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por Rogério Coelho

 

O sinal espírita da renovação interior


As recompensas celestes são para os que não as tenham buscado na Terra.


“Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más."
 - Allan Kardec[1]


Allan Kardec teve o cuidado de deixar bem clara a questão da "qualidade" do teor doutrinário que deve caracterizar o espírita verdadeiro ou o espírita cristão. Isso porque - bem o sabia o Mestre Lionês - a diversidade de caracteres das criaturas determinaria, também, uma gama imensamente variada de "tipos" de espíritas. Porém, sem desconsiderar esse amplo leque de "exemplares", Kardec classifica-os - genericamente - em quatro grupos, não necessariamente estanques, a saber
[2]:

- Espíritas experimentadores;

- Espíritas imperfeitos;

- Verdadeiros espíritas ou espíritas-cristãos; e

- Espíritas exaltados (estes últimos os mais danosos para a Doutrina).

Vemos assim que não basta a pessoa dizer-se espírita para efetivamente o ser de boa "cepa", visto que é necessário para a perfeita identificação do espírita legítimo, isto é, do espírita verdadeiro ou espírita-cristão, observar se o seu “modus-vivendi” está balizado pelos ensinamentos de Jesus e Kardec. O que caracteriza, afinal, os verdadeiros espíritas ou espíritas-cristãos?

Kardec assim os define1"aquele que pode ser - com razão - qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral.  O Espírito que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons.

Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e quase sempre o consegue, se tem firme a vontade”.

Kardec quis reforçar ainda mais essa questão para torná-la insofismável, por isso perguntou aos Espíritos Superiores[3]:

- "Se entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?"

Resposta: - "reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira Caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua Lei; os que seguem Sua Lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória."

O Espírito de Verdade alerta[4]"ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a Caridade!  Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado.  Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: "trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra", porquanto o Senhor lhes dirá:

Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio às vossas rivalidades e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano à obra! Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita; que buscaram suas recompensas nos gozos da Terra e na satisfação do orgulho, pois as recompensas celestes são para os que não as tenham buscado na Terra".

Aduz o Espírito Albino Teixeira[5]: "(...) fácil é verificar quando a pessoa entrou no Espiritismo: basta examinar um fichário ou escutar uma indicação. Difícil, porém, é positivar se o Espiritismo entrou na pessoa”.

Existem dez inequívocas expressões do sinal espírita na individualidade, respaldadas  em  manifestações evidentes,  ostensivas,  que  sempre se  fazem  representar  pelo advérbio "mais", nos domínios do bem: mais serviço espontâneo e desinteressado aos semelhantes; mais empenho no  estudo; mais  noção  de responsabilidade;  mais  zelo na obrigação; mais  respeito  pelos problemas dos outros; mais devotamento à verdade; mais cultivo de compaixão;  mais  equilíbrio  nas  atitudes;  mais  brandura   na conversa; mais exercício na paciência...

Ser espírita de nome, perante o mundo, decerto que já significa trazer legenda honrosa e encorajadora na personalidade, mas para que a criatura seja espírita à frente dos bons Espíritos, é necessário apresentar o sinal espírita da renovação interior, que, ante a Vida Maior, tem a importância que se confere na Terra às prerrogativas de um passaporte ou ao valor de uma certidão”.

 


[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XVII, item 4.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. III, item 28.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XX, item 4.

[4] - Idem, ibidem, cap. XX, item 5.

[5] - XAVIER, F. Cândido. Caminho espírita.  12. ed. Araras: IDE, 2010, cap.75.


 

 

     
     

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