A meritocracia na seara do Cristo
A mensagem “Os Obreiros do Senhor”, ditada pelo Espírito
Verdade e presente em O Evangelho segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec, ressoa como um chamado
urgente à ação para aqueles que se comprometeram com a
seara do Espiritismo. Ela anuncia um momento crucial de
transformação da Humanidade e exalta os trabalhadores
dedicados que, movidos pela caridade e pelo
desprendimento, contribuem para a edificação do bem
coletivo. Essa exortação reflete o princípio de que a
verdadeira grandeza espiritual não se mede pelos títulos
terrenos, mas pelo serviço devotado e desinteressado,
garantindo a esses obreiros uma recompensa multiplicada
no porvir. Essa perspectiva convida à reflexão sobre o
compromisso individual de cada espírita na construção de
uma sociedade mais justa e fraterna.
O texto também adverte sobre os perigos da discórdia e
do egoísmo no seio do Movimento Espírita. A obra do
Cristo não pode ser retardada por disputas, vaidades e
ambições pessoais, pois aqueles que se deixam levar pelo
orgulho e pelo desejo de reconhecimento já receberam sua
recompensa no mundo material, sem direito às
bem-aventuranças espirituais. Esse alerta repercute de
maneira muito atual, pois, em meio às divergências de
interpretação e aos desafios organizacionais do
Espiritismo na atualidade, há o risco de dispersão e de
enfraquecimento da causa maior. O chamado é, portanto, à
união, ao espírito de cooperação e ao abandono de
posturas exclusivistas que impeçam o avanço do
esclarecimento e da consolação.
A imagem do “censo dos servidores fiéis” constante do
texto sugere que há um crivo divino em andamento,
separando aqueles que verdadeiramente se dedicam à
regeneração do mundo daqueles cujo compromisso é
superficial ou movido por interesses exclusivistas. Essa
ideia reforça o conceito da meritocracia espiritual, em
que as tarefas mais complexas e essenciais serão
confiadas aos que não recuarem diante dos desafios. No
contexto do Espiritismo contemporâneo, essa seleção
natural de trabalhadores convida à renovação constante
da conduta, à humildade no serviço e à disposição para
enfrentar dificuldades, pois a transição planetária
demanda espíritos fortalecidos na fé e no discernimento.
Por fim, a passagem encerra-se com a máxima evangélica
de que “os primeiros serão os últimos e os últimos serão
os primeiros”, revelando que o verdadeiro valor do
trabalhador do Cristo não está na posição que ocupa na
sociedade ou nas instituições, mas na autenticidade do
seu compromisso com o bem. No momento atual do Movimento
Espírita, essa lição é essencial para evitar a
cristalização de hierarquias artificiais e para lembrar
que a seara do Senhor acolhe com o mesmo carinho tanto
os estudiosos experientes quanto os novos adeptos que
chegam com o coração sincero. A grande obra da
regeneração não se faz apenas com conhecimento, mas com
amor, trabalho perseverante e espírito de serviço
genuíno. Foi por pensar assim que, com supedâneo na
citada mensagem, escrevemos o seguinte poema:
OS OBREIROS DO SENHOR
Obreiros de Jesus, o tempo é já chegado,
No qual se cumprirão as vozes do Senhor.
Ditosos os irmãos que houverem trabalhado
No campo do Evangelho, ungidos pelo Amor.
Ditosos os que hão dito a seus irmãos de luta:
– “Unamos nossas mãos, obremos só no Bem”.
Seus dias de trabalho, as horas de labuta
E as mais simples ações serão pagos por cem.
Quando o Senhor chegar e a Obra terminada
Lhe for apresentada, Ele dirá então:
– “Ó servidores bons, que a voz silenciada
Trazeis nas dissensões, vinde ao Meu coração”.
Ai dos irmãos, porém, que houverem retardado
A hora da colheita, em prol da divisão.
Serão levados, sim, seu grupo arrebatado
Na tempestade hostil, no horror do turbilhão!
Por graça clamarão. Responde a Divindade:
– “Como implorais por graça, ó vós, usurpadores,
Que nunca vossas mãos pousastes com piedade
Nos fracos e jamais pensastes suas dores?”
“Tivestes deste mundo os gozos passageiros
E a retribuição que o vosso orgulho encerra;
A recompensa eterna é para os tarefeiros
Que não tenham buscado os galardões da Terra”.
Procede já o Senhor ao censo, no presente,
Dos seus servos fiéis, tão pródigos de dons,
E assinalou os maus, de ação só aparente,
Que nunca usurparão o salário dos bons.
Aos que seguirem sempre a fé que se desdobra
Na ação certa, o Senhor, sagrando esse idealismo,
Os postos confiará mais difíceis da obra
Da regeneração, à luz do Espiritismo.
Por isso, irmãos de amor da Pátria do Cruzeiro,
Jesus faz hoje Sol em vosso coração
E vos conclama à luta, em prol do mundo inteiro.
O prêmio à vossa alma é a plena redenção,
Que o Cristo vos desvela, em fúlgido roteiro:
– Trabalho, Caridade e Unificação.
Mário Frigéri é
poeta, escritor, autor e youtuber com a mente e o
coração voltados para o esplendor do Evangelho e da
Doutrina Espírita. Ele reside em Campinas-SP.