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por Mário Frigéri

 

A meritocracia na seara do Cristo


A mensagem “Os Obreiros do Senhor”, ditada pelo Espírito Verdade e presente em O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ressoa como um chamado urgente à ação para aqueles que se comprometeram com a seara do Espiritismo. Ela anuncia um momento crucial de transformação da Humanidade e exalta os trabalhadores dedicados que, movidos pela caridade e pelo desprendimento, contribuem para a edificação do bem coletivo. Essa exortação reflete o princípio de que a verdadeira grandeza espiritual não se mede pelos títulos terrenos, mas pelo serviço devotado e desinteressado, garantindo a esses obreiros uma recompensa multiplicada no porvir. Essa perspectiva convida à reflexão sobre o compromisso individual de cada espírita na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

O texto também adverte sobre os perigos da discórdia e do egoísmo no seio do Movimento Espírita. A obra do Cristo não pode ser retardada por disputas, vaidades e ambições pessoais, pois aqueles que se deixam levar pelo orgulho e pelo desejo de reconhecimento já receberam sua recompensa no mundo material, sem direito às bem-aventuranças espirituais. Esse alerta repercute de maneira muito atual, pois, em meio às divergências de interpretação e aos desafios organizacionais do Espiritismo na atualidade, há o risco de dispersão e de enfraquecimento da causa maior. O chamado é, portanto, à união, ao espírito de cooperação e ao abandono de posturas exclusivistas que impeçam o avanço do esclarecimento e da consolação.

A imagem do “censo dos servidores fiéis” constante do texto sugere que há um crivo divino em andamento, separando aqueles que verdadeiramente se dedicam à regeneração do mundo daqueles cujo compromisso é superficial ou movido por interesses exclusivistas. Essa ideia reforça o conceito da meritocracia espiritual, em que as tarefas mais complexas e essenciais serão confiadas aos que não recuarem diante dos desafios. No contexto do Espiritismo contemporâneo, essa seleção natural de trabalhadores convida à renovação constante da conduta, à humildade no serviço e à disposição para enfrentar dificuldades, pois a transição planetária demanda espíritos fortalecidos na fé e no discernimento.

Por fim, a passagem encerra-se com a máxima evangélica de que “os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”, revelando que o verdadeiro valor do trabalhador do Cristo não está na posição que ocupa na sociedade ou nas instituições, mas na autenticidade do seu compromisso com o bem. No momento atual do Movimento Espírita, essa lição é essencial para evitar a cristalização de hierarquias artificiais e para lembrar que a seara do Senhor acolhe com o mesmo carinho tanto os estudiosos experientes quanto os novos adeptos que chegam com o coração sincero. A grande obra da regeneração não se faz apenas com conhecimento, mas com amor, trabalho perseverante e espírito de serviço genuíno. Foi por pensar assim que, com supedâneo na citada mensagem, escrevemos o seguinte poema:

 

OS OBREIROS DO SENHOR

 

Obreiros de Jesus, o tempo é já chegado,

No qual se cumprirão as vozes do Senhor.

Ditosos os irmãos que houverem trabalhado

No campo do Evangelho, ungidos pelo Amor.

 

Ditosos os que hão dito a seus irmãos de luta:

– “Unamos nossas mãos, obremos só no Bem”.

Seus dias de trabalho, as horas de labuta

E as mais simples ações serão pagos por cem.

 

Quando o Senhor chegar e a Obra terminada

Lhe for apresentada, Ele dirá então:

– “Ó servidores bons, que a voz silenciada

Trazeis nas dissensões, vinde ao Meu coração”.

 

Ai dos irmãos, porém, que houverem retardado

A hora da colheita, em prol da divisão.

Serão levados, sim, seu grupo arrebatado

Na tempestade hostil, no horror do turbilhão!

 

Por graça clamarão. Responde a Divindade:

– “Como implorais por graça, ó vós, usurpadores,

Que nunca vossas mãos pousastes com piedade

Nos fracos e jamais pensastes suas dores?”

 

 “Tivestes deste mundo os gozos passageiros

E a retribuição que o vosso orgulho encerra;

A recompensa eterna é para os tarefeiros

Que não tenham buscado os galardões da Terra”.

 

Procede já o Senhor ao censo, no presente,

Dos seus servos fiéis, tão pródigos de dons,

E assinalou os maus, de ação só aparente,

Que nunca usurparão o salário dos bons.

 

Aos que seguirem sempre a fé que se desdobra

Na ação certa, o Senhor, sagrando esse idealismo,

Os postos confiará mais difíceis da obra

Da regeneração, à luz do Espiritismo.

 

Por isso, irmãos de amor da Pátria do Cruzeiro,

Jesus faz hoje Sol em vosso coração

E vos conclama à luta, em prol do mundo inteiro.

 

O prêmio à vossa alma é a plena redenção,

Que o Cristo vos desvela, em fúlgido roteiro:

– Trabalho, Caridade e Unificação.


Mário Frigéri é poeta, escritor, autor e youtuber com a mente e o coração voltados para o esplendor do Evangelho e da Doutrina Espírita. Ele reside em Campinas-SP.

 
  
    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita