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Formada em Desenho Industrial e voluntária do
Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru (SP),
cidade onde reside, a médium Mônica Bueno de
Araújo Dabus (foto) é natural de
Araraquara, no mesmo estado. Vinculada à citada
instituição, da qual é a atual Diretora de
Doutrina, entrevistamo-la sobre sua experiência
como médium psicógrafa com oito obras publicadas
pela editora CEAC.
Como conheceu o Espiritismo?
Meu primeiro contato com o Espiritismo se deu
através de livros, uma vez que meu esposo,
André, foi criado em um ambiente espírita desde
pequeno, enquanto a minha família era católica.
As minhas experiências pessoais com a
mediunidade eram naturais e se intensificaram no
ano 2000, somente após o nascimento do meu
terceiro filho. Nessa época, havíamos deixado SP
e passamos a residir em Bauru. Ao chegar ao
CEAC, fui acolhida por Richard Simonetti, que me
apresentou ao COEM (Curso de Orientação Espírita
e Mediúnica), e depois ao Carlos Luz, no Curso
de Espiritismo e Ciência. Os dois foram os
pilares da minha iniciação e de minha construção
literária. Eu fui muito bem acolhida na
instituição, por inúmeros mestres e amigos, com
uma convivência fraterna na qual tudo se tornou
mais fácil. À medida que fui assimilando o
conhecimento doutrinário, comecei a me envolver
em atividades práticas na casa espírita.
E como sentiu o desabrochar da mediunidade?
Desde a minha infância, eu me comunicava com
espíritos desencarnados; via-os e conversava com
eles, ou seja, era médium, mesmo sem compreender
completamente essa habilidade. Imagens em
contemplações adequadas se revelavam para mim de
forma natural, como se fossem sonhos vívidos.
Entre visões e desdobramentos, surgiam
personagens em movimento, detalhando cômodos de
uma casa, cenas vividas em lugares que pareciam
familiares. Desde muito cedo, eu tinha
experiências que me levavam a visualizar uma
cidade, uma residência, e a disposição dos
ambientes, como se eu realmente ali morasse.
Cenas de uma carruagem, um hospital, um piano,
uma senzala, e um salão de baile emergiam de
minha memória, gravadas de modo indelével, como
se frações de tempos vividos permanecessem
ativas, repletas de detalhes, sensações e
emoções. Essas percepções surgiam
involuntariamente, muitas vezes sem meu
controle. Entretanto, sempre sentia a presença
reconfortante da benfeitora espiritual Liz
(Elizabeth) e do padre Germano, que
posteriormente passou a se apresentar como
Manuel, benfeitor do CEAC. Ambos se aproximavam
de mim, transmitindo uma intensa carga
vibratória de amor e sinceridade. Sei que a
minha história com eles é antiga, e sou muito
grata pelo amparo e a oportunidade de
aprendizados que eles me proporcionam.
E quanto à psicografia?
Em 25 de dezembro de 2003, fui arrebatada do
corpo material e recebi uma instrução do
espírito Liz, para que eu me dispusesse à
escrita. O tempo correu. Após quase 10 anos de
exercícios de um contato espiritual praticamente
diário com a Liz e outros benfeitores
espirituais, estreitando laços, ajustando a
sintonia, sentindo-me já mais segura com as
instruções e os esclarecimentos no campo
doutrinário, aceitei o convite da Liz para
psicografar seis obras. E, paralelamente,
continuei exercitando a faculdade de intercâmbio
em grupos mediúnicos. Adotado o método de
trabalho traçado pela Espiritualidade, Liz
orientou que as histórias seriam recebidas de
forma cronologicamente desordenada. Por meio do
fenômeno de desdobramento, os Benfeitores
Espirituais ressaltaram que eu vivi nas épocas e
nos locais em que as obras seriam narradas, por
meio das reencarnações, pois do contrário,
naquele momento, dificilmente seria possível
encontrar em meus arquivos mentais elementos que
possibilitassem essa realização. Em 2013 foi
publicada a primeira obra.
Como é a percepção do fenômeno em si durante as
psicografias?
Ao receber os livros, as vibrações do pensamento
da Liz repercutiam poderosamente, surgiam telas
fluídicas através das descrições, ou seja,
mensagens vistas e não somente escritas.
Apareciam quadros belíssimos, cenas em cores
vivas, distintas e de beleza, por vezes,
intraduzível, antes mesmo da recepção através de
um tipo de transe provocado por ela e por outros
Benfeitores Espirituais, durante o preparo da
narração da história e a minha adaptação a ela.
Contavam, demonstravam em cenas e as narravam.
Na maioria das vezes, os quadros fluídicos
ocorriam antes; de outras, somente no momento da
psicografia. Ao transcrever a história, por
vezes, eu já a conhecia, porque a vi narrada
antes, o que muito facilitou a recepção escrita,
pois eu recordava as cenas nitidamente. Em
especial, nessas experiências, que me dizem
respeito, distendiam-se diversas formas: visão
antes e no momento da recepção; audição;
psicografia desacompanhada da visão e audição;
testemunhos vindos por outros médiuns (três
fontes), cujas informações foram centralizadas
no Richard e no desdobramento. A cada história
fornecida pela Espiritualidade, alteravam-se a
variação, as luzes, evoluindo de cores mais
suaves às mais fortes, e a diversidade de sons.
Conforme a Liz passava a contar a história, eu
não mais a via; vinham, então as cenas se
desenrolando. As experiências acimas, se repetem
ainda, pois acredito que são aspectos
característicos de minha mediunidade, mas creio
que hoje dou um pouco menos de trabalho para a
espiritualidade.
Quantos livros já foram publicados? São todos no
formato de romance?
São oito livros, todos publicados pela Editora
CEAC, de Bauru. Os seis primeiros romances
formam uma série, embora tenham sido trazidos
por Liz de maneira desordenada; atualmente,
podemos observar que, cronologicamente, essas
histórias se interligam entre si. A sétima obra,
de minha autoria, inspirada e orientada por Liz,
detalha a trajetória que tenho percorrido para
educar e aperfeiçoar minha faculdade mediúnica.
Nesse livro, “Fragmentos de minha mediunidade”,
busco expor as dificuldades impostas pela
sensibilidade mediúnica e sugerir caminhos que
podemos seguir para superá-las. No oitavo livro,
Liz esteve acompanhada de outros dois
benfeitores espirituais, indicando que o
processo havia mudado e que estávamos entrando
em uma nova fase. Um dos aspectos que diferencia
esta obra das anteriores é que, enquanto nos
seis primeiros romances, alguns benfeitores
conhecidos estavam na espiritualidade,
auxiliando seus tutelados nas tarefas terrenas,
neste último livro, "O Sol da Verdade", o "leque
se abriu". Alguns mentores do CEAC, que
anteriormente guiavam seus tutelados,
tornaram-se personagens da história e estavam
reencarnados na época em que os eventos se
desenrolaram, oferecendo suporte à elevada
tarefa de Jan Hus, fiel servidor de Jesus.
E o recente lançamento? Relate uma síntese sobre
ele.
"O
Sol da Verdade" é um romance psicografado que
narra a vida e ensinamentos de Jan Hus no início
do século XV na Boêmia, atual República Tcheca.
A trama acompanha um grupo de personagens que
reencarnam para apoiar Hus em sua missão de
despertar consciências e corações para o
Evangelho em um contexto de conflitos religiosos
e sociais. A história destaca a importância da
busca pela verdade, mesclando suspense com
reflexões sobre espiritualidade e história.
Helena, uma jovem de origem humilde com a
habilidade de ouvir e ver espíritos, é parte de
um grupo de discípulos que trabalha com antigos
manuscritos conhecidos como "O Sol da Verdade",
contendo verdades consideradas proibidas.
Enquanto Hus é visto como um reformador por
alguns e um herético por outros, seu impacto e
as verdades que compartilha atraem forças
poderosas. A narrativa se desenrola em Praga,
uma cidade repleta de mistério, mostrando que a
verdade, assim como o sol, não pode ser ocultada
para sempre. O romance explora a luta entre
conhecimento e poder, repleto de intrigas e
profundas reflexões espirituais.
Dos livros, qual a marcou mais? Por quê?
O livro que mais me marcou foi Grécia – um
romance no tempo dos deuses, pois foi o meu
primeiro contato com a literatura nesse
contexto. Quando Richard Simonetti me incentivou
a publicar a obra, eu nunca imaginei que ela
realmente fosse sair do papel. Essa experiência
foi transformadora e deixou uma marca indelével
em minha vida.
Fale algo sobre o "Janelas do Infinito".
Em dezembro de 2018, Liz concluiu o livro Janelas
do infinito – um romance no Brasil imperial.
Em janeiro de 2019, eu entreguei a obra à
Editora CEAC. É uma emocionante história e se
desdobra no Rio de Janeiro, a partir de 1837, em
ambas as dimensões. Em determinado momento, no
século XIX, o núcleo familiar que vinha
evoluindo desde a época do Egito antigo, já
desencarnado na espiritualidade, é convidado,
cada membro por sua vez e na sua função, a
colaborar com a criação e o desenvolvimento do
alicerce de uma organização espiritual, cuja
obra, posteriormente, seria fundada na dimensão
física. Alguns espíritos foram convidados a
reencarnar naquele grupo a que estavam
vinculados havia milênios, caminhando sempre
progressivamente, em busca de valores
intangíveis para a alma. Reprograma-se, então,
nova encarnação. Por meio dos pensamentos,
sentimentos e das vontades, alicerçava-se
naquele momento na Espiritualidade a edificação
espiritual de uma casa de assistência ao próximo
nomeada pela vasta família espiritual de “Amor e
Caridade” – verdadeira plataforma de trabalho em
ambas as dimensões –, com vistas a ser fundada,
futuramente, no coração do Estado de São Paulo.
Pouco tempo depois, em 1919, o Centro Espírita
Amor e Caridade foi fundado na cidade de Bauru,
interior do Estado de São Paulo, cujas bases
estavam fincadas na construção da
Espiritualidade, onde nascem as legítimas
realizações para o engrandecimento moral das
criaturas.
O que a emociona mais em tudo isso?
Nessa obra psicografada, foram mencionados
diversos colaboradores espirituais deste amplo
projeto: Jacó, Brandão e Menezes, Oswaldo Cruz,
padre Júlio Maria, pastor Bizarro, Elizabeth
(Liz), Maria, Mercedes, Manuel, Jovina, Frei
Luiz, Rosemberg, Germano e outros. Ao concluir o
livro, enviei os nomes à diretoria, sendo a
maioria deles desconhecidos pelos diretores,
exceto os mentores espirituais Jacó e Maria. Em
setembro de 2019, Uriel de Almeida, o
coordenador da editora à época e atual
presidente do CEAC, teve a oportunidade de ler a
obra. Ele liderava um grupo que estava montando
um acervo histórico do CEAC, pois naquele ano o
CEAC faria 100 anos. Nesse tempo, durante suas
atividades, após reformas em um antigo depósito
que estava inacessível, encontraram atas muito
antigas, com materiais empoeirados e
deteriorados ao longo de décadas, onde também
havia materiais de construção. No passado, as
manifestações mediúnicas eram registradas em
atas. Com o passar dos meses, o grupo, sob a
coordenação de Uriel, conseguiu compilar um
valioso acervo de mensagens registradas nessas
atas, revelando uma diretoria espiritual
constante no CEAC, liderada por Jacó, e com a
presença de várias entidades, incluindo nomes
pouco comuns. Surpreendentemente, ao analisar a
obra mediúnica já impressa, Uriel constatou que
os nomes citados na psicografia estavam também
presentes nas atas da diretoria que até então
eram desconhecidas. A única exceção foi o nome
de Germano, que posteriormente se apresentou a
mim como Manuel, mas que até hoje continuo a
chamá-lo de padre Germano, pois assim eu o
conheci. O que mais me emociona é perceber que,
apesar de todo o trabalho que damos a
espiritualidade, eles continuam a nos apoiar com
amor e incondicionalmente, em nossa missão
redentora ao longo da caminhada evolutiva.
Algo mais a acrescentar?
Espero que os livros cumpram sua missão de
despertar consciências e tocar corações através
dos ensinamentos do Evangelho, promovendo um
impacto significativo e positivo na vida dos
leitores. Que eles inspirem reflexões, provoquem
mudanças e tragam conforto e esperança a todos
que os lerem.
Suas palavras finais.
Finalizo com uma profunda gratidão à
Espiritualidade Maior, aos colaboradores e
apoiadores das obras, à diretoria encarnada e
desencarnada do CEAC e, especialmente, aos
leitores. Agradeço a cada um de vocês por
fazerem parte desta jornada.

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