Especial

por Juan Carlos Orozco

Unidade pelo lema: “fora da caridade não há salvação”

 

Em certas interações espíritas a respeito de conceitos, princípios, fenômenos, interpretações e comportamentos, não raro, há posicionamentos conflitantes, os quais ficam dentro de uma normalidade em se tratando de estudos, entendimentos doutrinários e opiniões pessoais.

Natural a falta de consenso, porquanto algumas dúvidas são decorrentes da própria dinâmica das revelações espíritas, que se vão completando diante de fatos e fenômenos, cujas verdades ainda não podem ser provadas, mas que serão esclarecidas conforme a evolução intelectual, moral e espiritual, que impulsionará a capacidade de assimilação de novos conhecimentos que suportarão o progresso a caminho da perfeição.

Outros pontos conflitantes envolvem questões de circunstâncias do momento em que se vive nas experiências terrenas, as quais são eivadas de polêmicas diante das diferentes visões de mundo, porquanto cada um tem a sua percepção em relação a determinado fato, cujo entendimento é carregado dessas visões.

Das desavenças, o preocupante não é o conflito de entendimentos e visões, mas a decorrente cisão e o afloramento de sentimentos, atitudes e comportamentos contrários aos princípios morais e éticos espíritas, agindo conforme argumentos transitórios de concepções puramente humanas. Conflitos morais e éticos são sinais de que algo não vai bem.

Os espíritas, diante de compreensões conflituosas, precisam identificar o que é essencial, deixando de se contaminar por sentimentos que distorcem a fé raciocinada.

Nas desavenças segregadoras, perde-se o foco do Espiritismo como “O Consolador Prometido”, representado pela Codificação Espírita, de Allan Kardec, que foi presidida pelo Espírito de Verdade com o auxílio de Espíritos Superiores, desvendando as coisas espirituais que o homem não pode descobrir por si mesmo.

Importante recordar que a Codificação Espírita é uma construção coletiva, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um trazendo o contributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.

A Doutrina Espírita não foi ditada completa, nem imposta à crença cega, porque é deduzida pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos põem sob os nossos olhos e as instruções que nos dão. As revelações são incessantes, complementares e acumulativas de conhecimentos, sendo transmitidas por diversos meios e médiuns.

Jesus revelou a verdade divina pela palavra, que liberta os que creem e praticam os seus ensinamentos e exemplos como roteiros de vida.

A verdade de Deus é absoluta, única, eterna e imutável.

Para o ser humano, o conhecimento da verdade divina é proporcional à sua evolução moral, intelectual e espiritual, sendo que as revelações espíritas sempre ocorrerão quando pudermos assimilar e suportar seus conteúdos. Portanto, o conhecimento da verdade divina tem relação com o estágio evolutivo e a capacidade de compreendê-la.

A despeito da condição evolutiva de cada um, são inadequados os debates que desviem os trabalhadores espíritas do serviço a ser realizado junto aos seus semelhantes.

A esse respeito, vieram-me à mente as palavras de Francisco Cândido Xavier: “Se Allan Kardec tivesse escrito que fora do Espiritismo não há salvação, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus, ele escreveu fora da caridade, ou seja, fora do Amor, não há salvação.

O Espiritismo foca a prática da caridade como o principal meio de salvar a alma e promover o progresso moral e espiritual do ser humano.

O Espírito Emmanuel, no livro Pão Nosso, psicografado por Francisco Cândido Xavier, alerta na mensagem “No serviço cristão” para questões essenciais, em que determinados trabalhadores, aprendizes ou grupos espíritas concentram seus esforços em outros assuntos ou fenômenos que não conduzem para a transformação moral do ser humano.

Emmanuel ensina:

 

“Não falta quem veja no Espiritismo mero campo de experimentação fenomênica, sem qualquer significação de ordem moral para as criaturas.

Muitos aprendizes da consoladora Doutrina, desse modo, limitam-se às investigações de laboratório ou a discussões filosóficas. (...)

Não vale pesquisar recursos que não nos dignifiquem. (...)

Não adianta guardar a certeza na sobrevivência da alma, além da morte, sem o preparo terrestre na direção da vida espiritual. E nesse esforço de habilitação, não dispomos de outro guia mais sábio e mais amoroso que o Cristo.

Somente à luz de suas lições sublimes é possível reajustar o caminho, renovar a mente e purificar o coração. (...)

O problema não é apenas de saber. É o de reformar-se cada um para a extensão do bem.

Afeiçoemo-nos, pois, ao Evangelho sentido e vivido, compreendendo o imperativo de nossa iluminação interior, porque (...) ‘todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, a fim de recebermos, de acordo com o que realizamos, estando no corpo, o bem ou o mal’.”

 

Emmanuel chama atenção para os debates secundários que não conduzem para a transformação moral das pessoas.

As consequências dos esclarecimentos espíritas devem estimular a reforma íntima e a prática do bem para a construção do reino de Deus dentro de nós mesmos. Por isso, imprescindível caminhar com Jesus pelas verdades divinas que libertam a alma.

A Doutrina Espírita mostra o caminho a ser seguido em um longo processo evolutivo com base na pluralidade de existências, e a mensagem cristã de merecimento segundo nossas obras estimula o trabalho e o esforço individual como mola propulsora da construção do saber e da moralização.

O espírita deve dar exemplo, confiabilidade e autoridade àquilo que prega e difunde. A retidão de comportamento, atitude e procedimento no caminho do bem e da caridade terá efeito aglutinador pelo exemplo de fé, esperança e confiança em Deus e no Mestre Jesus.

Não se pode perder o foco do lema espírita: “fora da caridade não há salvação!”

Paulo de Tarso, na 1ª Epístola aos Coríntios (13:1 a 7 e 13), coloca a caridade acima até da fé, que está ao alcance de todos, independentemente de suas crenças:

 

“Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é injubilosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade.”

 

O Espírito Joanna de Ângelis, no livro Mundo regenerado, psicografado por Divaldo Pereira Franco, no capítulo 17, em “Caridade do amor”, ensina:

 

“Jesus viveu a caridade total no silêncio, na renúncia, nas mãos sempre distendidas para ajudar, na entrega da Sua pela nossa existência.

Nunca te afastes da caridade de Jesus, da caridade do amor.

Tenta fazer a tua parte, seguindo-Lhe o exemplo de abnegação e devotamento. (...)

Asserena-se, pois, e exercita a caridade silenciosa do amor.” 

 

O atual momento de transição planetária exige perseverança e vigilância por parte dos trabalhadores espíritas para não se desviarem do caminho da prática do amor na forma da caridade, principalmente acerca de questões polêmicas circunstanciais de relevância temporária, própria de seres humanos imperfeitos em processo evolutivo.

O Evangelho de Jesus é o Código Moral dos cristãos, que se fundamenta na lei de Deus, na lei maior do amor, e a moral que a Doutrina Espírita ensina é a de Jesus Cristo.

Para sermos considerados discípulos de Jesus é necessário o desenvolvimento de valores morais cristãos. Por conseguinte, devemos buscar o que é essencial.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, no Capítulo XVII, “Sede perfeitos”, em “Os bons espíritas”, temos:

 

“O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam. (...) Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”

 

Por esses motivos, ao invés de cultuar cisões decorrentes de questões secundárias, o importante será unir esforços no trabalho edificante na prática do bem, com fundamento no Evangelho Redivivo de Jesus e nos princípios de O Consolador Prometido.

Para tanto, será preciso cultuar a vigilância de atitudes e comportamentos para não se desviar do caminho da luz.

A força do Espiritismo não está na individualidade, em certo grupo ou na entidade. Ela está na própria Codificação Espírita e nas consequências morais e éticas que ela estimula e desenvolve.

Divergência de opinião e interpretações sempre haverá, mas que sejamos unidos pelo lema “fora da caridade não há salvação”, como instrumento de transformação moral e espiritual de cada ser humano na busca da fraternidade universal e da perfeição.


Bibliografia:

ÂNGELIS, Joanna (Espírito); psicografado por Divaldo Pereira Franco. Mundo regenerado. 1ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2023.

EMMANUEL (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

    

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita