o que Carl Jung, pai da psicologia analítica, chamou de funcionamento automatizado, da mente, em direção a autodestruição.

Isto explica a quantidade de doenças psíquicas que acontecem no mundo.

A própria obsessão é agravada pelo funcionamento cego, dirigido pela mente sem que a pessoa coloque em questão o que acontece em seus pensamentos.

Se seguimos atrás do que nos aparece na mente e nas emoções, podemos estar a ser dirigidos em vez de dirigir. Quanto mais apegados somos ao funcionamento mental, mais dirigidos somos, chegando à subjugação.

A evolução da humanidade passa pela distância percorrida entre o seu Eu e o ser.

Sei que é confuso, porque perguntamos o ser não é o Eu?

Não tenho palavras diferentes para vos explicar, pois somos limitados.

Quando tem uma ideia para a qual, no seu passado já ultrapassou o apego, pensa para si próprio “não quero isto para mim” ou “isto está errado”. Quem teve a ideia e quem escolheu?

Existe uma consciência em nós, que vai tentando escolher o que é melhor, recebendo de fora intuições e conselhos.

Esta consciência não é o Eu, mas rapidamente pode ser enganada por este.

Esperamos no futuro, o crescimento moral de forma generalizada no nosso planeta e chamamos este crescimento de evolução planetária.

O que falta para crescermos? O desapego das más tendências, que nascem em nós e nós as consumimos como doces prediletos.

Estarmos é criarmos distância entre o que nos aparece na mente e o ser, medindo cada pensamento, cada emoção, cada sentimento. Vigiando, como Jesus aconselhou.

Estarmos no momento presente. Se estamos a ler, lemos, se estamos a conduzir, conduzimos, se estamos a trabalhar, trabalhamos. Estarmos de mente pois o corpo já está.

Recordam-se do primeiro conselho da oração? Recolhermo-nos aos nossos aposentos, que já devem ser silenciosos, e em silêncio “mental”, que nosso pai em silêncio escuta. Estar ou vigiar, é a atenção a nossa mente, que se torna silenciosa com o tempo e o hábito, durante o decorrer do nosso dia.

Aprender a estar é aprender a vigiar, independentemente do que estamos a fazer ou do que está a decorrer. Assim vivemos no presente, aproveitando o máximo o que está a acontecer e aprendendo com cada situação, pois a mente está vazia e recebe todo o ensinamento.

É como estarmos a ler um livro, se a mente estiver quieta, chamamos de atenção, se estiver inquieta, perturba-nos, tirando todo o proveito e aprendizado que poderíamos tirar daquele livro.

Isto parece tão difícil de fazer, mas é tão natural em nós.

Quem tenta ficar sem pensar desiste rapidamente, pois acha que é impossível.

É verdade que é impossível parar o pensamento, ninguém consegue, mas não é impossível estar sem pensar, são coisas diferentes.

Como vamos conseguir estar sem pensar se não o conseguimos parar?

Onde nasce o pensamento?

Quando estamos muito empenhados numa tarefa, distraímo-nos? Ou quando vemos uma linda paisagem, pensamos?

Em ambos os casos, temos em nós a atenção, a vigia.

Não conseguimos parar os pensamentos, mas conseguimos desenvolver a atenção ou vigia, como o Mestre falou. Esta atenção traz o silêncio da mente.

Requer tempo, praticando a cada minuto. Esta é a verdadeira meditação, que Buda ensinou. A atenção a cada segundo, estarmos presentes. A vigia de Jesus Cristo.

A evolução espiritual acontece aqui, neste desenvolvimento de hábito. Neste hábito, nasce a força para combatermos as más tendências, nasce a descoberta dos nossos defeitos interiorizados pela observação do aparecimento destes através dos nossos impulsos. Tudo isto acontece de forma muito natural.

Vigiai e Orai, para que não entreis em tentação.

 

Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita