Onde estão as crianças desencarnadas?
Um dos temas contemplados na primeira obra fundamental
do Espiritismo aborda assunto de destacado interesse
para muitas famílias que sofrem com a morte prematura de
um filho, alguns mesmo em tenra idade: Sorte das
crianças depois da morte. Dentro desta temática,
destacamos a seguinte questão:
Que sucede ao Espírito de uma criança que morre em tenra
idade?
“Recomeça uma nova existência.”1
Esta sucinta resposta deu margem a que alguns leitores
concluíssem, de forma precipitada, não haver crianças no
Mundo Espiritual, interpretando o recomeça como
uma ação imediata por parte dos encarregados dos
processos reencarnatórios, ou seja, para os Espíritos
desencarnados precocemente não haveria erraticidade.
Contudo, é de notar não ter sido dito quando a criança
recomeça essa nova existência.
A situação originada por esta interpretação cria um
precedente inquietante dentro do corpo da Doutrina, pois
abre uma possibilidade de exceção à regra geral. Esta
prevê para todos os mortos a permanência por um período
de tempo variável no espaço de modo a possibilitar a
escolha e o planejamento de uma nova existência. E, como
as crianças, não importa em qual idade desencarnem, são
Espíritos tão, mais ou menos antigos do que seus pais,
possuindo o seu passado muito bem delineado, construído
nas encarnações anteriores, com provas e expiações a
serem experimentadas em função de condutas distanciadas
das leis divinas vividas por livre escolha, deveriam
passar também por um estágio no plano etéreo para, de
igual modo, se prepararem para outra reencarnação, em
futuro próximo ou distante.
Como exemplo do caso de uma criança no Além, podemos
lembrar a mensagem comunicada por Marcel um menino de 8
a 10 anos. Decorrido algum tempo da sua desencarnação,
foi evocado na Sociedade de Paris em 1863 dando uma
comunicação conforme relata Allan Kardec em O Céu e o
Inferno, embora ele já estivesse com o seu
perispírito recuperado em relação à sua proporção, à
época em que comunicou a mensagem.2
Não há por que duvidar haver crianças no Plano
Espiritual, pois o desencarne de crianças é comum, é um
fato que acompanha a nossa evolução como Humanidade.
Neste ano já desencarnaram no mundo 1.803.796 crianças
com menos de 5 anos.3 Aliás, é o próprio
Codificador quem afirmou:
Por que a vida se interrompe com tanta frequência na
infância?
“A duração da vida da criança pode representar, para o
Espírito que nela está encarnado, o complemento de uma
existência interrompida antes do término devido, e sua
morte, quase sempre, constitui provação ou expiação para
os pais.”4
Assim, as mortes prematuras atendem à lei de causa e
efeito, não há nada a estranhar. Nesta resposta,
afirmam que este fato pode representar para o Espírito o
complemento de uma existência interrompida antes do
término devido, uma típica situação causada por um
suicídio, opção largamente utilizada pelos homens, na
prévia existência.
É fato não ter Allan Kardec abordado em detalhes este
tema, mas registou em linhas gerais a forma como atuam
as leis de Deus, que se aplicam a todos, sem exceção.
Após a publicação das obras compondo o Espiritismo,
houve o lançamento de outros compêndios trazendo
informações complementares a algumas lacunas deixadas
por Allan Kardec, cremos de propósito, pois não seria
factível discorrer em minúcias sobre todos os temas que
pudessem interessar à Humanidade, sem publicar não cinco
obras básicas, mas dezenas. Qualquer antigo
enciclopedista diria o mesmo.
A existência de moradas fluídicas abrigando Espíritos de
crianças recém desencarnadas já está amplamente
confirmada, aliás, mesmo antes do surgimento do
Espiritismo, autores já abordavam o tema, como se denota
nesta citação de Cairbar Schutel:
As crianças são bem recebidas no Outro Mundo, sejam ou
não batizadas. Aí elas crescem e são adotadas por
mulheres jovens, até que lhes apareçam suas mães
verdadeiras.5
Esta descrição do que ocorre no Além, relacionada,
particularmente, ao tema em exame, foi fornecida por um
dos mais destacados espiritualistas que já passaram pela
Terra:
Emanuel Swedenborg, que viveu em nosso orbe no período
de 1688 a 1772.
Foi também Cairbar quem informou:
Os Espíritos dos que morrem quando crianças são
acolhidos carinhosamente por missionários que se dedicam
a essa tarefa, e são igualmente instruídos até que se
lhes desponte a consciência integral e desapareça deles
o traço infantil gravado na “consciência pessoal”6
Observa-se, de modo geral, que é preciso tempo para que
o Espírito perca as características infantis que lhe
foram impostas antes de reencarnar, parte das
providências tomadas pelos operadores das reencarnações.
Esta medida é fundamental pois permite ao Espírito um
novo recomeço, facultando aos pais a possibilidade de
educá-lo ou reeducá-lo, preparando-o, durante o período
infantil, para novas lutas que certamente se seguirão no
curso de mais uma existência.
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O
Livro dos Espíritos.
Tradução Evandro Noleto Bezerra. ed. 2. imp. 1.
Brasília/DF: FEB, 2013. q. 199ª.
2 KARDEC,
Allan. O Céu e o Inferno. Tradução Evandro Noleto
Bezerra. ed. 2. imp. Brasília/DF: FEB, 2013. 2ª pt. Marcel,
o menino do nº 4.
3 LINK-1 -
Acesso em: 29/03/2025.
4 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Evandro
Noleto Bezerra. ed. 2. imp. 1. Brasília/DF: FEB, 2013.
q. 199.
5 SCHUTEL,
Cairbar. A vida no outro mundo. ed. 8. Matão/SP:
O Clarim, 2014. As revelações de Swedenborg.
6 Op.
cit. Perturbação da morte.