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Nosso entrevistado, Vail Jorge de Toledo (foto),
nasceu em Paraguaçu Paulista (SP), onde também
reside. Funcionário aposentado do Banco do
Brasil, vincula-se ao Centro Espírita Paz, na
mesma cidade, como membro do Conselho
Doutrinário. Nesta entrevista ele nos fala sobre
atuação nas lides espíritas e o que pensa sobre
a atualidade do movimento espírita em nosso
país.
Como e quando se tornou espírita?
Em meados de 1977, em uma “visita” à casa de
meus pais, local a que ia diariamente,
encontrei-me com uma pessoa a quem tenho
profunda admiração até os dias atuais, que
conversou comigo sobre Espiritismo. Essa
conversa despertou em mim a oportunidade de um
novo “olhar” religioso, além do catolicismo,
muito presente na família. Assim começamos a nos
encontrar semanalmente para falarmos sobre essa
doutrina, totalmente desconhecida para mim.
Muitos questionamentos foram esclarecidos não só
nos diálogos como nos livros da Codificação;
assim abracei os estudos até os dias atuais.
O que mais admira no contexto do conhecimento
doutrinário espírita?
A realidade da vida expondo que a prática dos
conhecimentos que o Cristo nos deixou, se postos
em prática, nos levará ao verdadeiro progresso
espiritual. Que somos passado e presente, mas
com a certeza de que seremos remetidos a um
futuro permeados pelas nossas conquistas do
aprendizado e da prática dos ensinamentos em
prol do progresso e do bem em relação ao nosso
próximo.
De todas estas décadas de atuação espírita, o
que lhe vem à mente?
Que nenhuma ovelha do Pai será deixada para
trás. Que existem as portas largas e estreitas,
mas cada um, segundo seu livre-arbítrio, precisa
engajar-se nos ensinamentos e em sua prática.
Que precisamos a cada dia deixar de ser o “homem
velho” que vive de hipóteses, mas espelhando-se
em um futuro melhor e desenvolvendo sempre a fé
no Criador, a moral e a ética em nossa família e
na nossa comunidade. A esperança de um mundo
melhor e a certeza de que cada um de nós pode
contribuir para isso.
Faça uma pequena narrativa da instituição
espírita a que se vincula.
A casa espírita que frequento, Centro Espírita
Paz, tem reuniões semanais às 2ª feiras com
estudos dos livros da codificação e atualmente
com os de André Luiz; às 4ª feiras temos estudos
de algumas questões d’O Livro dos Espíritos,
do Evangelho e passes aos presentes, além da
disposição para conversação pessoal e particular
a quem procura esclarecimentos. Às 5ª feiras,
reuniões mediúnicas privativas e aos domingos
divulgação da doutrina com palestras públicas e
administração de passes.
Situe para o leitor a cidade onde reside, em
termos demográficos e também sobre as
instituições espíritas existentes na cidade.
Paraguaçu Paulista é uma cidade pequena com 40
mil habitantes aproximadamente. Sua localização
é bem estratégica, ligando-se facilmente com
Assis (SP), Marília (SP) e Presidente Prudente
(SP). Existem, atualmente, duas casas espíritas
kardecistas: o Centro Espírita Paz, fundado
em abril de 1975, localizado na Rua Princesa
Izabel, 349 – Centro, próximo do Tiro de Guerra; e
o Centro Espírita Guilherme Prado, mais
antigo, com 81 anos de fundação, localizado na
Rua Vereador Antonio Nascimento Neto 69 -
Centro, próximo da estação rodoviária.
Fale-nos sobre as dificuldades enfrentadas no
início pelos dois centros espíritas da cidade.
Como nas demais cidades, com posicionamentos de
líderes políticos ligados a outros conceitos
religiosos, ambos os centros tiveram, no período
de suas fundações, dificuldades de aceitação
pela sociedade. Mas a fibra, a vontade e a
certeza da necessidade de abrir novos
entendimentos rompeu-se o lacre das muitas
dificuldades e preconceitos antigos. Valentes
cidadãos firmes em seus propósitos conseguiram
manter essas tradicionais casas de oração
abertas no firme propósito de estudar e divulgar
a Doutrina Cristã sob um novo prisma, motivo de
orgulho e agradecimentos.
Qual a sua observação sobre o movimento
espírita nacional?
Nem tudo são flores!... O Espiritismo no Brasil
é uma prática religiosa e filosófica que tem uma
longa história e uma grande influência na
cultura nacional. O Brasil é um dos países com
maior número de adeptos no mundo, mas também
enfrenta desafios e controvérsias, e sofre,
ainda, um impacto significativo na sociedade
brasileira devido às diversidades religiosas.
Mesmo com esses enfrentamentos o movimento
espírita brasileiro expande-se cada vez mais,
graças ao seu comprometimento com a ciência, a
religião e a filosofia.
E o que pensa sobre a divulgação espírita na
atualidade?
A divulgação exerce um papel importante, haja
vista que: “a maior caridade que podemos fazer
pela Doutrina Espírita é a sua própria
divulgação”. A divulgação da Doutrina Espírita é
um processo contínuo que visa compartilhar seus
princípios e ensinamentos com o maior número
possível de pessoas, com planejamento,
criatividade, compromisso e consistência.
Garantindo que a informação seja precisa e
confiável, promovendo a compreensão, a
tolerância e a paz entre as pessoas – divulgar é
preciso...
Em sua opinião, os Centros Espíritas estão
preparados para as mudanças sociais em
andamento?
Esta é uma pergunta muito relevante! Os Centros
Espíritas têm como dever promover o
desenvolvimento espiritual e a melhoria da
sociedade, mas precisam estar preparados para as
mudanças sociais em andamento, adaptar-se às
diversidades culturais e religiosas e
envolver-se com a comunidade local. No entanto,
também é importante reconhecer que nos pontos de
melhoria, como a resistência a mudanças, a falta
de diversidade e a comunicação inadequada,
precisam os centros esforçar-se para serem mais
inclusivos e acolhedores para as pessoas de
todas as origens e crenças.
Alguma lembrança bem marcante de sua
vivência?
A morte de um ente querido é uma experiência
muito dolorosa e difícil de lidar. A Doutrina
Espírita oferece perspectivas e consolações que
ajudam a aliviar sofrimentos sentidos. Em 2019,
a separação física do meu filho, que na época
tinha 42 anos, despertou em mim os princípios
básicos de que o espírito é a essência da pessoa
e continua a existir e a evoluir em outras
dimensões, que o amor continua a existir e a ser
sentido, que a morte é apenas uma transição para
uma nova fase da vida. A doutrina nos permite
sentir a dor e o sofrimento, mas também nos
assegura apoio e consolo em suas crenças e
ensinamentos.
Suas palavras finais.
Desejo que esta entrevista possa ter sido útil e
inspiradora para todos os que a lerem. Que o
Espiritismo continue a ser uma fonte de luz,
amor e sabedoria para todos nós. Muito obrigado
pela oportunidade de compartilhar ideias e
reflexões sobre a Doutrina Espírita e sua
aplicação na vida cotidiana.

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