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por Juan Carlos Orozco

O autodespertar inadiável

Esta reflexão foi inspirada no livro Vida: desafios e soluções, do Espírito Joanna de Ângelis na psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Capítulo 8, em “Autodespertamento Inadiável”, que trata do despertar de cada ser humano proporcionado pelas sucessivas experiências vividas em pluralidade de existências, como uma ação de acordar de um sono, em que o acúmulo de bens eternos, mediante trabalho, esforço e serviço edificante, permite entrar em sintonia com a consciência cósmica.

O texto de Joanna de Ângelis foca o autodespertar, indicando que o ser humano, quando compreende que está dormido para a sua realidade, inicia um processo consciente de acordar, partindo do interior para o exterior. Isso porque as pessoas, normalmente, estão convencidas de que estão despertas e não dormentes para a essência da vida.


A fase inicial da vida espiritual

A fase inicial da vida espiritual do ser humano é do estado de sono da consciência de sua realidade e dos desafios para a conquista do si, dormindo nas sensações perturbadoras das paixões primitivas.

Na infância espiritual, o Espírito é movido pelo instinto de sobrevivência e não tem plena consciência de si e o livre-arbítrio e a liberdade de escolha são pouco desenvolvidos.

A liberdade de escolha, entre o bem e o mal, desenvolve-se à medida que o Espírito vai adquirindo inteligência, atributos morais e consciência da sua realidade.

O Espírito permanece por longo tempo nessa fase, mas prossegue com capacidade intuitiva, adquirindo novas experiências.


O anseio de melhorar e o despertar

Pela dinâmica evolutiva, o Espírito é movido pelo anseio de melhorar sempre na construção dos progressos moral e espiritual, porque todos os seres estão destinados à sintonia com a consciência cósmica, aguardando os fatores que propiciem o contínuo despertar, que liberta a consciência para realidades transcendentais da vida e auxilia abandonar as paralisias das faixas inferiores.

Somos um mundo interior, local de transformação, renovação e progresso, na batalha do bem contra o mal, com ritmo evolutivo próprio condizente com o estágio alcançado.

O anseio de melhorar é chamamento para reforma íntima que requer mergulho na realidade do mundo interior para identificar o que precisa trabalhar em face dos vícios dominantes, os recursos disponíveis pelas virtudes conquistadas e as possibilidades de libertação para conseguir o progresso moral e espiritual.

A maior dificuldade desse processo é abandonar hábitos viciosos e adotar novos comportamentos edificantes.


A necessidade de despertar

Depois de certo tempo, no ser dotado de alguma evolução intelectual, moral e espiritual, o despertar torna-se inadiável, consistindo na sua transformação, abandonando a dormência reinante das próprias realidades, na conquista de si mesmo para a lucidez de seus compromissos com a vida e o crescimento interior.


Meios para descobrir e conhecer a sua realidade

O autodescobrimento conduz ao interior desconhecido, penetrando-o, explorando-o e desvendando a sua personalidade que deve progredir.

O autoconhecimento permite identificar atitudes, comportamentos, virtudes, atributos, vícios e sentimentos, que podem abrir caminho para a conscientização dos deveres e das responsabilidades a desempenhar para uma vida edificante na prática do bem.


Consciência de si mesmo

A conscientização de si mesmo permite vivenciar, experimentar e compreender aspectos do seu interior e perceber o mundo em que vive, dentro da relação do “eu” com o ambiente em sociedade, para realizar avaliação crítica do que é moralmente certo ou errado.

Joanna de Ângelis, em seu texto, elenca alguns atributos comportamentais que devem ser desenvolvidos para o autodespertar, o que faremos a seguir.


Equilíbrio

Buscar o equilíbrio, harmonizando aspirações, anseios, ações, comportamentos e emoções pelo que se deve fazer ou não, sem conflito e ansiedade, e com paciência.

É a capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções de forma saudável, em um estado de bem-estar psicológico que permite lidar com os desafios da vida. 

Pelo equilíbrio, criam-se hábitos e comportamentos como resultado do enfrentamento de aspirações, lutas e desafios que estabeleceram condições para nova realidade e novo rumo na existência, superando condicionamentos perturbadores dos instintos imediatos.


A vontade de mudar

A vontade deve ser direcionada para sair da situação atual e buscar outra direção, em que a transformação desejada precisará ser consciente para gerar novos condicionamentos e estabelecer diferentes atitudes.


A paciência

A paciência faz compreender que todo trabalho começa, mas não pode terminar de imediato, porque conquistada uma etapa surge outra desafiadora. Por ela, afasta-se a pressa sem se afligir quando não se consegue concluir o trabalho.

No inconsciente, são criados condicionamentos a favor da faculdade de esperar, aquietando ansiedades perturbadoras e criando estado de equilíbrio emocional, mas exige treinamento, constância e fé na capacidade de realizar o trabalho.


A perseverança

A perseverança disciplina a vontade, porque apresenta pertinácia e insistência no que se pretende executar, sem interromper o curso programado.

É uma conquista da consciência desperta no esforço de perseverar nos objetivos elevados, que tira da paralisia intelectual e moral do mundo íntimo.

A perseverança possibilita focar o processo desenvolvido até o fim, sem desânimo.


A autoconfiança

A autoconfiança traz a certeza das possibilidades que podem ser aplicadas em favor dos anseios íntimos, fazendo desaparecer o medo e os mecanismos autopunitivos e autoafligentes, que são obstáculos ao progresso e à evolução do ser.

Ela faz a vontade ser comandada por uma mente saudável, que discerne entre o que deve e pode fazer, quais são os objetivos existenciais e como amadurecer emocionalmente para enfrentar as vicissitudes e as dificuldades para o crescimento interior.

Com autoconfiança, não se deseja triunfar sobre os outros, conquistar o mundo, tornar-se famoso, conduzir as massas, ser adorado, porque sua luta é para conquistar-se e realizar-se interiormente, de cujo esforço virão outras posses.


Tolerância, respeito e perdão

A tolerância faz aceitar as diferenças e as individualidades das pessoas, afastando os preconceitos e a segregação, reconhecendo o valor e os sentimentos delas.

O respeito conduz a tratar as pessoas com consideração, atenção e deferência, sendo fundamental para a convivência em sociedade. 

O perdão liberta a alma dos ressentimentos que criam algemas de ódio, vingança e perseguição, que aprisionam os seres até a pacificação.

Os frutos do perdão são: restauração do amor, reconciliação, libertação do passado, paz na alma, amadurecimento espiritual e mansidão.

Tolerância, respeito e perdão conduzem para ações fraternas com laços de paz.


Os benefícios do despertar consciente

Quando se está desperto consciente de si mesmo, os infortúnios, as dores, as aflições e os sofrimentos da vida são lições educativas para o Espírito adquirir os tesouros celestiais e superar as faixas psíquicas inferiores em que se encontra.

Os conflitos que surjam não mais constituem razão de desequilíbrio ou perturbação, mas sim oportunidade de ampliar a capacidade de entender, solucionar e crescer, porque seu futuro é a conquista de si mesmo.

A seguir, veremos as parábolas do semeador e do filho pródigo que trazem algumas lições de despertar para as nossas vidas.


Parábola do semeador

A parábola do semeador ensina sobre o despertar do ser humano quando recebe as sementes do amor divino lançadas pelo Cristo em solo fértil, que conduz a germinar e desenvolver a boa árvore e, no futuro, produzir bons frutos, tornando-se instrumento nas mãos de Deus.

Os quatro campos de semeadura simbolizam os diferentes tipos de mentalidades até chegar ao amadurecimento moral e espiritual.

O recebimento da semente é convite para despertar mediante uma reforma íntima pela renovação e regeneração na experiência terrena.


Parábola do filho pródigo

Pela parábola, compreende-se que provações e vicissitudes da vida contribuem para despertar o Espírito da realidade em que se encontra.

O filho pródigo quis viver prazeres da vida material, solicitando ao pai a sua parte da herança, o que foi atendido e, depois, partiu.

Longe do pai, conheceu a realidade, enfrentando desilusões e sofrimentos, que lhe forneceram lições retificadoras.

Arrependido, consciente do seu estado, retornou à casa do pai na busca de bens mais elevados, conduzindo-o à transformação em sua caminhada.


Começo de novo ciclo de evolução

Pela conquista de si mesmo mediante aquisições de atributos e valores em pluralidade de existências, o Espírito imortal começa a se descobrir, conhecer e ter consciência dos desafios a serem superados para avançar em seu processo iluminativo que conduz para as ações fraternais universais.

A busca dessa realidade é direcionada para o mundo interior, no qual mergulha para superar as paixões perturbadoras e sensações primitivas.

O novo ciclo de evolução começa pelas conquistas edificantes e pelo abandono dos sentimentos inferiores, rumando pelo caminho da verdade e da vida em direção ao Pai, tendo Jesus como modelo e guia em sua vida.


Bibliografia:

AUTORES DIVERSOS. Parábolas de Jesus à Luz da Doutrina Espírita. 2ª Edição. Juiz de Fora/MG: Fergus Editora, 2019.

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida: desafios e soluções.  14ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2020.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita