Os inimigos do
homem serão os
seus familiares
“E assim os
inimigos do
homem serão os
seus
familiares.” (Mateus,
10:36)
Esta passagem
evangélica não é
de fácil
compreensão,
porquanto a
intepretação
literal
desvia-nos do
verdadeiro
sentido moral e
espiritual dos
ensinamentos de
Jesus.
Poderíamos
inferir que ela
conteria algum
erro de
tradução, de
transcrição ou
de entendimento
em relação aos
demais textos
evangélicos,
tendo em vista
que o Cristo não
deixou relato e
os evangelhos
foram escritos
tempo depois de
sua morte e
ressurreição.
Sem considerar
as hipóteses
anteriores,
preciso buscar
esclarecimentos
que se
harmonizem com
os ensinos de
Jesus, segundo a
ótica da
Doutrina
Espírita.
Importante
destacar que o
Espiritismo
procura reviver
a mensagem
cristã em seu
sentido moral,
espiritual e
atemporal,
afastando a
interpretação
literal e
dogmática.
Antes, porém,
para melhor
entendimento,
cabe ressaltar
certos
princípios
doutrinários do
Espiritismo que
auxiliarão as
necessárias
elucidações.
Os ensinamentos
e exemplos de
Jesus nos
evangelhos
demonstram a
imortalidade do
Espírito, que
sobrevive à
morte do corpo
físico rumo à
vida eterna. Ou
seja, a vida
espiritual
continua em
outra dimensão.
Os Espíritos
Superiores, que
participaram da
Codificação
Espírita,
ensinaram sobre
a vida futura em
pluralidade de
existências
mediante
reencarnações
sucessivas, cuja
crença é
indutora para a
maneira como
conduzir a vida
material, pois
as ações
praticadas, boas
ou ruins, pela
lei de causa e
efeito, trazem
consequências
para o caminho
que se pretende
trilhar no
processo
evolutivo a
caminho da
perfeição.
Se assim não
fosse, porque o
ser humano
deveria praticar
o bem, amar a
Deus sobre todas
as coisas, amar
ao próximo como
a si mesmo, amar
o inimigo,
reconciliar-se
com o adversário
enquanto está
com ele no
caminho, orar
por quem lhe
persegue, odeia,
ofende, ou
praticar o
perdão
incondicional,
diante de uma
vida que
terminaria com a
morte do corpo
físico.
Sem a crença na
vida futura, o
ser humano
focaria todos
seus esforços e
pensamentos na
vida terrena e
na aquisição de
bens materiais
transitórios, em
que aquisições
de virtudes e
atributos morais
e espirituais
ensinadas pelo
Mestre Jesus de
nada valeriam.
Se vivo uma vida
inteira de
sofrimentos e
aflições, quando
serei consolado?
Se errei até o
fim da minha
vida, quando
poderei reparar
as minhas
faltas?
O destino seria
regido por penas
eternas, sem
qualquer
oportunidade de
recomeçar,
regenerar e
evoluir? Onde
estaria a
justiça, a
bondade e a
misericórdia de
Deus?
Então, por que
cultuar o amor,
a fé, a
esperança, o
perdão e o
consolo?
Nesse contexto,
os ensinamentos
dos Evangelhos
não teriam
sentidos de se
praticar.
Daí fundamental
crer na
imortalidade do
Espírito, na
reencarnação e
no planejamento
reencarnatório,
cujos
entendimentos
dão sentido às
passagens
evangélicas.
Outro aspecto
doutrinário a
considerar é a
união familiar
por laços
biológicos e
espirituais.
Os laços sociais
são necessários
para o progresso
da Humanidade, e
o laço de
família, que é
lei da Natureza,
contribui para
esse progresso.
Quis Deus que,
por essa forma,
os homens
aprendessem a
amar-se como
irmãos.
Os laços
consanguíneos
não criam
forçosamente
união entre
Espíritos. O
corpo procede do
corpo, mas o
Espírito não
procede do
Espírito,
porquanto todos
os Espíritos são
criados por Deus
e não há
reprodução
espiritual. Na
reencarnação, o
Espírito já
existia antes da
formação do
corpo.
Por conseguinte,
os pais não
criam o Espírito
do filho. No
entanto, eles
fornecem o
invólucro
corpóreo,
cumprindo-lhes
auxiliar no
desenvolvimento
intelectual e
moral do filho
para fazê-lo
progredir.
Pela Doutrina
Espírita, os que
encarnam numa
família,
sobretudo como
parentes
próximos, são,
as mais das
vezes, Espíritos
simpáticos,
ligados por
anteriores
relações, que se
expressam por
uma afeição
recíproca na
vida terrena.
Espíritos da
mesma categoria,
do mesmo caráter
e dos mesmos
sentimentos
formam grupos e
famílias, sendo
incalculável o
número de
Espíritos que os
compõem.
Quis Deus que os
seres se unissem
não só pelos
laços da carne,
mas também pelos
da alma.
Mas também pode
acontecer sejam
completamente
estranhos uns
aos outros esses
Espíritos,
afastados entre
si por
antipatias
igualmente
anteriores, que
se traduzem na
Terra por um
mútuo
antagonismo, que
aí lhes serve de
provação, os
quais se
reencontram para
os ajustes e
reajustes
indispensáveis.
Esse tipo de
laços
espirituais
resulta de
resoluções do
planejamento
reencarnatório,
arrastando
débitos que as
circunstâncias
constrangem a
revisar naquela
família, cujos
alicerces se
consolidam na
esfera terrestre
e prolongam-se
no plano
espiritual, por
ensinarem que as
ligações humanas
respeitáveis
objetivam
redimir almas.
Para o
Espiritismo, os
verdadeiros
laços de família
são os
espirituais, que
prendem os
Espíritos antes,
durante e depois
de suas
encarnações.
Portanto, na
família, os
laços
espirituais
podem ser
formados por
Espíritos unidos
pela afeição,
simpatia e
semelhança de
inclinações,
felizes por
estarem juntos.
Dessa afinidade
espiritual, uns
podem seguir os
outros na
encarnação,
reunindo-se em
uma mesma
família para
trabalharem pelo
mútuo
adiantamento.
Por conseguinte,
movidos pelo
amor, os que
estão mais
adiantados
auxiliam os
retardatários a
progredirem, no
sentido de
voltar e ajudar
os que se
atrasaram.
Em outro
contexto, os
laços
espirituais de
família podem
ser formados por
desafetos,
divididos por
desavenças
anteriores,
servindo-lhes de
provação. Isso
porque, depois
de uma
existência, o
Espírito leva
consigo as
paixões e os
ressentimentos
de existências
passadas.
Contudo, o
Espírito
aperfeiçoa-se no
Espaço até que
deseje receber a
luz. Após o
tempo de
meditação, o
Espírito
ressentido
aproveita a
oportunidade
para renascer na
família do
desafeto para
viver nova
chance de
progresso.
As vidas não se
cruzam ao acaso,
pois forças
superiores
impelem uns para
com outros para
cumprir as ações
da providência
divina. É assim
que se deve
compreender a
família unida
por laços
espirituais, que
vai além dos
laços
biológicos.
Voltando à
interpretação da
passagem
evangélica,
tendo por base o
Estudo
Aprofundado da
Doutrina
Espírita,
Ensinos e
Parábolas de
Jesus – Parte I,
“Ensinos diretos
de Jesus”,
Módulo II,
Roteiro 3, “Não
vim trazer paz,
mas espada”, da
Federação
Espírita
Brasileira
(FEB), temos uma
interpretação
doutrinária.
As pessoas que
se desentenderam
em outras
reencarnações
estão hoje, em
geral,
congregadas
dentro de uma
mesma família,
buscando o
resgate e a
harmonização
indispensáveis,
diante das leis
divinas.
No âmbito
familiar, os
inimigos ou
adversários agem
e reagem uns
sobre os outros,
criando
obstáculos à
união e ao
respeito mútuos,
ainda que disso
não se deem
conta.
Pela
misericórdia
divina e pelo
véu do
esquecimento, os
envolvidos nos
processos de
reajuste
espiritual
dificilmente
recordam os
acontecimentos
do passado,
ocorridos em
outras
existências.
Entretanto, as
antipatias, os
ódios, os ciúmes
e as
desconfianças
são
impulsivamente
manifestadas, a
ponto de
ocorrerem
separações,
perseguições e
outros
problemas.
Por outro lado,
é comum
constatar que
muitos parentes
desenvolvem
convivência
harmoniosa com
estranhos ao
ninho familiar.
A pessoa
esclarecida
sobre as causas
dessas
inimizades
aprende a
administrar as
desarmonias com
humildade e, aos
poucos, percebe
que as
dificuldades
podem ser
reduzidas ou
eliminadas. Tal
entendimento
conduz à ação
cristã que,
tendo como base
o perdão, a
renúncia e a
bondade, auxilia
na superação de
obstáculos e o
polimento de
arestas, úteis à
manutenção do
equilíbrio nas
relações
familiares.
Nesse contexto,
“os inimigos do
homem” como
familiares é uma
provação e
oportunidade de
renascer e
reencontrar o
antigo desafeto
para os ajustes
e reajustes
indispensáveis,
reparando as
faltas do
passado e
vivendo nova
chance de
progresso moral
e espiritual.
Há de se
considerar,
ainda, a
presença dos
inimigos que
trazemos dentro
de nós,
representados
pelas próprias
imperfeições,
más tendências e
outras
deficiências que
conspiram contra
a saúde e
obstruem a
manifestação da
felicidade
integral.
Esses inimigos
internos, que
imperam no
psiquismo, são
elementos
complexos que
precisam ser
desativados,
perturbam a paz
de Espírito,
atormentando a
existência.
Assim sendo,
inimigos de
outras
existências
reencontram-se
na mesma família
pela
reencarnação
para reparar
faltas e
desavenças do
passado, que
auxiliarão a
estabelecer uma
nova base moral
e espiritual de
laços de família
por meio do
arrependimento,
do perdão
incondicional,
da reconciliação
e dos princípios
de fraternidade,
solidariedade e
igualdade.
A renovação
espiritual
representa a
caridade
essencial que
devemos ter para
conosco e com
todos os
familiares,
reconciliando e
apaziguando-se
com os inimigos
que afetam o
ninho doméstico.
Bibliografia:
ABREU, Honório
Onofre de
(Coordenador). Luz
imperecível;
Estudo
Interpretativo
do Evangelho à
Luz da Doutrina
Espírita. 1ª
Edição.
Brasília/DF:
Federação
Espírita
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UEM, 2024.
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KARDEC, Allan;
tradução de
Guillon
Ribeiro. O
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Segundo o
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1ª Edição.
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Federação
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KARDEC, Allan;
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1ª Edição.
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MOURA, Marta
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Oliveira
(organizadora). Estudo
aprofundado da
doutrina
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Ensinos e
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Jesus – Parte I.
Orientações
espíritas e
sugestões
didático-pedagógicas
direcionadas ao
estudo do
aspecto
religioso do
Espiritismo.
1ª Edição.
Brasília/DF:
Federação
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2016.