Aprenda a
estar
O que é estar?
Não estou a falar em
estar em determinada
situação, mas um estar
que se coaduna com toda
e qualquer situação.
Será que existe alguma
forma de estar que possa
ser usada em qualquer
situação?
Esta forma de estar, é
estar no momento, onde
estivermos. Podemos
trocar, por estar no
agora ou no presente.
Na verdade, não existe
outro tempo senão este,
pois o passado é uma
memória e o futuro uma
imaginação.
Aprender a estar é
estarmos presentes.
O que tem isto de tão
difícil? Pois parece que
todos estamos.
Quando queremos estar a
ler um livro, nossos
olhos percorrem aquelas
linhas e a mente recebe
o que está a ser lido e
esta é a forma de estar
presente. Se começam a
entrar pensamentos,
estes nos perturbam e
distraem da leitura.
Deixamos de estar
presentes no momento e
passamos a viver,
momentaneamente, no
mundo do pensamento, que
é passado ou a
imaginação do futuro.
Não tem nada de errado,
termos uma passagem
pelas memórias, pelo
pensamento. O que é
complicado é vivermos
constantemente desta
forma.
Já reparou na velocidade
a que a sua mente
funciona? Já reparou na
imposição e manipulação
que esta lhe obriga a
viver?
Jesus diz que somos
escravos desta, quando
afirma ao Judeus “vós
sois escravos”, na
passagem de “conhecereis
a verdade”. Apelida-a de
pecados, pois é aqui que
eles nascem e alerta-nos
para termos o máximo de
cuidado com ela, quando
nos aconselha a vigiar.
Muitas das pessoas, nem
sequer se apercebem da
escravatura mental que
vivem, de um
funcionamento
automatizado de uma
mente fugaz que lhes
impõe uma forma de estar
acelerada e cega.
Acreditam piamente, que
os pensamentos são sua
criação e limitam-se a
“boiar” neste mar
revoltoso, seguindo o
ritmo que este impõe.
Aqui é o ponto de
partida para o caminho
da descoberta da verdade
que nos irá levar a
liberdade.
Experimente
energeticamente
permanecer um pouco sem
pensamentos.
Rapidamente concluirá
que é impossível, mas
experimente, com
vontade.
Se os pensamentos
surgem, mesmo sem que
seja uma vontade sua,
quem tem dirigido a sua
vida?
É assustador
apercebermo-nos disto e
mais assustador, termos
a coragem de entrar
neste tema que nos faz
tremer.
A Espiritualidade chamou
de auto-obsessão o que
Carl Jung, pai da
psicologia analítica,
chamou de funcionamento
automatizado, da mente,
em direção a
autodestruição.
Isto explica a
quantidade de doenças
psíquicas que acontecem
no mundo.
A própria obsessão é
agravada pelo
funcionamento cego,
dirigido pela mente sem
que a pessoa coloque em
questão o que acontece
em seus pensamentos.
Se seguimos atrás do que
nos aparece na mente e
nas emoções, podemos
estar a ser dirigidos em
vez de dirigir. Quanto
mais apegados somos ao
funcionamento mental,
mais dirigidos somos,
chegando à subjugação.
A evolução da humanidade
passa pela distância
percorrida entre o seu
Eu e o ser.
Sei que é confuso,
porque perguntamos o ser
não é o Eu?
Não tenho palavras
diferentes para vos
explicar, pois somos
limitados.
Quando tem uma ideia
para a qual, no seu
passado já ultrapassou o
apego, pensa para si
próprio “não quero isto
para mim” ou “isto está
errado”. Quem teve a
ideia e quem escolheu?
Existe uma consciência
em nós, que vai tentando
escolher o que é melhor,
recebendo de fora
intuições e conselhos.
Esta consciência não é o
Eu, mas rapidamente pode
ser enganada por este.
Esperamos no futuro, o
crescimento moral de
forma generalizada no
nosso planeta e chamamos
este crescimento de
evolução planetária.
O que falta para
crescermos? O desapego
das más tendências, que
nascem em nós e nós as
consumimos como doces
prediletos.
Estarmos é criarmos
distância entre o que
nos aparece na mente e o
ser, medindo cada
pensamento, cada emoção,
cada sentimento.
Vigiando, como Jesus
aconselhou.
Estarmos no momento
presente. Se estamos a
ler, lemos, se estamos a
conduzir, conduzimos, se
estamos a trabalhar,
trabalhamos. Estarmos de
mente pois o corpo já
está.
Recordam-se do primeiro
conselho da oração?
Recolhermo-nos aos
nossos aposentos, que já
devem ser silenciosos, e
em silêncio “mental”,
que nosso pai em
silêncio escuta. Estar
ou vigiar, é a atenção a
nossa mente, que se
torna silenciosa com o
tempo e o hábito,
durante o decorrer do
nosso dia.
Aprender a estar é
aprender a vigiar,
independentemente do que
estamos a fazer ou do
que está a decorrer.
Assim vivemos no
presente, aproveitando o
máximo o que está a
acontecer e aprendendo
com cada situação, pois
a mente está vazia e
recebe todo o
ensinamento.
É como estarmos a ler um
livro, se a mente
estiver quieta, chamamos
de atenção, se estiver
inquieta, perturba-nos,
tirando todo o proveito
e aprendizado que
poderíamos tirar daquele
livro.
Isto parece tão difícil
de fazer, mas é tão
natural em nós.
Quem tenta ficar sem
pensar desiste
rapidamente, pois acha
que é impossível.
É verdade que é
impossível parar o
pensamento, ninguém
consegue, mas não é
impossível estar sem
pensar, são coisas
diferentes.
Como vamos conseguir
estar sem pensar se não
o conseguimos parar?
Onde nasce o pensamento?
Quando estamos muito
empenhados numa tarefa,
distraímo-nos? Ou quando
vemos uma linda
paisagem, pensamos?
Em ambos os casos, temos
em nós a atenção, a
vigia.
Não conseguimos parar os
pensamentos, mas
conseguimos desenvolver
a atenção ou vigia, como
o Mestre falou. Esta
atenção traz o silêncio
da mente.
Requer tempo, praticando
a cada minuto. Esta é a
verdadeira meditação,
que Buda ensinou. A
atenção a cada segundo,
estarmos presentes. A
vigia de Jesus Cristo.
A evolução espiritual
acontece aqui, neste
desenvolvimento de
hábito. Neste hábito,
nasce a força para
combatermos as más
tendências, nasce a
descoberta dos nossos
defeitos interiorizados
pela observação do
aparecimento destes
através dos nossos
impulsos. Tudo isto
acontece de forma muito
natural.
Vigiai e Orai, para que
não entreis em tentação.
Bruno
Abreu reside em Lisboa,
Portugal.
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