Médiuns e divulgadores espíritas
midiáticos
Um fenômeno dos novos tempos de mídias digitais de
comunicação está acontecendo em relação à divulgação do
Espiritismo: o surgimento de médiuns e divulgadores que
utilizam as redes sociais com a publicação de vídeos
que, em tese, são feitos para o esclarecimento sobre a
Doutrina Espírita, mas que uma análise mais criteriosa e
isenta mostra que, na verdade, servem para enaltecer a
pessoa do médium e/ou divulgador, e para transmitir
ideias pessoais, suposições ditas doutrinárias, além de
críticas, veladas ou ostensivas, à doutrina e também ao
movimento espírita, que nem sempre correspondem à
verdade. Muitos se deixam levar pelo orgulho e pela
vaidade, realizando um desserviço à causa que proclamam
servir, gerando confusões e espalhando ideias errôneas,
equivocadas, sobre o Espiritismo e sua aplicação na
vida.
A internet e as redes sociais são muito bem-vindas,
atestando o progresso da ciência e servindo para termos
na humanidade comunicação e interação mais imediata,
lembrando que essa tecnologia é, em si mesma, neutra,
pois depende do que fazemos com ela, ou seja, depende do
que programamos, publicamos e compartilhamos; assim,
podemos utilizá-la para fomentar o bem ou o mal,
conforme o livre arbítrio que todos detemos, motivo pelo
qual lembramos que isso também é levado em conta pela
lei divina quanto aos nossos méritos e deméritos na
caminhada evolutiva. Como somos livres para estudar,
pensar e divulgar o Espiritismo, é natural tenhamos
posicionamentos às vezes contraditórios, em que as
ideias nem sempre convirjam para o mesmo ponto, pois a
faculdade de pensar com liberdade deve sempre ser
defendida, e isso também acontece entre os espíritas, ou
assim se considerem.
A questão que abordamos, e que consideramos de grave
importância, é o uso indevido do Espiritismo nas redes
sociais como trampolim para o sucesso pessoal, com
flagrantes deturpações doutrinárias. Vamos a dois
exemplos de nosso conhecimento, pois nada melhor que os
exemplos práticos para bem ilustrar o que estamos
abordando neste texto. Preservaremos os nomes, pois não
é nossa intenção fazer crítica contra a pessoa ou
instituição envolvida, e sim fazer considerações de
ordem doutrinária para reflexão dos interessados.
Iniciemos com considerações sobre a postura de um
médium, que alardeia pelas redes sociais suas faculdades
mediúnicas, dando a entender que recebe comunicações dos
Espíritos quando bem entende, como se os desencarnados
estivessem ao seu dispor e às suas ordens, o que sabemos
não ser verdade, pois os Espíritos têm mais o que fazer
e não se sujeitam aos nossos caprichos e ordenações.
Ainda diz receber comunicações de Espíritos de elevada
ordem, as quais não passam pelos crivos da lógica, do
bom senso, da razão e da universalidade do ensino dos
Espíritos. Agravando a situação, faz estardalhaço sobre
ter sido investigado cientificamente, o que teria
comprovado sua autenticidade mediúnica, mas sem nunca
dizer que investigações são essas, o que gera
desconfiança sobre essa afirmação. Divulga pelas redes
sociais suas viagens para apresentações de suas
faculdades mediúnicas, em verdadeiros espetáculos
públicos, onde faz a venda de livros por ele
psicografados, entre outros materiais, sem jamais
declinar para onde vai o dinheiro, supostamente para
manutenção de instituição beneficente, a qual nunca é
confirmada. Muitas pessoas, sem o devido conhecimento do
Espiritismo, o idolatram, recebendo dele informações
confusas, contraditórias e envolvidas numa aura mística,
ou seja, tudo o que não tem a ver com o Espiritismo.
Vamos agora a outro exemplo, desta vez sobre um
palestrante que adora tecer críticas às obras de Allan
Kardec e ao movimento espírita, muitas vezes confundindo
uma coisa com outra. De verbo claro e rápido, emenda
conceitos uns após outros, em vídeos bem produzidos,
fazendo caras e bocas, utilizando gesticulação teatral,
não dando tempo para as pessoas pensarem, num aparente
uso do raciocínio lógico, quando na verdade distorce
informações e conceitos. Essa pessoa adora fazer
afirmações sem nenhuma comprovação, nunca citando
cientistas, pesquisadores, obras por eles publicadas,
absolutamente nada, como, por exemplo, afirmar que a
ciência já comprovou que a Bíblia é uma história
inventada, Essa afirmação, dita com foros de verdade, é
facilmente desmentida com a realização de uma pesquisa
séria, pois se existem contradições e opiniões
diversificadas entre os pesquisadores, não existe
unanimidade, nem provas cabais, de que a Bíblia é um
engodo, uma invenção. É, portanto, uma afirmação
temerária e não apoiada pelo Espiritismo. Aproveitando
ter muitos seguidores, está à frente de um instituto por
ele mesmo criado, cujas realizações em nome da Doutrina
Espírita deixam muitas dúvidas, e ninguém sabe ao certo
como esse palestrante sustenta sua vida, gerando com
isso muitas indagações sem resposta.
Esses médiuns e divulgadores chamamos de midiáticos, ou
seja, sabem utilizar as redes sociais, as mídias de
comunicação, para se autopromoverem, para se
enaltecerem, mas fazem isso com a capa de defensores do
Espiritismo. Com o tempo, muitos deles acabam sendo
desmascarados ou vão sendo esquecidos e substituídos por
outros, mas enquanto estão em ação, fazem considerável
estrago, pois misturam ideias pessoais, achismos e
suposições com a Doutrina Espírita, espalhando
desinformação e fazendo muita confusão entre as pessoas
que não têm um estudo mínimo sobre o Espiritismo.
Temos que nos precaver dessas pessoas midiáticas, nunca
abrindo mão do raciocínio, do bom senso e do estudo
sério e perseverante do Espiritismo, para sabermos
separar o joio do trigo, não nos deixando levar por
espetáculos e discursos que disfarçam o amor próprio, o
orgulho e a vaidade.
Sejamos divulgadores sérios, compenetrados da
responsabilidade em esclarecer e consolar através da
imortalidade da alma e da reencarnação, sempre com toda
humildade, pois todos passaremos, mas a verdade que o
Espiritismo traz, essa ficará para sempre no seio da
humanidade.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita;
produz e apresenta programas espíritas na internet;
possui 39 livros publicados.
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