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por Rogério Coelho

 

Presença do desânimo 


O desânimo é um verme destruidor das melhores realizações de nossa vida.


“(...) Expulsa a melancolia de tua alma, essa hóspede teimosa que te envolve no dossel de mil amarguras segredando desânimo e desassossego.” - 
Joanna de Ângelis


Ensina o nobre Mentor Marco Prisco[1] que “(...) há dias em que o desânimo ameaça-nos de maneira perversa e, por mais procuremos fugir do seu envolvimento, tudo conspira para que não o consigamos.

Embora tenhamos orado, parece-nos que o recurso aben­çoado dessa vez não funcionou como deveria. Que se está passando conosco?!  Raciocinamos, intentamos encontrar a causa do mal-es­tar, do fenômeno perturbador e não logramos identificá-lo: em um momento estamos com excelente humor e, nada obstante, logo a seguir sintomas desagradáveis passam a inquietar-nos. Tudo quanto antes era alegria, repentinamente per­deu o encanto...

Programas em elaboração que produziam adre­nalina estimulante, não mais proporcionam qualquer emoção de prazer e falsa necessidade de repouso toma-nos todo o corpo.

Provavelmente é um sintoma causado por conflitos não solucionados, talvez de uma depressão mascarada nas suas raízes, que se tornou crônica e não soubemos administrar.

É provável que se trate, por outro lado, de alguma perturbação orgânica, defluente de problemas digestivos ocorridos durante a noite. Também não se pode descartar a possibilidade de encontros espirituais negativos durante o natural desdobramento pelo sono, intoxicando-nos espiritualmente. Mas, igualmente pode provir de pertinaz assistência negati­va de Espíritos adversários que encontraram alguma brecha emocional para interferir no nosso estado de ânimo.

Quem sabe pode ser resultado da absorção de energias deletérias que nos alcançaram, provenientes de amigos inamistosos reencarnados e que pertencem ao nosso círculo de relações pessoais? O cérebro humano é uma usina possuidora de inúmeras antenas captadoras e transmissoras de ondas procedentes de outras que se lhe equivalem, portanto, vivendo-se em uma psicosfera mórbida, é inevitável que se assimilem vibrações de baixa frequência portadoras de vibriões mentais.

O intercâmbio entre psiquismos diferentes, mas que se encontram na mesma faixa vibratória, é muito maior do que se pode imaginar. Sempre quando há sintonia por afinidade, por iden­tificação de propósitos, por interação emocional, ocorrem intercâmbios mentais. Tudo é resultado de situações idênticas.

Quando assim você se encontre, de imediato reaja, porque não é o seu estado natural, portanto, algo de errado está acontecendo, e, antes que se agrave, procure solucionar.

Inicialmente, busque o concurso da oração que o elevará a outro nível de sintonia espiritual, enquanto será reabastecido de energias saudáveis provenientes da Fonte do Amor Inefável; logo depois, cuide de banhar-se e movimente-se, realizando qualquer atividade de natureza física, a fim de auxiliar a libertação dos miasmas vibratórios que se encaixaram no cérebro.

Assim que se sinta melhor, leia uma página edificante e procure manter o pensamento na faixa do Bem.  Não se permita continuar com a mente turvada pelas vibrações perniciosas.

É natural que lhe aconteça esse fenômeno vez que outra...

Estando na Terra, que se encontra sob camadas vi­bratórias perturbadoras, resultado das mentes em desalinho e das paixões desgovernadas, a sua psicosfera se encontra tóxica. E inevitavelmente, você, num ou noutro momento, se contaminará”.

Todos os peregrinos da Eternidade, precisamos estar atentos aos variegados fatores que retardam a marcha de nosso progresso... Muitos desses fatores fogem ao nosso controle porque são externos, mas a maioria deles são internos e perfeitamente controláveis...

Segundo Joanna de Ângelis, “(...) a melancolia é também enfermidade ou síndrome de obsessão, vitimando magotes de criaturas que formam compacta massa de vivos-mortos que pululam em gabinetes de psicanálises, buscando soluções que só raramente se resolvem aceitar e seguir”.

Sensível a essa questão, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores[2]“donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?”

E obtém a seguinte resposta: “efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera”.

Joanna de Ângelis identifica ainda outro motivo que pode gerar a melancolia e o desassossego, e esse se relaciona com as experiências pretéritas. Diz a Mentora Amiga: “(...) os abusos do pretérito culposo se manifestam como tristeza indefinida, disfarçando o remorso que a carne abafa nos centros da memória perispiritual”.

A nobre Mentora aconselha: “se te sentes com os movimentos interditos pelas malhas perigosas da melancolia, expulsa com esforço titânico as trevas que te envolvem e faze luz íntima, acendendo a lâmpada do Evangelho na mente turbilhonada”.

François de Gèneve retoma o tema em formosa página intitulada[3]: a melancolia, na qual a nobre Entidade fala: “sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.

Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade.  São inatas no Espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou.

Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para suportá-los.  Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra”.

Portanto, não sem motivos Joanna de Ângelis aconselha[4]: “(...) resiste, com todo o vigor, às surtidas desses estados da alma. Eles terminarão. Recorda-te de que, após a noite, esplende, luminoso, o dia, como à enfermidade sucede a saúde benfazeja.

É natural que aneles por mais largas conquistas. Para isso, aqui estás, em luta contínua, ao lado de outros Espíritos também necessitados, a fim de que evoluam, qual ocorre contigo mesmo.

Quando concluídas as tuas provações, que deves enfrentar com resolução, librarás, ditoso, nesses lugares de plenitude, que nos aguardam após as necessárias aflições terrenas”.

Emmanuel – amorosamente – nos alerta: “(...) cultiva a paciência sem esmorecer. Por maiores que sejam as dificuldades para a execução das tarefas que te cabem, trabalha e espera! Não te rendas ao desânimo e insiste no bem”. 

 


[1] - FRANCO, Divaldo. Renove-se. Salvador: LEAL, 2016, cap. 34.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 943.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 125.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. V, item 25.

[4] - FRANCO, Divaldo. Luz da esperança. 3.ed. Rio [de Janeiro]: Spirita Eldona Societo: 2002, cap. 16.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita