Quando Kardec
ora ao Cristo
A prece
proferida por
Allan Kardec no
livro Obras
póstumas não
brotou apenas de
sua inteligência
esclarecida, mas
da seiva viva de
sua alma
consagrada ao
Bem. Quando, já
na madureza dos
dias e no
alvorecer da
posteridade, ele
ergueu seu
pensamento ao
Cristo em
gratidão, já
havia
experimentado os
rigores da
dúvida, o peso
das
incompreensões e
o frio das
noites em que
somente a fé lhe
servia de
abrigo. Não foi
um simples
pensador que
orou, mas um
servo fiel que
atravessara os
desertos do
mundo com os
olhos voltados
para as estrelas
do firmamento.
Naquela hora
serena e grave,
em que sua
missão o
encaminhava para
um mundo novo e
o coração já
podia pressentir
a alegria de
quem estava
perfeitamente
aparelhado para
cumpriu o dever,
Kardec
contemplava o
passado recente
com os olhos
úmidos da alma.
Via, talvez, a
juventude
dedicada ao
ensino, os anos
de pesquisa
minuciosa com os
Espíritos, as
portas fechadas
que se
transformaram em
janelas abertas,
e a dor que se
fez mestra. Não
se tratava de um
êxito terreno a
ser celebrado,
mas da vitória
silenciosa de um
espírito que não
recuou diante da
imensidão da
tarefa que lhe
fora confiada.
O Espiritismo,
já então
plantado com
raízes
profundas,
florescia como
árvore de luz,
cujos ramos
abrigariam
gerações futuras
sedentas de
consolo e
verdade. Mas
para que isso
fosse possível,
houve um homem
que ouviu o
chamado e disse
sim. A grandeza
de Kardec não
está apenas na
obra monumental
que organizou,
mas sobretudo na
entrega
incondicional de
si mesmo, com
disciplina,
humildade e
firmeza, ao
serviço do
Cristo. Sua
prece é, pois,
um testamento
espiritual; uma
página em que se
desenha, em
suaves
contornos, o
perfil de um
apóstolo da
renovação
humana.
Diante de Jesus
– esse Mestre
silente que
acompanha os que
amam – Kardec
curva o
pensamento e
depõe seu
coração. Não
como quem se
despede, mas
como quem
devolve ao
Senhor, em forma
de frutos, as
sementes que
dele recebeu. E
o faz com
palavras
singelas,
despojadas de
pompa, mas ricas
de uma devoção
que não mendiga
recompensas. Era
a oração de um
espírito que
tinha pouco a
pedir e muito a
agradecer,
porque já se
sentia
plenamente
contemplado pela
Graça de haver
recebido uma
dádiva
inexcedível e de
estar cumprindo
a vontade
divina. Tocado
pela
luminosidade e
ternura contidas
nessa prece,
elaboramos o
seguinte poema:
A PRECE DE
KARDEC
Senhor de
infinda bondade!
Que sobre mim
teu olhar
Te dignaste
pousar...
Faça-se a tua
vontade!
Malgrado a
insuficiência
De minhas
forças, Senhor,
Deposito em teu
amor
A minha humilde
existência.
Talvez as forças
me faltem...
Mas minha boa
vontade
Não fraquejará e
há de
Congregar os que
te exaltem!
Nas graves lides
diárias
Peço-te as
forças reais
– As físicas e
as morais –
Que me forem
necessárias!
Bem sei que a
tarefa é
imensa!...
Mas tendo a tua
presença
E a de teus
anjos celinos,
Tudo envidarei,
Senhor,
Para cumprir com
rigor
Os teus
desígnios
divinos!
*
Mário Frigéri é
poeta, escritor,
autor e youtuber
com a mente e o
coração voltados
para o esplendor
do Evangelho e
da Doutrina
Espírita.
Campinas/SP.